Com profunda alegria e entranhável ação de graças à amada Trindade, sob o olhar carinhoso da nossa Mãe Aparecida e em comunhão com a Igreja do Brasil, com a Conferência Latino-Americana de Religiosos (Clar), nós podemos exclamar com muita força e gratidão: CRB, Conferência dos Religiosos do Brasil, 70 anos de uma história de serviço de doação generosa, no cuidado, na defesa e promoção da vida, sobretudo de tantos irmãos e irmãs empobrecidos, vulneráveis, marginalizados em nosso país.
Estamos vivenciando o Ano Jubilar da nossa conferência, em preparação para o Grande Congresso da Vida Consagrada, a ser realizado em Fortaleza, Ceará, no coração do querido chão nordestino. E, para celebrar este evento tão especial, nós escolhemos quatro palavras muito significativas: memória, mística, profecia e esperança.
Memória agradecida. Retomando o caminho percorrido nesses 70 anos da nossa conferência, podemos confirmar a fidelidade amorosa de Deus, sustentando o nosso caminho discipular no seguimento de Jesus. Por isso, memória agradecida a Deus, Pai e Mãe e a tantas irmãs e tantos irmãos que construíram essa história…
Ir. Maria Neusa: Estamos iniciando a primeira fase das gravações do nosso documentário. Vamos falar com o Irmão Claudino sobre o mandato de 1983 a 1989. Inicialmente, abordaremos o primeiro mandato até 1986, seguido pelo segundo. Nossos temas observam uma sequência lógica, e, neste momento, vamos resgatar as memórias da época da presidência do Irmão Claudino.
Irmão Claudino Falchetto: Bom dia a todos os religiosos que estão acompanhando nossa conversa. Fui presidente da CRB de 1983 a 1989, sucedendo dois grandes presidentes. O Padre Marcelo Azevedo permaneceu, extraordinariamente, por nove anos na presidência, enfrentando uma crise grave, que transformou a CRB em uma agência comercial. Com esforço, resgatou os valores da CRB, focando na Vida Religiosa centrada na formação das novas gerações. Em seguida, o Padre Décio consolidou o trabalho do Padre Marcelo, promovendo reflexões sobre a Vida Religiosa em todo o Brasil. Na minha gestão, busquei a expansão, sendo o primeiro Irmão Marista a assumir a presidência, rompendo com a tradição de padres. Isso reflete influências das opções do Vaticano e de Delid Puebla…
r. Maria Neusa: Esse foi um período de transição. Conta-se a história de que houve muita luta, e foram destacadas apenas três assessoras executivas, que a ajudaram nesse processo de transferência. Fale-nos a respeito!
Irmã Márian Ambrósio: Com certeza! Foi um momento muito intenso. Eu não estava na assembleia que me elegeu, não era provincial, porque, para ser presidente da CRB, é necessário ser ex-provincial. Foi a minha provincial da época, Irmã Diva, que respondeu sim, sem me perguntar. Foi uma grande surpresa! Eu era assessora dos Bispos do Brasil, morava em Brasília, e a primeira tarefa concedida foi essa transferência. Eu conhecia a CNBB, conhecia o Centro Cultural Missionário, que foi quem nos socorreu ali. Fui eleita na ausência da assembleia, muita gente não me conhecia, eu estava morando na Alemanha, e foi uma surpresa grande. Acho que, pelo meu temperamento, gosto de surpresas. Não gosto muito de me repetir ou de fazer coisas assim. Como a Irmã Diva tinha respondido que sim, eu aceitei assim, na santa inocência…
r. Maria Neusa: Iniciando a gravação com o Padre Edênio Valle, expresidente da Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil, no mandato de 1989 a 1992. Padre Edênio, quais são as lembranças dessa época durante o triênio?
Padre Edênio Valle: Em primeiro lugar, quero expressar minha gratidão à Vida Religiosa no Brasil, especialmente àqueles que atualmente lideram, orientam e dão direção à caminhada dos religiosos e religiosas do Brasil que adentram uma fase definitivamente pós-moderna. É uma alegria estar com todos vocês, e agradeço sinceramente. Gostaria de começar destacando três pontos importantes. Durante meus estudos de Teologia na Alemanha, aprendi que alguns teólogos da Idade Média afirmavam que toda boa teologia, todo olhar teológico perspicaz sobre a realidade, uma época ou um problema, exige que o teólogo tenha dois olhos, um voltado para frente e outro para trás (unum in ante, alterum in retro). Ao celebrarmos o septuagésimo aniversário da CRB, agradeço pela sensibilidade dos organizadores deste encontro festivo, e instigo todos a adotar esse olhar retrospectivo e prospectivo…
Ir. Maria Neusa: Irmã, estamos resgatando a memória do seu mandato, de 2016 a 2019. Nesse triênio, tinham como horizonte que, nesse processo de transformação, conscientes da crise política, ética, social e econômica no Brasil, acreditando que Deus está fazendo novas coisas, a partir de Isaías 43. Iluminados pela Trindade, em comunhão com a Igreja, em sintonia com a Clar e com todos os outros jeitos de fazer a evangelização, vocês tinham algumas prioridades, mas se basearam muito em “eis que estou fazendo uma coisa nova!”. Quais as memórias do porquê desse objetivo e a memória missionária que tiveram na época desse mandato?
Irmã Maria Inês: Me lembro muito bem da preparação e da assembleia, e depois da realização e da conclusão deste lema e suas prioridades. Então, o que era muito presente entre nós, como Vida Consagrada na coordenação nacional, era exatamente isso; o Espírito estava suscitando passos para a Vida Consagrada no sentido de ser uma presença libertadora, consciente, em favor da vida. E que, às vezes, nós não estávamos enxergando o que o Espírito estava suscitando, porque, em cada gesto, em cada palavra e ação dos religiosos e religiosas, o Espírito está realizando coisas novas, e, às vezes, nós não estávamos vendo toda ação e toda presença da Vida Religiosa no Brasil. Então, eu me recordo muito bem que o profeta Isaías fala: “Olha, estão acontecendo coisas novas, que podem ajudar a transformar a realidade, vocês não estão vendo e não estão investindo forças naquilo que o Espírito está suscitando para a Igreja, para a Vida Consagrada, para o mundo de hoje”. Então, nesse sentido, nasceu a escolha desse lema do profeta Isaías…
Ir. Maria Neusa: Estamos gravando sobre o mandato de 2014 a 2016, no qual o senhor era o presidente da Conferência Nacional dos Religiosos. O que o senhor recorda sobre o plano trienal das principais atividades que a conferência desenvolveu na sua gestão?
Irmão Paulo Petry: Sim, eu fui presidente, mas por um período bem curto. Depois fui eleito Conselheiro Geral e tive de ir para Roma. Graças a Deus, a Maria Inês estava aqui como vice-presidente e fez um mandato maravilhoso. Recordo que, nesse tempo, celebrávamos os 70 anos da CRB, um ano jubilar. Fazíamos memória da história da CRB com gratidão aos profetas do passado e do presente. Celebrar a memória nos comprometia a avançar com esperança, alegria, e continuar sendo profetas. O foco central continuava na questão de estar próximo daqueles que necessitavam, inspirados pela Clar (Confederação Latino-Americana de Religiosos e Religiosas), que trazia o grito de ouvir a Deus onde a vida chama. Lembro-me da rede “Um Grito pela Vida”, que teve um impulso grande nesses anos. Tínhamos irmãs trabalhando, principalmente, na conscientização contra o tráfico humano, e, em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil, lançamos a iniciativa “Jogue a favor da vida”…
A Conferência dos Religiosos do Brasil foi fundada no dia 11 de fevereiro de 1954, no Rio de Janeiro/RJ, durante o Congresso Nacional dos Religiosos.
A CRB Nacional é uma organização religiosa de pleno direito canônico , tendo seu estatuto aprovado pela Sagrada Congregação dos Religiosos, através do Decreto nº 01561/55.