Missa faz memória de dom Tomás Balduino, defensor dos excluídos

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Por Jaime C. Patias|09.05.14| Uma vida totalmente dedicada à causa dos excluídos, em especial dos camponeses e indígenas. Com essa certeza e muita gratidão, representantes de movimentos sociais, organismos, instituições religiosas e civis, pastorais, igrejas, intelectuais, partidos e sindicatos, lotaram a capela na sede da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), na noite desta sexta, dia 09, para uma missa de 7º dia da Páscoa de dom Tomás Balduino.

A assembleia plural, símbolo da universalidade, retratava com exatidão a capacidade que o bispo emérito de Goiás, falecido no último dia 02 de maio aos 91 anos, tinha de unir pessoas tão diferentes em torno de causas comuns.

“A imagem de dom Tomás é sempre aquela imagem bonita e risonha à frente do nosso tempo, das nossas celebrações, dos movimentos, das nossas lutas, em especial, pela demarcação dos territórios indígenas e quilombolas e pela Reforma Agrária. É esse exemplo vivo que nos acompanha”, testemunhou Rosângela Piovizani Cordeiro, coordenadora do Movimento de Mulheres Camponesas e da Via Campesina.

Presidiu a celebração o padre Anderson Adriano Teixeira, religioso Rogacionista e mestre de noviços. “É uma liturgia tão verdadeira celebrar a vida de Cristo que nos deixou a vida eterna. Alguns de seus discípulos e pastores, como dom Tomás, também se deixam triturar como o trigo para se tornarem alimento para a nossa caminhada de fé. Temos aqui um dos patriarcas da fé no Brasil”, refletiu o padre.

A missa foi organizada pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP). Na ocasião, o seu coordenador, Pedro Gontijo, destacou um desafio. “Dom Tomás mobilizava muita gente e agora nós precisamos fazer um pouco mais por que, o que ele fazia, não pode parar. A gente precisa continuar dando essa vida que ele dava na sociedade”, afirmou.

O assessor político da CNBB, padre José Ernane Pinheiro, leu a carta que o atual bispo de Goiás, dom Eugênio Rixen, enviou à 52ª Assembleia Geral da CNBB, que no falecimento de dom Tomás, acontecia em Aparecida (SP). A mensagem destaca o interesse que ele tinha em dar sua contribuição ao documento “A Questão Agrária Brasileira no século XXI” que estava sendo estudado pelos bispos e que foi finalmente aprovado no dia 07 de maio. As discussões se arrastavam por cinco anos. “Desejava telefonar, pediu para que lhe trouxessem um computador móvel para ditar uma mensagem”, relata a carta. “Dom Tomás viveu o que o papa Francisco prega, de a Igreja sair das sacristias, estar presente nas periferias existenciais… sinal do fermento do Evangelho na sociedade”.

Para o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber César Buzatto, a mensagem que dom Tomás deixa é de que é possível manter-se coerente, com as causas das pessoas que mais precisam, até o fim da vida. “Em seus quase 92 anos nunca abandonou o caminho. Manteve-se fiel a Deus, à vida e aos povos”, sublinhou.

Seu corpo foi sepultado no dia 05 de maio, na catedral Nossa Senhora de Santana, na cidade de Goiás, mas seu exemplo de vida perdura na memória de todos que o conheceram. “Não deixar cair a profecia”, é o sentimento geral nos depoimentos sobre a vida de um homem fiel à proposta do Evangelho de Jesus.

A vida de dom Tomás

Nasceu em Posse (GO), no último dia de 1922. Frei dominicano formado em filosofia, fez o mestrado de teologia em Saint Maximin, na França. Em 1957, nomeado superior da missão dominicana na prelazia de Conceição do Araguaia (PA), viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Para aprimorar seu trabalho junto aos índios, fez mestrado em Antropologia e Linguística, na Universidade de Brasília (UnB), concluído em 1965.

Defensor dos povos indígenas, camponeses e dos movimentos sociais, participou ativamente da criação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Presidiu o Cimi, de 1980 a 1984, e a CPT, de 1999 a 2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou conselheiro permanente.

Nomeado bispo diocesano da cidade de Goiás, em 1967, ali permaneceu 31 anos, até 1999. Seu ministério episcopal coincidiu, por muitos anos, com a ditadura militar (1964-1985). Visitava os presos pela ditadura, não temia denunciar as torturas e defender os direitos humanos. Ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se, como simples frade, para o convento dominicano de Goiânia.

Fonte:POM

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