Por Rosinha Martins| 28.03.14| Religiosos e Religiosas de todas as regiões do Brasil e das regionais da CRB, se reuniram no Centro Cultural de Brasília, em Brasília, de 24 a 27 com o objetivo de realizarem a Assembleia Geral Ordinária da CRB Nacional, momento de diálogo e partilha entre coordenadores, assessores nacionais e regionais, sobre a realidade na qual está inserida a Vida Religiosa em todo o território nacional, conhecimento do plano trienal e as atividades que o contemplam e realizar treinamento técnico com o setor contábil e de projetos sociais da CRB Nacional.
Na partilha, os religiosos e religiosas apresentaram as alegrias e os desafios da Vida Religiosa Consagrada, na Igreja e na Sociedade. A missão dos religiosos é perpassada por problemas como as catástrofes naturais que deixam áreas imensas alagadas e as populações em situação de calamidades, como é o caso do Norte. Em São Paulo, o problema da falta de água; a escassez de vocações que dificulta a liberação de religiosos para assumirem serviços nas Conferências Regionais da CRB. Por outro lado, é marcante o profetismo, o sonho e o desejo de uma sociedade mais justa e solidária que faz com que milhares destes religiosos esqueçam de si próprios e deem as suas vidas a serviço do povo nas situações e regiões mais carentes e longínquas do pais, colocando em risco a existência.
Em Recife, religiosos enfrentam o problema do Tráfico de Pessoas
Débora Geovana Bezerra de Souza(à esquerda), é religiosa da Congregação das Irmãs de Santa Dorotea da Frassineti, há um ano de dois meses, e relata que os Religiosos e Religiosas na Regional de Recife são alegres, dinâmicos e que as atividades no campo da missão tendem a se alargar e ganhar força cada vez mais.
De acordo com Débora, o Tráfico de Pessoas é uma realidade constante em Recife, seja nas regiões praianas, Porto de Galinhas e interiores. As maiores vítimas são as mulheres, as crianças e os travestis, que geralmente tem como país de destino a Itália, que, conforme afirmam as pesquisas, tem um comércio significativo.
“A realidade do tráfico é muito preocupante na região porque os traficados que conseguem retornar, retornam com uma boa qualidade de vida, embora tenham sido escravos. Como adquirem bens e os exibem na volta, as crianças e os adolescentes recifenses, alimentam o sonho de ser como um deles e isso nos preocupa” afirmou.
No dia 11 de maio, no Parque da Jaqueira, Recife haverá uma manifestação contra o Tráfico, com o objetivo de ajudar os cidadãos a tomarem consciência de que o Tráfico não é um benefício, mas um mal que dizima vida e um crime.
A Amazônia precisa de mais missionários e missionárias
Na ocasião, Irmã Maria José de Mesquita, filha de Sant’ana, secretária da CRB em Manaus, falou sobre os desafios da missão na Amazônia e da necessidade de missionários generosos que se disponibilizem a dar suas vidas a serviço dos povos que ali vivem.
Irmã, a senhora poderia falar um pouco sobre a missão na Regional da CRB de Manaus?
A regional compõe os dois estados: Amazonas e Roraima. Em sua maioria os missionários vem de outros estados ou de outros países e dedicam, de fato as suas vidas. São 4 núcleos e áreas muito distantes por causa das dimensões do Rio Solimões e Negro. Por isso se divide por áreas o território de missão: Alto Solimões, Médio Solimões. Poder contar com pessoas que vêem abertas à inculturação para entender a linguagem dos povos nativos, dos indígenas, negros, ribeirinhos, do caboclo é uma alegria muito grande.
Como vivem os missionários ?
Vivem, muitas vezes, em casas cedidas pela própria diocese. Um exemplo claro é o das Irmãs Cordimarianas que fizeram contrato para morarem na casa da diocese. Terminado o contrato, elas foram para o Alto Solimões, prelazia de Tabatinga, deixando a casa para outros missionários.
Existe um trabalho missionário itinerante na Amazônia. Como é realizado?
A Equipe é composta por mais ou menos 20 religioso e religiosas e leigos do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). É um grupo intercongregacional que atua há 15 anos em três diferentes pólos de missão: Manaus, Tabatinga e Roraima. A casa é cedida pela diocese e prestam serviço para os ribeirinhos, indígenas.
Irmã, o que é a metodologia da abelha, adotada por estes missionários?
Eles exercem sua missão a partir da metodologia da abelha: A abelha primeiro visita as flores, sentem o perfume, tira o pólen, guardam e depois retornam à colmeia. Ou seja, estar, escutar, entender a realidade para depois ajudar as pessoas a se mobilizarem. Numa dessas itinerâncias aconteceu um incêndio na periferia onde situava a casa dos missionários, a única que ficou intacta, dando possibilidade a eles de acolher ali todos os que perderam as suas casas.
O que é preciso para ser missionário na Amazônia?
Conhecer a realidade. É sabido do curso missionário oferecido pelo CCM que é muito bom, porém distante da realidade. A diocese de Manaus oferece curso de 15 dias para missionários que chegam e é muito bom, pois estudar in loco, com professores nativos, é uma outra experiência que enriquece muito o missionário, pois favorece uma visão mais concreta da realidade, o que é muito importante. Só se sabe o que é ser missionário na Amazônia, quem está fazendo a experiência: o clima é muito forte para quem vem de qualquer outra região do Brasil e as distâncias geográficas, desafiadoras. Por exemplo, em outras regiões do Brasil o costume é andar de ônibus. Na o transporte é aquático ou aéreo, exceto o caso de Roraima para onde se pode ir por terra. Criar consciência de que você não vai para fazer coisas, mas estar com o povo, escutar, entender a dinâmica e a linguagem deles. Para o Amazonense, por exemplo, calar não quer dizer consentir. O silêncio às vezes é para dizer que ele ainda não sabe expressar o que está querendo, então é fundamental entender esse modo de ser. Por causa do clima, o ritmo é mais lento, o fazer, preparar as coisas em cima da hora. É de fundamental importância que o missionário entenda essa dinâmica e que queira estar ali.
Que apelo a senhora faz à Vida Consagrada?
Seria muito bom que as congregações enviassem religiosos para fazer uma experiência, como missionário itinerante, como estágio, o que já ajudaria muito a Igreja, pois temos lugares que de fato não tem padres ou religiosos. Tem surgido muitas vocações entre eles, mas é pequeno o número de padres.
Há um ditado que diz: “quem vai ao Amazonas, comeu Jaraqui (peixe), não quer mais sair dali”.
Me sinto feliz de estar na Amazônia e já tive a experiência de ir para o Alto Solimões naqueles barcos onde se estende a rede e passa dias naquele barco, faz amizades e experiências de evangelização.