“As Scalabrinianas trabalham muito bem”, diz Papa Francisco

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 Ping-Pong com Neide Lamperti

Por Rosinha Martins 20.09.2015| Com a finalidade de estudar estratégias eficazes para combater os males que afligem as crianças e mulheres de rua e de suas famílias, drama que requer acelerar os tempos de intervenção seja por parte da Igreja universal ou das Igrejas locais e das instituições civis, o Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, do Vaticano, realizou em Roma, de 13 a 17 de setembro último, o Simpósio internacional da Pastoral da Estrada.

O tema foi debatido à luz dos ensinamentos do Papa Francisco e em vista de grandes eventos, como o Jubileu da Misericórdia e do Sínodo dos Bispos sobre a família.

Na ocasião, durante audiência, o Papa Francisco cumprimentou a missionária scalabriniana Irmã Neide Lamperti, missionária em Angola, com uma saudação que marcará a vida e a missão da Congregação  que há 120 se dedica aos Imigrantes e Refugiados. “As Scalabrinianas trabalham muito bem”, disse. Quem nos conta este fato histórico na íntegra é a própria Irmã Neide.

Qual foi o contexto de seu encontro com Papa Francisco?

Irmã Neide – Foi uma audiência especial contemplada no programa do Simpósio Internacional da Pastoral da Estrada, realizado em Roma durante os dias 13 a 17 de Setembro, que teve como enfoque, o fenômeno das mulheres e crianças de rua e suas famílias. Participamos eu e Irmã Assunta Bridi, membro do Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes.

O que a senhora disse ao Papa quando ele as elogiou?

Irmã Neide – Eu apresentei-me a ele: “Sou Missionária Scalabriniana e trabalho em Angola”. Ele, com uma expressão espontânea disse-me: “Eh…as Missionárias Scalabrinianas trabalham muito bem.” E ouvi a palavra “sempre” com muito entusiasmo por parte do presidente do Conselho Pontifício da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Cardeal Antônio Maria Vegliò, que estava ao lado, confirmando o que o Santo Padre havia dito.

O momento foi muito rápido, nem o meu nome falei. Mas eu o agradeci respondendo com um sorriso incontrolável: “Grazie Santità!” (Obrigada Santidade!) Foi tudo o que consegui dizer… pela emoção de estar frente a um pessoa tão especial e pelos poucos segundos que tínhamos para o saudar.

Se sentiu invadida por algum sentimento que gostaria de expressar?

Irmã Neide – Ao ouvir estas palavras, de uma forma tão espontânea e com um largo sorriso, por parte do Papa Francisco, meu coração saltou, acelerou de tal forma que de meus olhos saíram lágrimas.

É difícil nomear exatamente o sentimento, mas foi um misto de muita alegria e gratidão. Alegria por ouvir um elogio e reconhecimento tão sincero por parte da autoridade máxima de nossa Igreja e gratidão por fazer parte da Congregação Scalabriniana. Senti que somos uma família, e que estamos fazendo a diferença no mundo da mobilidade humana.

As Irmãs Assunta Bridi e Luciana Pagliarini também tiveram a mesma oportunidade de saudar o Pontífice e cada uma com suas próprias experiências e sentimentos.

A que se deve esse reconhecimento do Papa Francisco de que vocês fazem um trabalho importante para a Igreja?

Irmã Neide – O mérito deste reconhecimento é de cada Missionária Scalabriniana que dá a vida pelo migrante e refugiado, independente de nossa missão ou responsabilidade, se o trabalho é grande ou pequeno, o que importa é fazê-lo com amor. Senti que minha congregação é abençoada, dinâmica e que responde aos apelos da Igreja nas pessoas em situação vulnerável. Confirmou em mim o significado de minha consagração religiosa.

Ao mesmo tempo seu reconhecimento é um desafio a continuarmos sempre mais atentas aos apelos dos migrantes e refugiados, construindo pontes, estendendo a mão, sendo esperança de vida nova, iluminadas pela Palavra de Deus.

O que significou para a senhora participar do Simpósio da Pastoral da Estrada?

Irmã Neide – As experiências partilhadas durante o evento acerca da realidade do fenômeno das mulheres e crianças de rua, de todas as regiões do mundo e iniciativas por parte da Igreja, movimentos e ONGs, mostrou-nos que em quase todos os locais, os fatores que provocam o aumento de crianças e mulheres de rua, trazem consigo aspectos semelhantes, sendo um dos mais fortes, a migração. Hoje a migração carrega muito mais mulheres e crianças. Identificou-se outros fatores: a pobreza, a urbanização, o uso de drogas, o desemprego, a globalização incontrolável, guerras, distúrbios sociais e psicológicos, abusos sexuais por parte de familiares e da sociedade, violência doméstica, desestruturação familiar, competições profissionais e falsas oportunidades de trabalho.
Foi possível conhecer, a partir de vídeos, diferentes organizações nacionais e internacionais, ONGs, congregações e instituições que realizam trabalhos de recuperação e reintegração das mulheres e crianças de rua, na sociedade.

A senhora se sentiu desafiada por esta realidade constatada?

Irmã Neide – Desafiou-me para uma melhor e maior organização em nosso trabalho a fim de dar atenção a este fenômeno que provoca muitas humilhações em mulheres e crianças de rua. Precisamos ser capazes de denunciar as formas de tratamentos irregulares e indígnas. A Igreja deve ser mãe e protetora, não uma Igreja para as pessoas de rua, mas uma Igreja na rua, nas estradas, que acompanham a todos os que nela caminham, assim como nos ensina Papa Francisco. Precisamos projetar ações que venham a proteger e defender à luz da Palavra de Deus.

Qual a importância desse simpósio para o trabalho que a senhora realiza em Angola?

Irmã Neide – A Pastoral da Estrada é um dos setores específicos da Comissão Episcopal das Migrações, e em Angola esta atividade está no seu início. Entretanto, o simpósio deu-nos uma visão ampla do trabalho que pode ser realizado, dos grupos que devemos atingir e priorizar, da caminhada que precisamos fazer diante das realidades delicadas vivenciadas pelas crianças e mulheres de rua, em Angola, que sofrem todo tipo de exclusões sendo vítimas de uma escravidão moderna.

O Plano de ação elaborado durante o Simpósio foi iluminado pela Palavra de Deus e pelas reflexões e recomendações de Papa Francisco. Estas nos ajudarão a elaborar o nosso plano de ação para Angola com a implementação de estratégias mais adequadas e unificadas em nossa Pastoral, criando redes para dar respostas mais rápidas e adequadas em situações emergentes de mulheres e crianças de rua, em situação de risco e vítimas do tráfico. Dentre tantas orientações, o plano levará em consideração a condenação de qualquer forma de abuso e exploração de crianças e mulheres forçadas a ferir a sua integridade e dignidade; chamará a atenção de toda Igreja, para um maior comprometimento e iniciativas de promoção, integração e proteção das mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade.

Poderia nos contar mais detalhes sobre a sua missão na Angola?  

Irmã Neide – Em Luanda sou Secretária Executiva da Comissão Episcopal da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes (CEPAMI), uma coordenação nacional que visa dinamizar esta pastoral da mobilidade humana em todas as 19 dioceses de Angola. Faz parte desta comissão a Pastoral da Estrada, o Apostolado do Mar, a Pastoral para os Refugiados, a Pastoral da Aviação Civil, a Pastoral do Turismo, Santuários e Peregrinações, comunidades de migrantes. É ampla e atinge uma área muito vasta de migrantes e Itinerantes.

Irmã, em que consiste o trabalho desta Comissão Episcopal?

Irmã Neide – Nosso trabalho na CEPAMI é de dinamizar, coordenar e animar a Pastoral das Migrações, promovendo programas de formação e capacitação para animadores em temáticas e metodologias sobre a Pastoral para os Migrantes e Itinerantes. Acompanhamos e orientamos as diferentes atividades dinamizadas pelos setores específicos, propomos as linhas diretivas das várias áreas de atuação, promovemos a integração com as instituições afins, dentro e fora da esfera eclesial, bem como atividades de solidariedade que favorecem a integração eclesial e social dos migrantes. Monitoramos os diversos programas em execução na Comissão Episcopal e celebramos o Dia Nacional da Mobilidade Humana, o Dia de São Cristóvão, o Dia dos Marítimos, dentre outros. Prestamos ainda, apoio organizacional na abordagem de especificidades migratórias locais, procuramos, sempre em colaboração com a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), influenciar através da comunicação social e de advocacia, os mecanismos legais que contribuam para proteção e promoção dos direitos dos migrantes, quer a nível nacional, quer local. Enfim, assessoramos grupos de estudo e reflexão numa perspectiva multicultural.

Ajudamos ainda a Comunidade Paroquial acompanhando diferentes grupos pastorais, mais especificamente na área da formação e desenvolvimento de cursos de alfabetização, na área da saúde, profissionais, humanos, religiosos para mulheres e que ajudem na auto-estima e na integração da comunidade local.

 

 

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