Faleceu dia 13 de janeiro, o cardeal arcebispo emérito do Rio de Janeiro, Dom Eusébio Oscar Scheid, dehoniano.
Em artigo assinado, dom Murilo Krieger, arcebispo emérito de São Salvador da Bahia, recorda dom Eusébio e destaca uma promessa sua de “escrever um livro sobre a Pastoral dos Enfermos e, particularmente, sobre o Sacramento da Unção dos Enfermos”. O livro não saiu, mas “em suas últimas semanas de vida, marcadas pelo sofrimento intenso e pela solidão – essa, imposta pela pandemia da Covid-19 -, comecei a compreender que eu estava enganado: o livro estava sendo escrito, mas não com palavras e frases, mas com sua dor, com sua solidão, com as palavras que passou a repetir, de forma sistemática: ‘Jesus… Jesus… Jesus…'”. Dom Murilo resume as suas lembranças do cardeal com uma “expressão bíblica: era um ‘amigo de Deus’ (Tiago 2,23)”.
Dom Murilo Krieger – arcebispo emérito de São Salvador da Bahia, escreve:
Para mim, é muito fácil falar ou escrever sobre o cardeal dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ. Afinal, conhecia-o desde que cheguei em Taubaté – SP, para iniciar o curso teológico. Ele vinha do Nordeste Brasileiro, onde foi professor de teologia nos dois primeiros anos de Brasil, após os estudos em Roma. As mais de cinco décadas de conhecimento, convivência e amizade criaram entre nós laços que nem o tempo nem as distâncias enfraqueceram – pelo contrário!
Para mim, é muito difícil falar ou escrever sobre o cardeal dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ. A multidão de lembranças que surgem em meu pensamento e coração, me deixam meio paralisado, sem saber o que comunicar ou por onde começar. Afinal, foi meu confrade, professor, formador, orientador espiritual, colega, amigo…
Opto, pois, por destacar uma promessa sua, que se tornou uma dívida para comigo: ele me dizia e repetia que queria escrever um livro sobre a Pastoral dos Enfermos e, particularmente, sobre o Sacramento da Unção dos Enfermos. O tempo passava e eu cobrava sua promessa, lembrando-lhe que “promessa é dívida”. Quando ele se tornou emérito, garantiu-me: “Agora escreverei o livro prometido!” Tenho certeza de que as ideias estavam concatenadas, mas apenas em sua cabeça. Do livro mesmo, nada.
Em suas últimas semanas de vida, marcadas pelo sofrimento intenso e pela solidão – essa, imposta pela pandemia da Covid-19 -, comecei a compreender que eu estava enganado: o livro estava sendo escrito, mas não com palavras e frases, mas com sua dor (“Completo em minha carne o que falta à paixão de Cristo” – Cl 1,24), com sua solidão (“Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?” – Mt 27,46), com as palavras que passou a repetir, de forma sistemática: “Jesus… Jesus… Jesus…”
Religioso dehoniano, sacerdote, teólogo do Coração de Jesus (sua tese foi sobre ele), professor de Dogmática, bispo, cardeal, viveu intensamente. De sua vida, destaco: seu amor pela Igreja (ensinava-nos a necessária fidelidade à Igreja e, particularmente, ao Papa), a profundidade de suas reflexões e o amor à Nossa Senhora. Profundo conhecedor de Santa Teresinha do Menino Jesus, foi chamado a imitá-la de forma intensa nos últimos tempos de sua vida. Alegre, sua presença nunca passava despercebida. Direto no que dizia, repetia para nós, seus alunos: “Todos gostam da sinceridade; poucos gostam dos sinceros!”
As lembranças que guardo dele podem ser resumidas numa expressão bíblica: era um “amigo de Deus” (Tiago 2,23).
“Vá em paz, dom Eusébio! Contemple agora, sem véus, a Santíssima Trindade que o caro irmão ajudou muitos a conhecer e a encontrar, a amar e a servir!”