Fazer memória do movimento ecumênico é tarefa fundamental para evitar o conformismo e construir caminhos de unidade na diversidade. Essa preocupação está na pauta dos diálogos realizados durante o Simpósio Ecumenismo e Missão – Testemunho Cristão em um Mundo Plural, promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
O evento acontece neste final de semana, dias 21 a 14, em Vargem Grande Paulista (SP).
Entre os temas tratados, nesta sexta, 22, padre Oscar Beozzo, do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação (CESEEP) falou sobre a dimensão Ecumênica do Concílio Vaticano II, em especial no documento Unitatis Redintegratio, sua recepção e atualidade no Brasil. Uma “flor de inesperada primavera”, como foi considerado, “o Concílio mexeu com a Igreja católica e com as outras igrejas cristãs. O primeiro impacto foi a unidade dos cristãos”. Na sequência o historiador apresentou as principais figuras que garantiram a dimensão ecumênica do Concílio e descreveu o espírito que reinava em suas quatro sessões entre 1962 e 1965.
Já no discurso de abertura, o papa João XXIII pediu que se “evitassem condenações e anátema”. Ele pediu “uma serena apresentação da verdade”. Ao procurar responder às “exigências do nosso tempo, o evento revela-se uma busca ecumênica pela unidade dos católicos, dos cristãos, dos fiéis de religiões não cristãs e de todo o gênero humano”.
O teólogo notou também que, os observadores de outras Igrejas cristãs eram 168, dos quais 59 vindo das Igrejas orientais. No decorrer do evento formaram-se alguns grupos “informais”: o “Ecumênico”, o da articulação de teólogos e peritos, e o grupo “Igreja dos Pobres” que escreveu o “Pacto das Catacumbas”. Havia ainda o grupo da articulação conservadora da minoria conciliar. Além de teólogos e peritos, participaram alguns leigos e mulheres na qualidade de observadores.
No final dos trabalhos, havia uma preocupação quanto à recepção das suas decisões, pois “é sempre mais fácil fazer o Concílio do que de verdade tentar concretizá-lo”, disse padre Beozzo. Através da autêntica ação ecumênica se pretendia “levar o povo de Deus a uma maior comunhão de vida em Cristo”.
Na opinião de Beozzo, o diálogo ecumênico passa pela “conversão do coração que é atitude comum, o conhecimento mútuo e o ensino ecumênico”. Segundo ele, nos estudos da teologia, da bíblia ao dogma passando pela história, deveriam ser apresentados de maneira ecumênica. Muitas vezes, “brigamos por coisas pequenas e deixamos de lado o essencial. É importante enfatizar o que une ao invés daquilo que nos separa”, ponderou o historiador e questionou. “No essencial estamos em profunda comunhão então, por que não superamos as pequenas coisas nas quais a gente ainda não está em comunhão e muitas delas são legítimas expressões que devem ser acolhidas dentro da Igreja na diversidade”.
Sobre o documento conciliar Unitatis Redintegratio, Beozzo avalia que este significou “apenas um começo. Precisamos dar passos concretos. Temos muito caminho a percorrer em favor da unidade”, complementou.
Os desafios do ecumenismo
Em seguida, partindo do resgate histórico da Conferência do Nordeste (1962) e do Concílio Vaticano II, o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco em Pernambuco, Dr. Joanildo Burity trouxe questões referentes ao momento atual do movimento ecumênico. “Fazemos memória para não corrermos o risco de esquecer. Acontecimentos mudaram a vida das pessoas e a memória ajudou a sustentar as mudanças. Devemos evitar o conformismo”, salientou o historiador ao recordar eventos e documentos que antecederam a Conferência do Nordeste.
Ao comentar sobre a participação dos cristãos na sociedade, professor Burity citou o teólogo presbiteriano Richard Schaull, quando afirma: “o ponto básico não é se os cristãos conseguem formular certos valores com os quais os não cristãos possam concordar, para base de uma ação comum; é, ao invés disso, se os cristãos conseguem ou não perceber e responder às dimensões fundamentais da realidade, a qual tanto cristãos como não cristãos precisam levar em conta ao tomarem suas decisões éticas”.
A fragmentação da geração ecumênica e de sua elaboração teológico-política; tensão mal resolvida entre “teologia social” e missiologia: “onguização” do movimento ecumênico, ecumenismo de cúpulas e descolamento eclesial; o impacto da pluralização: ideologias, identidades, diversidade religiosa, os impactos da globalização, são segundo professor Burity, algumas características da realidade atual. Além disso, percebe-se um grande crescimento de carismáticos e neopentecostais pouco propensos ao diálogo.
Diante do cenário atual, Joanildo Burity, argumenta que “não há futuro para o movimento ecumênico sem a participação dos carismáticos e dos neopentecostais. O grande desafio é como fazer isso”, finalizou.
Promovido pelo CONIC, em parceria com a PUC-PR e as comissões de Ecumenismo, Laicato e Missão da CNBB, o Simpósio reúne cerca de 100 pessoas entre leigos(as), consagradas e ordenadas nas diversas Igrejas cristãs, estudantes de teologia e convidados.