Aniversário de morte de Scalabrini, “pai e apóstolo dos migrantes”

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Neste 1º de junho de 2021, não será difícil falar sobre a figura do Bem-aventurado J. B. Scalabrini, morto há exatos 116 anos. Podemos resumir seu legado histórico em quatro expressões que bem expressam o rico dinamismo sociopastoral de sua vida: homem de Deus, homem do seu tempo, homem da Igreja e homem dos pobres e emigrantes.

Homem de Deus. Sabemos todos quanto tempo Scalabrini “perdia” no cultivo diário e contínuo da intimidade com Deus. Quantas horas diante do sacrário, diante da cruz e aos pés de Maria! A cruz inebriava sua espiritualidade, a um só tempo simples e profunda. Igualmente emblemática era sua devoção à celebração eucarística. O sacrário, a cruz, Maria e a Eucaristia são suas fontes de água viva. Com elas mata a sede e a fome do mistério humano e divino; nelas se alimenta e se fortalece, delas extrai as energias para a ação missionária. Nessa água fresca, transparente e cristalina nutre o corpo, o coração e a alma.

Homem do seu tempo. Por ser homem de Deus, Scalabrini torna-se também homem da história, capaz de interpretar os sinais dos tempos. Os que com perseverança buscam a presença da luz divina, tornam-se mensageiros de sua infinita sabedoria. Profetas não no sentido de adivinhar o futuro, mas de ler de maneira tão profunda o presente, que podem intuir os novos rumos da história. Scalabrini será testemunha de anos conturbados pelos efeitos da Revolução Industrial. Vive no chamado “século do movimento”: movem-se as máquinas, os carros, os trens, os navios a vapor, os aviões e sobretudo as pessoas. Aos milhões, essas últimas deixam o campo e migram para a cidade. Boa parte consegue emprego na indústria incipiente, outros cruzam mares e oceanos em vista de recomeçar a vida nas “terras novas” das Américas, da Austrália e da Nova Zelândia.

Homem da Igreja. Por ser homem de Deus e homem do seu tempo, Scalabrini é ainda homem da Igreja. Suas cartas, homilias e escritos em geral respiram uma preocupação permanente com a doutrina social. De forma toda particular, imprime sua marca no ensino catequético. Ama os demais pastores responsáveis de outras dioceses, ao mesmo tempo que busca manter relações permanentes com o Pontífice e o Vaticano. Como já disse alguém, seu coração era maior que a diocese. Seu amor, coragem e solicitude transbordam das fronteiras diocesanas para seguir os passos dos trabalhadores, especialmente dos que são forçados a deixar sua família e sua terra natal para conseguir o pão em serviços temporários nas carvoarias, nas safras agrícolas!…

Homem dos pobres e migrantes. Por ser homem de Deus, homem da história e homem da Igreja, Scalabrini será por fim um homem voltado para os pobres e os emigrados. Doía-lhe o coração ver tantos fiéis deixarem as paróquias da diocese para aventurar-se pelos mares bravios e terras ignotas. Ícone e inspiração do carisma scalabriniano haverá de se tornar a sua comovida descrição dos emigrantes na estação de Milão. Às centenas esperavam o trem para Gênova, de cujo porto deveriam zarpar para outros continentes, longínquos e desconhecidos. “Eram migrantes” – diz o pastor que viria a ser considerado o “pai e apóstolo dos migrantes”.

De acordo com ele, o fenômeno migratório era um dos grandes sinais dos tempos. Marca de sua época cheia de cicatrizes, devido às profundas e rápidas transformações que se espalhavam pelo mundo todo. De acordo com ele, as migrações de massa podiam servir aos desígnios de Deus para o intercâmbio de povos, culturas e valores. Foi dessa maneira que, no decorrer dos séculos, numerosas civilizações se ergueram e se tornaram fortes. Nem sempre, contudo, os emigrantes figuravam como sujeitos, profetas e protagonistas do amanhã. Podiam também servir aos “mercadores de carne humana”, os quais, aproveitando-se de sua fraqueza e vulnerabilidade momentâneas, lucravam sobre a pobreza, a miséria e a fome – sobre o desespero. Da sensibilidade e intuição de semelhante pastor, o Espirito Santo fez estrada para enviar à Igreja novo carisma: a solicitude e o serviço no campo da mobilidade humana. A partir desse carisma, iriam nascer as Congregações dos Missionários (1887) e das Missionárias (1895) de São Carlos – Scalabrinianos/as. Depois o Instituto das Missionárias Seculares (1961), por fim e por toda parte, o Movimento Leigo Scalabriniano – formando a Família Scalabriniana – a serviço dos migrantes.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, vice-presidente do SPM – São Paulo, 1º de junho de 2021

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