Por Rosinha Martins | 21.10.2016 | Teve início na tarde de sexta, 21, na sede das Pontifícias Obras Missionárias, Brasília (DF), o 2º Seminário Nacional de Intercongregacionalidade. O evento reúne cerca de 73 religiosas e religiosos vindos de todas as regiões do Brasil para discutir os desafios, as esperanças e os benefícios da missão realizada em forma de rede.
Assumir a missão de maneira intercongregacional, significa que as congregações dispõem de religiosas que livremente formam comunidade com Irmãs de outras congregações para atender os desafios e as emergências da missão. “No sentido amplo, ela é a partilha dos carismas e o fortalecimento da Vida Religiosa Consagrada, que se inicia nos primeiros períodos de formação para Vida Religiosa e tem continuidade com a formação permanente. As Conferências dos Religiosos têm proposto programas para intensificar este”, informou a coordenadora do seminário e assessora executiva do setor missão da CRB Nacional, Irmã Maria de Fátima Kapp, Ssps.
O tema do Seminário, ‘Intercongregacionalidade: sinal profético da missão da Vida Religiosa Consagrada’ e lema ‘Quando sou fraco, então é que sou forte (2Cor 12,10)’, conta com a assessoria do padre Valentim Fagundes de Meneses, msc. Para ele o evento tem como primeiro objetivo despertar o encantamento de cada um e cada uma pela intercongregacionalidade. “Esse encantamento nasce do amor e da paixão pela consagração. Quando a pessoa está convencida da sua consagração e do carisma pode se abrir ao encontro com outros carismas”, afirmou.
De acordo com Menezes a intercongregacionalidade é uma retomada da inserção. Esta tem tudo a ver com a saída proposta pelo Papa Francisco: saída ao encontro dos pobres, lá onde existem as mulheres maltratadas, os povos nômades fugindo da guerra, onde estão os gritos mais fortes, como em Êxodo que recorda que Deus escuta, sente e envia concretamente.
No que refere aos conflitos e crises existentes na Vida Consagrada sobre a missão e a inserção, o assessor garante que a missão é intrinsecamente inserida. “Nem tudo é missão, por exemplo neste momento eu não estou na missão. Sou provincial e animo os meus irmãos e as missões da minha congregação. Concretamente não estou na missão”.
A missão tem uma direção, um lugar concreto, acrescenta. “Ela é e se dá onde tem os gritos concretos do povo de Deus na história. A questão da vida consagrada com a inserção é que ela está na linha da gratuidade e a Vida Consagrada se desviou, muitas vezes, com a mentalidade capitalista de produção”.
Esse tipo de mentalidade leva a um desvincular-se. Todo carisma é Jesus e ele dirá com toda clareza que o Filho do Homem não tem onde recostar a cabeça, que se faz pobre e aquele que se faz pobre pode obedecer a Deus que é sua riqueza e fazer a entrega do coração que é o voto de castidade. “Quando a Vida Consagrada entra na mentalidade neoliberal capitalista ela perde a espontaneidade, perde a força da providência, perde a força da itinerância vai se engessando e perde o fundamental do seu carisma”, salienta. E a intercongregacionalidade, garante Meneses, é o profético que Deus está escrevendo hoje, a grande oportunidade de fazer com os nossos carismas se fortaleçam”.
Na tarde desta sexta, o trabalho de grupo provocou as religiosas e religiosos a usarem a criatividade para fazerem uma análise crítica da realidade onde vivem nas mais variadas regiões do Brasil. Um determinado grupo parodiou uma antiga canção “O mundo que eu quis”, de Frei Benedito Prado com a seguinte letra:
Não é esta ai a Política que eu quis…
Será que eu errei? Responda por quê?
Será que o amor, a justiça e a paz, não cabem mais neste mundo meu?
Se acaso é assim, é preciso mudar (bis).
Não é esta aí a economia que eu quis…
Será que eu errei? Responda por quê?
Será que o dinheiro é maior que o irmão?
Quando é que vai acabar essa corrupção.
Se acaso é assim, mude a direção (bis).
Não é esta ai a Igreja que eu quis…
Será que eu errei? Responda por quê?
Será que a Profecia deu lugar ao medo?
Ou será que o comodismo é o caminho escolhido?
Se acaso é assim, acorda Igreja.
Agora eu lhes digo o Reino que eu quis:
Pessoas libertas, fraternas e abertas, que fazem na vida o mundo feliz
Agora lhes digo o Reino que eu quis: Igreja em saída, com cheiro de ovelhas, que anda com o povo, com o povo que eu quis.
Agora eu lhes a vida que eu fiz: que é profecia, que é alegria, que vive movida no mundo que eu fiz.
Agora eu lhes os consagrados que eu quis: amantes dos pobres, vivendo em carismas, seguindo Jesus e é tudo que eu quis.
O Seminário de Intercongregacionalidade segue até a manhã do domingo, 23.
Participam do Seminário as missionárias scalabrinianas, Irmã Rosa Maria Martins Silva e Irmã Marileda Baggio.