“O jornalismo exige compromisso com a verdade”, diz Caco Barcellos

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Por Rosinha Martins| Vitória 20.07.2015| Presente no Mutirão de Comunicação realizado em Vitória – ES, o escritor e jornalista Caco Barcellos refletiu sobre “a espetacularização da notícia”.  Para fazer essa abordagem, Barcellos trouxe à tona o problema do preconceito de classe, da violência e do extermínio que dizima as comunidades à margem e a questão da ética no jornalismo e em todas as outras formas de fazer comunicação hoje.

Promovido pela CNBB, o 9º Mutirão de Comunicação reuniu de 14 a 20 de julho, cerca de 500 comunicadores católicos de todo o Brasil para discutir ‘ética nas comunicações’.

O preconceito de classe

Durante a sua exposição Barcellos enfatizou o problema do preconceito de classe que faz parte do dia-a-dia do jornalismo e que, segundo ele, é uma herança história e cultural brasileira que tende a dividir a sociedade. “O preconceito de classe atrapalha muito o trabalho de muitos profissionais do jornalismo. Parece existir uma sociedade denominada como a dos  indivíduos do bem  e aquela dos  indivíduos do mal. Os indíviduos do mal estão na periferia, os pobres  e,  os ricos, os indivíduos do bem. Estes últimos mesmo se são desonestos não adquirem a mesma qualificação daqueles do mal”, afirmou.

Barcellos levantou um questionamento sobre tendência que se tem de colocar a culpa pelo mal nas classes mais desfavorecidas e ressaltou que os grandes da nossa sociedade são os primeiros responsáveis pelos problemas sociais como a violência, o extermínio e o jornalismo precisa estar atento à verdade dos fatos.  “Você ofende quem pratica 5% das mortes e não ofende quem pratica 95% delas? Algo de errado, algo de muito estranho há nisso”. E perguntou: “quem mata mais em nossa sociedade?”

Caco Barcellos frisou que a espetacularização da notícia é feita às custas do sofrimento dos marginalizados quando, por exemplo, se repete por várias vezes uma cena de violência e de sofrimento de uma determinada vítima.

A ala conservadora da sociedade pede a pena de morte

“Pena de morte para quem?”, indagou o jornalista relembrando a invasão de policiais em um morro do Rio, em 2007, que dizimou dezenas de famílias trabalhadoras de baixa renda. “ 28% das mortes no Rio foram praticadas pelo Estado com  seu dinheiro, com meu dinheiro, praticadas pelos chamados ‘cidadãos de bem’. A nossa sociedade mais conservadora quer pena de morte.  Para matar quem?” Barcellos citou exemplos de pessoas ricas que cometeram assassinatos e permanecem impunes por fazerem parte de uma classe privilegiada.

O jornalismo exige compromisso com a verdade

Caco lembrou, ainda, que o jornalismo exige compromisso com a verdade e ninguém pode obrigar um jornalista a fazer um jornalismo de denúncia, às pressas,  em apenas cinco minutos, pois uma boa e verdadeira investigação exige tempo. “Se eu tenho  apenas cinco minutos para fazer uma investigação, o que faço? Não denuncio. Uso cinco minutos, por dia,  ao longo de muito tempo para fazer minha apuração correta e não cometer injustiça e,  quando pronta esta investigação, terei uma reportagem grande, bem apurada. Em 5 minutos você pode fazer uma matéria brilhante e investigativa, mas não é a regra, pois uma investigação demora. Quando se tem uma história negativa, geralmente o entrevistado gosta de escondê-la e não quer se expor e a gente tem que driblar as barreiras para contar a verdade”.

Sobre a ética nas comunicações