Por Rosinha Martins |30. 121. 2015| A Comunidade Islâmica de Brasília, recebeu no último dia 30 de novembro, na Mesquita do Centro Islâmico do Brasil, na Av. W5, 212 Norte, a visita da Família Franciscana do Brasil, representada pelo presidente, frei Éderson Queiroz, OfmCap, religiosas, religiosos e leigos franciscanos.
A Família Franciscana foi acolhida pelo Sheikh Mohamed que os introduziu na Mesquita, em seguida conduziu o grupo a um escritório onde, agradecido pela visita, – a qual ele considerou uma surpresa, – ofereceu a cada um o Alcorão e o livro ‘Mensagem do Islam’ que trata das normas que regulam a conduta moral e religiosa de seu povo.
Na ocasião, frei Éderson direcionou uma carta a toda comunidade na qual narrava as razões da visita. “Os atentados ocorridos na França e em vários outros países nas últimas semanas, assumidos pelo ‘Estado Islâmico’, atingiram não apenas as vítimas diretas destas barbáries, mas feriram também toda a Comunidade Islâmica, uma vez que esta, mais uma vez, de modo superficial e irresponsável, teve seu nome associado ao fundamentalismo que incita ao ódio e à violência”, diz trecho da mensagem.
Esse ato de solidariedade, segundo o presidente da Família Franciscana, se inspira em Francisco de Assis que há 796 anos atrás viajou em visita ao Sultão do Egito, Malek-al-Kamil, o que resultou numa relação de fraternidade e abriu caminho para a missão Franciscana em países muçulmanos. “Em 1219, num momento de extremo confronto entre o Cristianismo e o Islã, superando o senso comum e rompendo as barreiras do fanatismo, propondo-se ao diálogo e como portador da paz, São Francisco experimentou a hospitalidade islâmica, oferecida pelo sultão do Egito, Malek-al-Kamil. Por isso, nas sendas trilhadas pelo Pobrezinho de Assis, queremos expressar o respeito e a solidariedade de toda a Família Franciscana no Brasil à Comunidade islâmica brasileira, que também sofre neste momento”, conta na carta.
Em um momento de conversa na casa dos frades, após a visita, eles contaram à Assessoria de Comunicação da CRB Nacional o que motivou Francisco viajar ao Egito em visita ao Sultão e os resultados da mesma. “Na verdade Francisco vai ao Egito na intenção de converter os muçulmanos e na expectativa de morrer mártir. Quando chega lá e conversa com o Sultão, a conversa toma outro rumo. O Sultão diz a Francisco: “Você não me converteu, mas ganhou um grande amigo”, relataram os frades.
Ainda, de acordo com os freis, foi esse encontro de Francisco com o Sultão que abriu as portas para a Igreja em países especificamente muçulmanos. A isso se deve a presença deles, por exemplo, no Egito, em Jerusalém e outros países árabes.
No encontro, o Sheikh e a Família Franciscana ficaram acordados de que em 2019 se reunirão para celebrar os 800 anos da visita de Francisco ao Sultão.
Leia o diálogo entre Francisco e o Sultão.
O seguinte diálogo poderia ser parte de uma reflexão baseada em uma história do encontro de São Francisco com o Sultão Malek-el Kamil em Diametta em 1219. Em diversas fontes franciscanas temos a visão do amor incondicional que São Francisco tinha por todos. Este encontro contém uma visão do amor incondicional que São Francisco tinha por todos.
(Para o seguinte diálogo entre Francisco e o Sultão se predispõem dois pódios. A leitura do texto deve ser natural e não pomposa ou informal).
Sultão: Estou surpreso que conseguiu superar as linhas de frente para chegar aqui, homem santo.
São Francisco: Também eu estou surpreso de conseguir te ver Senhor Sultão. Pensei que estavas a sofrer a sorte dos mártires.
Sultão: Te garanto que não é impossível.
São Francisco: E o martírio chega a um grande custo!
Sultão: Por desgraça, ambos temos uma grande tradição de mártires. Tenho aprendido que o martírio nunca é uma virtude em si mesmo.
São Francisco: Feito. Irmãos estão buscando convencer a vocês e ao vosso povo por mais de 5 anos de ceder a Fé em Jesus Cristo. Em Marrocos, faz mais de 3 anos que alguns pagaram o preço, por isto.
Sultão: Aqueles que escutaram, eram terrivelmente insistentes na conversão dos marroquinos. Provocando uma sensibilidade das pessoas que, ao final obtiveram o martírio que buscaram.
São Francisco: É precisamente neste ponto que os mártires raramente têm o prazer de ter um grande diálogo com os seus adversários. Se conversarem entre si aprenderão a respeitar-se mutuamente. O martírio seria tão arcaico assim como a construção das pirâmides.
Sultão: Porque veio dialogar?
São Francisco: Não vejo outro modo de chegar a um entendimento, e tu?
Sultão: Mas para tentar converter-nos à verdadeira Fé. Que coisas temos dito?
São Francisco: A história de sua sabedoria procede. Esta é amiga do imperador que tem sede de conhecimento e da verdade. Sei que tem muito a me ensinar.
Sultão: Então não veio para ensinar e sim aprender?
São Francisco: Existe melhor professor do que aquele que está disposto a aprender?
Sultão: Por ser um pequeno homem me parece que você tem uma certa experiência sobre a sabedoria.
São Francisco: Não estou seguro. Vim aqui e tenho milhares de perguntas: por que os soldados foram tão amáveis comigo? Por que permitiram atravessar todas as barreiras? Por que os presos oraram ao longo do trajeto? Porque tinha grãos num colar em suas mãos? Por que se inclinaram diante de mim com reverência? Sua Fé me parece ser tão genuína!
Sultão: Sim, Sim, entendi. Tens um monte de perguntas.
São Francisco: É o que me atraiu até aqui. Uma pessoa sem perguntas, é uma pessoa que não tem olhos para ver.
Sultão: Pelo contrário sempre tenho pensado que vocês, os cristãos pensam que tem todas as respostas, ainda que, supor é difícil e arrisca o fanatismo hipócrita
São Francisco: Eu direi que a vossa resposta tem sinais de humildade, uma virtude muito querida para mim. Para que construir respostas simples a perguntas complicadas?
Sultão: – Estamos lutando para defender nossas terras santas da profanação.
O problema é que vocês creem que somos nós que as profanamos, se bem que estamos cientes da ideia de que se pode recuperar o controle e perpetuar a profanação. E a batalha continua! E na teoria, com suficientes reservas de dinheiro e ódio, se poderia continuar esta batalha, ante a um pagão atrás do outro. Quem é pagão na realidade? Até que nenhum permaneça à exceção de nós dois. A este ponto, de quem será a vitória?
São Francisco: Que benefícios terá o ganhador?
Sultão: Se ganhar, então estarei seguro de que Alá será louvado e que todas as pessoas adorarão somente a ele.
São Francisco:– Então, me parece que neste caso não deseja a paz, mas só a vitória.
Sultão: E qual a diferença? Se pode por fim a este terrível fratricídio, por que isso é o que é. O sabe? Se podemos parar esta matança sem sentido, teremos finalmente a Paz.
São Francisco:– Porém Sultão, não é possível que em sua mente não creia que a Paz é uma simples vitória, que uma “Vitória” pode eliminar os conflitos, e sabe bem que levará somente ao ódio e contínuas tentativas de vingança, e não à Paz. Você sabe que não há nem paz e nem vitória quando uma das partes “ganha”.
Sultão: Vejo que tenho diante de mim um inimigo maior do que devia ter imaginado!
São Francisco: Tens de frente só um irmão contra o qual combates.
Sultão: Se somente podemos atuar com consciência de que todos procedem do mesmo criador. Se somente podemos ver a um e a outro através dos olhos do Grande Santo.
São Francisco:- Agora tuas palavras têm sentido. Finalmente deixou de falar de vitórias e está começando a falar da realidade.
Sultão: Realidade? O sangue que vejo a cada dia é real, o correr dos filhos, das esposas e dos homens verdadeiros. Ainda que seus pensamentos antes da morte eram de ira ou de raiva ou de justiça, posso assegurar que não foram estes seus últimos pensamentos. Durante a vida se deslizava fora e deve se perguntar: A que preço? A realidade é uma palavra proibida no campo de batalha. Se houvesse tido conta da realidade, nós não teríamos encontrado jamais dado estas trincheiras infernais, por que tudo seria dirigido da casa, daqueles que amamos e queremos preservar de cada mau, e do qual nos preocupamos.
São Francisco: Um cuidado precário e enganoso, se me permite Sultão: Conversar para que? De que coisa? Por quanto tempo? Se não estamos em Paz com nosso Deus e não conhecemos a sabedoria do Amor ao próximo, a todo nosso próximo, não teremos jamais a segurança que vem só do amor a Deus e ao próximo. Aprendi que a segurança chega só quando eu não tenho segurança, quando eu vivo o serviço ao próximo, através dos outros que desejam.
Sultão: Existe algo profundo neste altruísmo. Quando crescerá nossa consciência na ternura a tal ponto que teremos ações para evitar a miséria humana, no lugar da vingança das nossas consciências?
São Francisco: Ao menos vejo que tu e eu temos um objetivo comum: manter Deus fora deste terrível combate em nome do Onipotente!
Sultão: Para que glorificar nossas batalhas, dizendo que algumas são ordens divinas?
São Francisco: Ao menos agora estamos falando de uma Paz verdadeira…
Sultão: E da verdadeira vitória.
São Francisco: Quem ganha se o nosso Deus é derrotado?
Sultão: E Alá, pode afirmar uma vitória quando seus filhos e filhas são sacrificadas e estão agonizando?
São Francisco: Veja, você também tem perguntas. Se nosso somente nosso mundo tivesse a coragem de viver estas perguntas. Se o que você reconhece a meu Senhor e Mestre, como um grande profeta, e sei que sabe apreciar as santas palavras que deixou a menos que não morremos nós mesmo para viver para Deus e a nós, a menos que uma semente não cai na terra e morre, caindo no chão um grão de trigo é condenado a não dar frutos.
Sultão: E se pelo contrário morre, realmente nasce uma vida nova.
São Francisco: Sim. O amor não morreu na cruz, simplesmente decidiu lutar, dando a luz a um amor sem fim.
Sultão: Um amor verdadeiro e eterno, amor do Criador, sustentando cada partícula preciosa do que o Criador concebeu.
São Francisco: E o criado não se pode resumir, talvez em um palavra? Uma realidade: a Paz, um dos nomes de Deus.
Sultão: Exato. Nosso diálogo me ajuda a crer que a Paz é possível. Por isto seja louvado Alá”.
São Francisco: Sim, falar contigo me tem feito conhecer a bondade do Senhor, que é o bem maior que pode imaginar. Gostaria muito de fazer umas perguntas que abrem os horizontes impensados e permitem encontros inesperados, como o de ter conhecido uma pessoa valiosa como você.
Sultão: São poucos os homens dos quais posso escutar esta palavras e confiar em sua sinceridade.
São Francisco: Sultão, sou um homem pobre. Não tenho nada para te oferecer senão a minha honestidade
Sultão: Então te agradeço com toda humildade. Se não devia ter dado permissão de chegar até a mim neste acampamento, nesta noite, nunca havia compreendido como é precioso um cristão.
São Francisco: Quem sabe o que podemos descobrir quando nos deixamos conhecer?
Sultão: E que coisa significa conhecer, se não fazer uma viagem na qual todos podemos fazer, quando entramos no mistério de Alá. Sempre mais do que cremos é possível, e sempre menos do que supomos?
São Francisco: Sim, existe um grande mistério e grandeza do nosso Bom Deus. O louvor surge espontâneo na boca daqueles que reconhecem a complexidade e simplicidade de nosso Deus.
Sultão: Que assim seja, juntos louvemos e conheçamos ao nosso bom e Misericordioso Deus!
(Texto encontrado nas Fontes Franciscanas).