Usina Nuclear no Nordeste: o lado sujo da chamada ‘energia limpa’

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Por Rosinha Martins| 08.07.14| A Universidade de Brasília sedia até o próximo dia 10, o Fórum Social Temático Energia, com o tema “Energia para quê, para quem e como?

Uma das razões da escolha do tema é o fato de que a construção de grandes hidroelétricas e usinas nucleares, como também, o uso de termelétricas com uso de combustíveis fósseis, o petróleo e o carvão atendem às necessidades da mineração em detrimento da população que se vê atingida nos  seus valores, na saúde, no ambiente e na cultura.

De acordo com a organização, o evento tem como objetivo refletir, com urgência e de forma ampla sobre os problemas que estão sendo criados pelas matrizes energéticas utilizadas tanto ponto de vista social como econômico e ambiental e, mobilizar a sociedade civil em vista de uma mudança efetiva destas matrizes.

A chamada energia limpa implantada pelo governo brasileiro, principalmente em cidades do Nordeste devido às boas condições naturais para tal, tem causado grandes debates na sociedade por causa dos seus impactos.

Por energia limpa se entende aquela fonte de energia que não lança poluentes na atmosfera e que apresenta um impacto sobre a natureza somente no local da instalação da usina e são elas: a energia eólica, solar, maremotriz, geotérmica, hidráulica e nuclear.

Porém para os povos que são atingidos pelos efeitos dessas obras, a realidade é bem outra com um preço muito alto para o ambiente e para a vida humana.

O projeto da  Usina  Nuclear de Itacuruba na mesorregião do São Francisco, em Pernambuco, assombra os moradores da região que se sentem desrespeitados pelo governo brasileiro que não tem levado a sério as verdadeiras e reais consequências da construção de uma usina atômica em terras brasileiras.

Lucélia Cacique Pankará,  da tribo dos  Pankarás, casada, 4 filhos,  vive em Itacuruba e é uma defensora das causas sociais e ambientais. Ela  sonha com a demarcação das terras indígenas, exatamente aquelas que foram sorteadas como espaço privilegiado para a implantação da usina. “A dificuldade de demarcação da nossa terra, é um grande desafio porque o governo tem interesse de instalar uma usina nuclear nas áreas que nós reivindicamos”, disse.

Lucélia contou também que por causa das suas lutas constantes contra o projeto, ela, seu esposo e outras lideranças de frente  têm sofrido frequentes ameaças de morte e “estão com a cabeça a prêmio”.

Segundo Lucélia, as ameaças chegam através de cartas que são jogadas dentro da sua casa, recados enviados por terceiros. Imediatamente procuraram pelo Ministério Público e pediram proteção. Foi-lhes oferecida a proteção Provita que permite ao ameaçado mudança secreta de lugar.

“Não, dissemos. Se é para morrer, queremos morrer lutando”, relatou Pankará. Todos os ameaçados recebem proteção do Departamento de Direitos Humanos do Ministério Público.

A maior expectativa de Lucélia Pankará com este Fórum é que os movimentos se unam em vista da convergência de forças em vista da mesma causa. “Somos fracos porque lutamos separados. É chegada a hora de lutarmos todos juntos, pois se trata de uma ação do de governo que interliga projetos que impactam todas as áreas do Brasil”. E concluiu: “Esta usina tem um impacto negativo sobre nossas terras, teremos que sair de lá, pois estamos na parte da barragem que é a represa e a água que resfriará as turbinas serão consumidas por nós. Trarão uma bomba atômica para a nossa realidade”.

Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e membro do grupo de medicina “TRAMAS” (Trabalho, Meio Ambiente e Saúde), Raquel Rigotto é defensora da chamada ‘justiça cognitiva” ou seja, o direito de acesso das comunidades atingidas ao conhecimento científico. “A ciência tem  conhecimentos que são úteis para a luta, o  que requer  envolvimento e diálogo da universidade com os saberes locais destes povos para que eles também possam ajudar na construção deste conhecimento e na formação dos profissionais”, afirmou.

Para a professora, a universidade enfrenta muitos desafios neste campo, pois, a seu ver, essa não é a orientação do CNPQ para as universidades. “Temos estímulos, recursos financeiro, editais de pesquisa para produzir inovações tecnológicas úteis às cadeias produtivas deste modelo de desenvolvimento. A mesma expansão do capital sobre os territórios dos povos do Brasil é também uma expansão sobre o território da universidade na medida em que o conhecimento científico e a formação de profissionais é muito estratégica para o capital hoje”, enfatizou.

Rigotto ressaltou ainda,  que o meio universitário está subordinado a uma ética produtivista, assim como nas fábricas os trabalhadores tem que cumprir metas e produzir  um determinado número de peças por dia, “É  essa ética ligada a uma perspectiva muito opressora,  no sentido de que não devemos perder tempo com atividades de inserção social e de extensão com as necessidades de conhecimento dessa maioria vulnerabilizada da sociedade”.

Sobre os impactos da  usina nuclear no meio ambiente, Rigotto, destacou os danos que o urânio, principal técnica para produção de energia,  causará para a população brasileira por milhões de anos. São as pastilhas de combustíveis nucleares que promovem o funcionamento de uma usina nuclear. Essas pastilhas são produzidas a partir do urânio. O processo de mineração no Ceará, em Santa Quitéria, produzirá o dobro do metal produzido em Caetité, sul da Bahia, o que será equivalente a 1.600 toneladas  de urânio ao ano com a pretensão de término da exploração em 20 anos.

“Isso nos assusta muito, porque os alimentos e o solo serão atingidos”. O urânio se cola à raiz das plantas. Logo, mandioca, batata, cenoura e outras plantas do tipo estão condenadas à contaminação. O enfrentamento está sendo feito através da associação antinuclear do Ceará, composta pela Caritas, Comissão Pastoral da Terra (CPT), núcleo TRAMAS da Universidade e as juventudes da cidade.

Segundo o grupo dos atingidos por este modelo de desenvolvimento: pescadores, quilombolas, sertanejos, indígenas, ao passo que o governo faz a adesão de apoiar em território nacional esses projetos de empresas internacionais, que visam privilegiar uma minoria,  estão virando as costas para o seu povo, para o meio ambiente, para a cultura, para a nação brasileira e, acima de tudo, sem o mínimo de diálogo necessário com os atingidos por estes processos.

O Fórum Temático Energia continua até o próximo dia 10, quando as atividades serão encerradas no Parque da Cidade.

Fonte: CRB Nacional

 

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