“Salvar vidas” é a marca mais evidente da presença missionária da Igreja no Brasil no Haiti, diz Irmã Maria de Fátima Kapp

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A irmã Maria de Fátima Kapp, missionária Serva do Espírito Santo e assessora executiva do Setor Missão da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), desde o 1º de junho de 2015 é uma das coordenadoras do projeto missionário intercongregacional Nazaré, desenvolvido desde 2010 no Haiti graças a uma parceria entre a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a CRB e a Cáritas Brasileira.

Neste tempo, a religiosa visitou cinco vezes as missionárias e a comunidade intecongregacional no Haiti pela qual já passaram 19 irmãs de 19 institutos e congregações religiosas. As visitas tiveram um caráter de fortalecimento da missão por meio da formação e da avaliação do projeto. 

Irmã Maria de Fátima em uma das visitas que fez à missão no Haiti. Fotos: arquivo pessoal.

Sobre a realidade do país, ela aponta o crescimento, nos últimos anos, da violência e pobreza de forma “assombrosa”. No país mais pobre da América Latina, a violência, aponta a religiosa, é estrutural. “Problemas como a falta de emprego, de oportunidades e a fome, frutos de uma crise sócio-política-econômica-humanitária, assolam o país”, afirma.

Na entrevista abaixo, ela fala sobre as marcas da presença missionária do Brasil naquele país.  Segundo ela, ao longo dos dez anos do projeto, as marcas são abrangentes e diversificadas na evangelização, educação, formação, em projetos de economia solidária e na saúde e nutrição da população. Salvar vidas, segundo ela, é o fruto mais evidente da presença da missão no Haiti que marcadamente tem um rosto feminino. A seguir, leia a íntegra da entrevista que ela concedeu ao portal da CNBB. 

Olhando ao longo destes 10 anos, o que podemos afirmar que são as marcas da presença missionária da Igreja no Brasil no Haiti?

Ao longo de dez anos, quase onze anos de da presença da Igreja do Brasil no Haiti, podemos afirmar que a partir dos eixos norteadores de atuação: Evangelização/Formação, Economia solidária, Saúde e nutrição, as marcas desta presença missionária são muitas, abrangentes e diversificadas.

1. Evangelização, educação e formação: neste eixo está integrada também a Educação, que se concretiza mediante encaminhamento de jovens, adolescente e crianças à Escola, providenciando recursos necessários e o acesso escolar. Esses estudantes são acompanhados pelas Irmãs, tanto em suas necessidades materiais, como no rendimento escolar e nutricional. Às mulheres e jovens proporciona-se alfabetização, por meio de oficinas.

  • Formação: humana, cultural, religiosa e lúdica (dança e desenho). Para as crianças pequenas que estavam sendo ameaçadas de abusos, por ficarem sozinhas em casa, foi criada uma brinquedoteca, com assistência de uma monitora e àquelas que necessitavam foi lhes proporcionado atendimento terapêutico.
  • Inserção na Igreja local: colaboração na capela Santo Tomaz (Bairro Corail) com os padres Scalabrianianos.
  • Infância Missionária: organizada pela Irmãs e reuniões semanais com celebração mensal (antes da pandemia).
  • Destaco a formação de lideranças (mulheres e jovens) comprometidas e atuantes. Amizades e colaboração diária de mulheres no Centro Social de Evangelização.
  • Mulheres que saem em visita e missão, com as Irmãs, para os locais mais afastados.
  • Jovens que se profissionalizaram, com a colaboração das Irmãs e conseguiram trabalho para seu sustento. Alguns foram contratados pelas Irmãs, para serviços de reforma e manutenção no centro de Evangelização e na construção do Centro de Nutrição.
  • Adesão da valores humanos-sociais-religiosos-relacionais das mães haitianas.
Religiosa acompanha oficina de produção de sandálias de couro para geração de renda. Fotos: arquivo pessoal.

2. Economia solidária: tem proporcionado cursos e a produção para a venda: bordado, com mulheres e adolescentes; corte-costura, artesanato, culinária, sabão líquido. Esses bordados e artesanatos são comercializados em vários países, além do Haiti: Brasil, República Dominicana, França, Itália e Estados Unidos.

3. Saúde e nutrição: a partir desse eixo foi constituído o grupo de pessoas idosas que recebem formação, atendimento e orientação para o cuidado pessoal. Grupo das mães e gestantes com acompanhamento e preparação para enxovais do bebê; atendimento às crianças desnutridas com a pesagem, encaminhamento médico, entrega da farinha enriquecida fabricação de xarope caseiro, pomadas, ervas. Desse grupo surgiram voluntárias que foram treinadas e prestavam auxilio às Irmãs.

Quais são, em sua avaliação, os principais frutos desta presença missionária?

Salvar vidas é o fruto mais evidente. Implantação da Pastoral da Criança tem sido fundamental, visto que desnutrição é severa. A Construção do Centro de Social e de Evangelização, pelas entidades mantenedoras do Projeto: CNBB e CRB Nacional, em 2013; a sua atuação e ampliação no decorrer dos anos. A Formação às agentes da Pastoral da Criança. A Construção do Centro de Nutrição com várias parcerias: congregações, Missão Belém, Paróquia da Alemanha e CRB Nacional. A residência das Irmãs no Bairro Corail Cesselesse e a mudança das Irmãs para esse local, inserindo-se na realidade do povo.

Quais os desafios, considerando a realidade atual do Haiti, para a continuidade desta missão agora em sua nova fase?

A violência estrutural. Sempre houve grandes manifestações, paralisações, medo, assaltos, sequestros, violência aos estrangeiros, etc. A falta de emprego, de oportunidades e a fome que assola o país. A crise sócio-política-econômica- humanitária. Parece que nos últimos anos a violência e a pobreza têm crescido de forma assombrosa. Faltam políticas públicos, não existem programas humanitários e sociais no país. As Instituições de Educação e de Saúde são particulares e remuneradas. Poucas missionárias que enfrentam o medo e se entregam à missão Ad Gentes, pelo Reino. Estamos com falta de religiosas na comunidade INTER. Os recursos financeiros escassos. A dificuldade de encontrar parcerias no país do Haiti. Cada instituição é muito solitária e as missionárias se sentem sozinhas. As missionárias estão expostas a vários tipos de riscos e ameaças. Encontrar congregações e religiosas para compor a comissão de coordenação para dar continuidade à missão Intercongregacional.

Celebração em Ação de Graças pela nova fase da missão

No próximo sábado, dia 17 de julho, às 11h, na capela Nossa Senhora Aparecida (sede da CNBB), uma Celebração Eucarística em Ação de Graças pela Missão no Haiti vai marcar a nova fase da presença da Igreja no Brasil naquele país, especialmente a conquista de uma nova residência para o projeto missionário. A celebração, a ser presidida pelo bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portela Amado, será transmitida pelas redes sociais da CNBB, CRB e demais parceiros.

Irmã Fátima com crianças do bairro Coral Cesselesse, onde se localiza a missão do Brasil no Haiti.

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