Frei Betto: “Vai levar tempo para a Igreja responder aos apelos do novo papa por Justiça Social”

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Frei dominicano desde 66, Frei Betto tem 53 livros publicados e diz que teve a fé renovada pelo Papa Francisco (Foto: Divulgação)

Por Rodrigo Rodrigues| 18.03.14| Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido simplesmente como Frei Betto, é uma das caras mais famosas no Brasil da chamada “Teologia da Libertação” – a doutrina que nasceu dentro da Igreja Católica Latino Americana e que interpreta as escrituras e ensinamentos de Cristo segundo a ótica da libertação das injustiças sociais, econômicas e políticas. 

 Frei Dominicano torturado e perseguido pela Ditadura Militar, ganhou notoriedade pelo trabalho social nas comunidades eclesiais de base e junto aos movimentos sociais do País, onde até hoje orienta e faz palestras.

 Dono de vários prêmios nacionais e internacionais pela atuação na área de Direitos Humanos, mesmo perseguido e torturado pelo governo militar nunca deixou de professar a fé em Jesus Cristo e na Igreja Católica ao longo dos anos. 

 Neste 13 de março que marca um ano da chegada ao trono de São Pedro do Papa Francisco, Frei Betto diz que há muitos motivos para que os religiosos e ativistas dos Direitos Humanos comemorem: 

“O papa iniciou pelo papado uma reforma da Igreja. Destituiu o pontificado de símbolos típicos da nobreza, que nada têm a ver com um discípulo de Jesus. (…) E abre portas e janelas para se debater a moral sexual, tema que estava proibido na Igreja desde o século XVI. (…) Minha fé na Igreja se revigorou. Nunca imaginei que veria algo tão novo e surpreendente como vi em João XXIII”, revela.

 Dono de 53 livros publicados em várias línguas, Frei Betto concedeu uma rápida entrevista ao Terra Magazine para avaliar o primeiro ano de reinado do “Papa dos pobres”, ou o “Papa do fim do mundo” – como o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio se auto intitulou ao ser eleito. 

 Qual a sua avaliação do papado de Francisco, neste primeiro 1° ano à frente da Igreja Católica?

Frei Betto: Avalio muito positivamente. Primeiro, o nome adotado. Francisco é o mais exemplar santo da Igreja Católica, pioneiro da crítica ao capitalismo como o comprova Leonardo Boff em seu livro “São Francisco, ternura e vigor” (Vozes). E, como Francisco, o papa iniciou pelo papado uma reforma da Igreja. Destituiu o pontificado de símbolos típicos da nobreza, que nada têm a ver com um discípulo de Jesus. Agora ele empreende a reforma da Cúria Romana e do Banco do Vaticano. E abre portas e janelas para se debater a moral sexual, tema que estava proibido na Igreja desde o século XVI. Portanto, agradeço a Deus o papa que temos. Que Ele o conserve.

Quais as mudanças mais substanciais entre Francisco e o antecessor, Bento XVI?

Frei Betto: Bento XVI deu continuidade ao pontificado conservador de João Paulo II, sem saber inserir a Igreja na pós-modernidade. Já Francisco, que veio “do fim do mundo” e viveu sob ditadura militar, quer uma Igreja mais aberta, comprometida com a justiça, crítica ao capitalismo neoliberal, voltada para os direitos dos mais pobres, como ele tem demonstrado em seus gestos e pronunciamentos.

O Papa Francisco ganhou notoriedade com o discurso voltado para o social e a humildade dos membros da Igreja. O Clero tem respondido aos apelos do Papa por mudanças de postura?

Frei Betto: Vai levar tempo para a Igreja responder aos apelos do novo papa por Justiça Social, pois a maioria de bispos e padres é fruto dos pontificados conservadores de João Paulo II e Bento XVI. Mas é sintomático que Francisco tenha enviado uma mensagem de saudação aos participantes do 13º Encontro das Comunidades Eclesiais de Base, em janeiro deste ano, em Juazeiro do Norte, e que 72 bispos tenham comparecido.

A postura do novo papa diante dos escândalos de pedofilia e de desvios no Banco do Vaticano agrada ao sr?

Frei Betto: Muito. Tanto a pedofilia quanto a corrupção precisam ser duramente combatidas e punidas, como, aliás, fez Jesus ao derrubar as mesas dos cambistas no Templo de Jerusalém.

Faltam respostas mais efetivas do novo papa para assuntos como celibato, nomeação de mulheres e aborto?

Frei Betto: Francisco é um papa “mineiro”… Aos poucos ele vai abrindo caminho para o debate teológico sobre esses temas. Já convocou o Sínodo sobre a Família. Já descartou o preconceito aos gays. Já declarou que é preciso estudar por que tantos governos aprovam a união civil de homossexuais. Aos poucos, ele vai tocando nos temas considerados tabus.

A Igreja Católica brasileira tem ouvido os apelos do papa e está mais próxima dos pobres?

Frei Betto: Ainda não. Nos dois últimos pontificados a Igreja Católica no Brasil se deixou intimidar e perdeu o seu caráter profético. A CNBB, que era a voz dos que não têm voz, se calou. Agora, aos poucos, ela volta a se posicionar além das Campanhas da Fraternidade, onde sempre tocou temas candentes da atualidade, como neste ano o tráfico de pessoas.

Onde o novo papa ainda precisa avançar mais, na sua opinião?

Frei Betto: Permitindo a volta dos padres casados ao ministério sacerdotal; a ordenação de mulheres; o fim das nunciaturas apostólicas; e levar à prática as decisões do Concílio Vaticano II.

Qual é o legado já criado pelo Papa Francisco neste primeiro ano?

Frei Betto: De que a Igreja existe para, como Jesus, se posicionar preferencialmente ao lado das vítimas da opressão e da injustiça.

Com uma vida tão dedicada às causas e debates sociais, como a do sr., o que mudou na sua fé e na sua relação com a Igreja com a chegada de um sulamericano ao Vaticano?

Frei Betto: Minha fé na Igreja se revigorou. Nunca imaginei que veria algo tão novo e surpreendente como vi em João XXIII, que ousou convocar o Concílio Vaticano II.

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