A pergunta

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“Tudo no mundo está dando respostas; o que demora é o tempo das perguntas”, escreve Saramago. Sem a pergunta, que seria da ciência? A pergunta fascinante instiga a descobrir a resposta na realidade, que se encontra em nível material, emocional, espiritual; em nível pessoal e social; em nível local e planetário; em nível natural e cultural; enfim, é a existência e a vida, pensante e não-pensante. A realidade está repleta de respostas que aguardam as perguntas.

A pergunta aciona a flecha do tempo, desconstrói a árvore do conhecimento, esvazia o frasco. A pergunta estratégica e incitante condiciona respostas dinâmicas que, por sua vez, pedem sucessivas perguntas. As perguntas abrem janelas, que apontam diferentes janelas, que vislumbram mais janelas… O saber é relativo e dialético e se faz de perguntas e respostas.

É isto que faz a escola ter sentido: dar vida a perguntas. A pedagogia tradicional já fornece as perguntas, cujas respostas estão programadas. E isso faz com que todos pensem de igual forma. Ensina um velho ditado que “quando todos pensam a mesma coisa, é porque ninguém está pensando”. A pedagogia transformadora, por outro lado, estimula as perguntas, a partir da realidade, para que se busquem respostas criativas e adequadas. Para Voltaire, “devemos julgar um ser humano mais pelas perguntas que pelas respostas”.

Respostas prontas – que se voltam à reprodução do conhecimento e da realidade – infantilizam, banalizam, acomodam, imobilizam… Formam cidadãos medíocres e escravos. Segundo Platão, escravo é aquele que executa projetos alheios. Aquele que absorve saberes concluídos e se limita a reproduzi-los faz-se cativo e manipulável. “O que realmente destroça os nossos sonhos é resignarmo-nos às limitações que nos são impostas”, diz Bach.

As perguntas, contudo, incentivam a produção do conhecimento. Ao indagar o mundo, a realidade, o objeto e o sujeito, o cidadão se predispõe a construir saber pela pesquisa. Tal conhecimento, atualizado, faculta a transformação. Pereira e Vieira assim se manifestam sobre a pesquisa: “o ato de pesquisar é direcionado pela aquisição de um conhecimento que possibilita a solução e a explicação de fenômenos e problemas práticos da realidade cotidiana”.

A pergunta desperta sonhos, desestrutura esquemas mentais, crenças religiosas alienantes e gestos maquinais, quebra padrões, surpreende, permite olhares inéditos. A pergunta é própria do artista, do filósofo, do cientista, que o ser humano os tem em potencial, porém muitas vezes permanecem atrofiados.

A pergunta abre mentes. “A mente é como pára-quedas: trabalha muito melhor quando está aberta”, sugere Einstein. Pensa ainda: “A mente que se abre para uma nova idéia jamais volta ao tamanho natural.”

Desde que parte da biosfera – a noosfera – adquiriu o dom da reflexão, não há limites para as perguntas. Processa-se assim a evolução, porque perguntas proporcionam outros caminhos. “Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram”, aconselha Grahan Bell.

Quem não é capaz de perguntas, acabará pensando e agindo como sempre; e, andando por monótonos caminhos, verá apenas cópias e será o mesmo continuamente…

Lauro Daros

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