Por Rosinha Martins – “Missão em Rede no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”, é o tema do encontro de formação de articuladores e referenciais das regiões e núcleos da Rede Grito pela Vida que se reúnem de 03 a 05 de junho, na Casa de Retiros Assunçāo – Brasília – DF.
O evento tem como objetivo contribuir na formação de lideranças da Rede Um Grito pela Vida, no intento de subsidiar para a animação e articulação de núcleos e regiões, em vista do fortalecimento dos núcleos e da dinâmica de organização em rede e da eficácia profética desse trabalho de enfrentamento da exploração e Tráfico de Pessoas.
Migração e Tráfico de Pessoas, Análise de conjuntura, o papel da liderança como missão em rede, a campanha Jogue a favor da Vida nas Olimpíadas de 2016 são eixos temáticos que serão aprofundados durante esses três dias.
A presidente nacional da CRB, Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, mad, saudou o grupo em nome da Conferencia e destacou que a missão da Rede Um Grito pela Vida e desafiante. ” É um trabalho diário, árduo de esclarecer, orientar e detectar as situações e acompanhá-las em vista da libertação”. Acrescentou, também o profetismo da vida consagrada nas mais variadas situações emergentes”.
A Rede, além das ações realizadas em todos o Brasil através de seus núcleos, preza também pela espiritualidade que as fortalece neste de trabalho de enfrentamento a esse crime que dizima famílias em todo mundo. Membro da coordenação da Rede, Irmã Anajar ( a esquerda), coordenou um momento de oração que levou o grupo, através da construção de um barquinho, refletir sobre a historia do Tráfico que no Brasil acontece, em muitos casos, através deste meio de transporte. A desconstrução do barco levou o grupo a aprofundar a importância de vestir a camisa da missão da Rede, a cada dia, com mais vigor.
As consagradas e consagrados são profetas do bem, promotores da vida, apaixonados por colocar Deus no coração das pessoas e das instituições que nos representam, responsáveis pela construção de uma sociedade justa e fraterna, uma sociedade com o rosto de Deus”, afirmou.
Por ocasião das Olimpíadas, o núcleo Um Grito Pela Vida representado pelo missionário scalabriniano, padre Mário Geremias, em parceria com a Pastoral do Migrante, o Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçú, membro da Rede no Rio, lançaram no dia 31 de maio, no Rio, a Campanha ecumênica contra o Tráfico de Seres Humanos. “Teve uma repercussão mundial, porque turistas estrangeiros levaram cartazes, panfletos de combate ao Tráfico e a intenção era essa mesma de chamar a atenção, conscientizar, comprometer. Apareceram bandeiras dos cinco continentes, o que deu a ideia de uma preocupação mundial com o tema”, afirmou padre Mário.
A diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, assessora no setor de Mobilidade Humana da CNBB e missionária scalabriniana, Irmã Rosita Milesi e a representante da Catholic Relief Service, Rogenir Almeida Santos Costa versou sobre o tema Tráfico de Pessoas e Migraçōes.
De acordo com Milesi, os migrantes e refugiados estão mais vulneráveis ao tráfico pois há uma relação com um sonho e esse sonho implica no movimento. Migração e trafico não são sinônimos, lembrou, mas no tráfico há sempre um deslocamento.
As vezes há algumas relações entre mobilidade e tráfico. Há momentos em que a situação do migrante, devido a circunstância dos desafios de novas realidades, cultura pais…, pode levar os traficantes a se aproveitarem da situação da pessoa e sutilmente enganá-los e traficá-los.
Milesi citou alguns exemplos de como isso acontece sutilmente, de como uma rede se infiltra para aliciar os que estão mais vulneráveis devido a situação de dificuldades, guerra que vivem nos seus países de origem.
A relação migração-refúgio-tráfico de pessoa não é uma relação que acontece sempre, porém, no tráfico há sempre um movimento migratório com intuito de exploração da pessoa. “O nosso trabalho pastoral é percebermos e estarmos atentas a estas questões e darmos forças e esperanças a essas pessoas. Essas circunstâncias também são importantes para nossa vida, dar o suporte necessário, claro denunciando o que tiver de denunciar, mas, encorajá-las, acolhê-las. A questão da dimensão pastoral tem uma dimensão muito grande nesse universo, que muitas vezes pode está ocorrendo na nossa vizinhança, próximo a nós”, enfatizou.
Membro da Catholic Relief Service e atuante na área dos direitos humanos, Rogenir Almeida Santos Costa apresentou aspectos do relatório global sobre trabalho escravo, realizado pela Walk Free.
O relatório apresenta dados sobre a escravidão moderna, muito comentado nas redes sociais nos últimos dias, que atinge 45.8 milhões de pessoas no mundo. Com relação à realidade Brasileira o relatório mostrou que o Brasil tem 161,1 mil pessoas submetidas à escravidão moderna.
Segundo a assessora, “precisamos olhar com cuidado para essa forma com que a realidade da escravidão está sendo vista. As estatísticas oficiais não contemplam a questão do trabalho infantil, das mulheres, das pessoas que não estão na situação de trabalho escravo fiscalizado. Muito importante a nossa capacidade e compromisso em ajudar a “ler à luz da fé e da consciência crítica” os dados apresentados em determinados”.
Ainda de acordo com Costa, o programa do Tráfico de Pessoas está situado num contexto de ausência de dados sobre esse fenômeno e são subnotificações que se dão pela desconfiança no sistema, o receio da deportação, vergonha e medo da humilhação, desconhecimento da sua condição de vítima e falta de informação.
No perfil da pessoa traficada aparecem as mulheres, adolescentes e crianças, vítimas mais frequentes, com uma forte conotação de gênero onde as mulheres adultas são as mais visadas. Já as pessoas do sexo masculino são mais identificados com o trabalho escravo.
Para Rogenir, “muitas pessoas se submetem a isso por falta de outra alternativa e porque, muitas vezes são provedores/as do sustento familiar, principalmente no que diz respeito a remessa de dinheiro para ajudar no sustento da família. Por isso a sujeição a condições, às vezes, degradantes e desumanas, deixando o migrante mais vulnerável”.
Alguns desafios à ação pastoral no acolhimento aos migrantes no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foram apresentados, como ampliar a visibilidade do fenômeno do tráfico de pessoa; promover diálogo entre as iniciativas existentes nos estados; construir redes de cooperação Brasil e outros países (origem-destino-origem); orientar os migrantes para prevenção; renovar quadros (novos agentes comprometidos e atuantes); viabilizar recursos financeiros; incidir por políticas públicas integradas e consolidar uma rede de acolhida e proteção.
Na ocasião, a pedagoga e funcionária da CRB Nacional, Eliana Veras falou sobre o projeto Viva a solidariedade, ação que pretende, durante os jogos olímpicos, despertar os sentimentos de união, solidariedade entre grupos, na superação dos problemas sociais, na promoção e formação da dignidade humana através do esporte e do lúdico. A ideia e somar com a Rede Um Grito pela Vida e fortalecer as ações de luta pela vida e dignidade da pessoa.
O encontro segue até o próximo domingo com momentos de partilha de experiências, análise da atual conjuntura do Brasil, reflexões sobre o papel da liderança na Rede e encaminhamentos relativos a Campanha Jogue a favor da vida 2016.