Texto: Frei Luiz, FMM
O 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) realizado em Rondonópolis-MT reuniu cerca de 1,5 mil representantes de CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, bispos, lideranças de organismos ligados à Igreja Católica, a outras denominações cristãs e expressões espirituais, movimentos sociais e populares. Sob o tema “Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra”, o encontro promoveu reflexões e debates sobre a realidade social e eclesial do Brasil e da América Latina, destacando a importância da espiritualidade ecológica e da atuação das CEBs na construção de uma sociedade justa e sustentável.
O Teólogo e Assessor Pastoral da Ampliada Nacional das CEBs, Celso Carias, ressaltou que agora é o momento de descer do monte e ir para as nossas bases, referindo-se ao trecho bíblico da “transfiguração” (Mt 17).
As atividades do encontro foram distribuídas em plenárias, realizadas nas comunidades sediadas em paróquias de Rondonópolis, que receberam nomes relacionados às questões ecológicas, como “Casa Comum”, “Amazônia”, “Caatinga”, “Cerrado”, “Pantanal”, “Pampa” e “Mata Atlântica”. Isso permitiu um debate enriquecedor sobre a realidade social e eclesial do Brasil e da América Latina, além de valorizar a preocupação com o meio ambiente. Um aspecto relevante desse encontro foi a presença ativa da vida religiosa, que desde os primórdios da Igreja sempre foi uma força nas comunidades eclesiais de base. Sua participação no evento ressaltou que a vida religiosa é um sinal de profecia no meio do povo de Deus, e ela se fez presente nas plenárias, contribuindo para debates sobre temas como sinodalidade e poder na Igreja, dimensão político-social, economia de Francisco e Clara, ecologia integral e educação.
Irmã Maria Monteiro, Coordenadora da Regional de Cuiabá ressalta a importância de congregar, afirma ela, “foi muito rico ver o rosto da vida consagrada nas comunidades eclesiais de base. O intereclesial se torna uma benção de Deus com a presença dos consagrados. A CRB é marcada por uma presença em todas as realidades, e nestas realidades, aprendemos mais do que ensinamos.”
O método VER-JULGAR-AGIR, utilizado no encontro mostrou-se eficaz ao fortalecer a leitura popular da Bíblia e a dimensão sociopolítica da espiritualidade. Essas reflexões resultaram em compromissos concretos dos participantes, como valorizar a alimentação saudável, a agricultura familiar e a agroecologia, e lutar contra a LGBTfobia, o racismo e o machismo.
Frei Luiz Eduardo, FMM, que mora em Várzea Grande – MT atua como Agente de Pastoral na Paróquia Nossa Senhora do Pantanal ressaltou a importância da presença da igreja nas bases da sociedade. Ele acrescenta dizendo que, “estamos tentando ser uma igreja em saída, mas, para sair é preciso entrar primeiro, e o intereclesial foi o momento de entrar na igreja, apresentar a Ela os desafios e alegrias, entrar para beber de uma boa sinodalidade e se alimentar de uma boa teologia, para assim, sair para as galiléias de todo o nosso Brasil e América Latina, e lá lançar a boa semente para todos”.
A presença de delegados internacionais de países como Polônia, Portugal e Bolívia destacou o alcance e a relevância do encontro para além das fronteiras nacionais. Isso evidencia que as CEBs são um espaço de encontro e união entre diferentes culturas e espiritualidades, ampliando sua influência e missão transformadora. Ao se aproximarem das questões sociais e ecológicas, as CEBs reafirmam seu papel como agentes de transformação, seguindo os ensinamentos de amor, solidariedade e compaixão presentes na mensagem cristã. O encontro enfatizou a necessidade de colocar em prática os aprendizados e debates, atuando no dia a dia das comunidades e trabalhando em prol de uma sociedade mais fraterna e igualitária.
Ir. Mara Buttini, IDP, destaca que no 15º Intereclesial, vivemos um Kairós, o tempo de Deus situado num momento histórico de muitos impasses e conflitos, em nossos cenários. Por isso vibração e seriedade chegaram juntos e permaneceram misturados nesta unção dos 4 dias. Para ela o que viu e ouviu a fez sentir o sopro da Divina Ruah movendo pessoas e comunidades deste chão brasileiro. Disse que se impressionou com as liturgias proclamadas por rostos e ritmos de povos indígenas e de pretos imponderados com seus ornamentos, ritos e gingados, além do protagonismo das mulheres que, em suas falas e apresentações proclamavam vida para todos e igualdade de gênero em todos os espaços e consciências.
O próximo encontro, a 16ª edição do Encontro Intereclesial das CEBs no estado do Espírito Santo em 2027, certamente continuará esse importante movimento de esperança e ação em prol de um mundo melhor.
