Terra, teto e trabalho – papa estimula movimentos sociais: “Não se acanhem”

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“Precisamos e queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança das estruturas”. Ao concluir o II Encontro dos Movimentos Populares em Santa Cruz de La Sierra, o papa Francisco pronunciou o mais longo e contundente discurso desta sua nona viagem apostólica internacional, denunciando a ambição desenfreada pelo dinheiro, as novas formas de colonialismo e as agressões ao meio ambiente.

O destino está em vossas mãos
Para o papa, não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo, pois “já sofremos de um certo excesso de diagnóstico”, que nos leva ao pessimismo e a pensar que nada podemos fazer além “de cuidar de nós mesmos e dos pequenos círculo da família e dos amigos”. “O futuro da humanidade – exclamou o Papa, dirigindo-se aos mais humildes, explorados, pobres e excluídos – está nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e buscar alternativas criativas na busca diária dos “3 T” e na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudanças nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”

Conversão das atitudes do coração
Francisco alertou, que uma “mudança de estruturas que não seja acompanhada de uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir”. Para evitar isto, enalteceu a “imagem do processo”, “onde a paixão por semear, por regar serenamente e que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos”.

Os heroísmos cotidianos, vividos muitas vezes na “crueza da tormenta humana”, o trabalho aparentemente insignificante, as lutas, o apego ao bairro, à terra, ao território, levam a assumir tarefas comuns motivadas pelo amor fraterno:

“A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades… Rostos e nomes que enchem o coração. A partir destas sementes de esperança semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo”.

As três tarefas dos movimentos populares

Para esta “mudança positiva” não existe uma receita. No entanto, o Papa propôs três grandes tarefas que requerem a decisiva contribuição do conjunto dos movimentos populares: colocar a economia a serviços dos povos, unir os povos no caminho da paz e da justiça e defender a Mãe Terra.

“A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum”, o que implica em “cuidar adequadamente os bens entre todos”, observou o Papa, explicando que uma “economia verdadeiramente comunitária, de inspiração cristã” deveria garantir aos povos dignidade, prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos, que além dos três “T”, envolvem acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, ao esporte e à recreação:

A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano – afirmou o Pontífice – não é uma mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, é um mandamento. “Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence”. Os movimento sociais, neste sentido, tem um papel essencial, não apenas exigindo e reclamando, mas criando: “Vós sois poetas sociais!”. E quando o Estado e organizações assumem juntos a missão dos “3 T”, ativam-se os princípios de solidariedade e subsidiariedade que permitem construir o bem comum numa democracia plena e participativa.

Perdão pelos pecados da Igreja na colonização
Referindo-se aos “muitos graves pecados contra os povos nativos da América, em nome de Deus”, também Francisco, como fizeram seus predecessores, pediu perdão, acrescentando:

“Peço-vos também a todos, crentes e não crentes, que se recordem de tantos bispos, sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a boa nova de Jesus com coragem e mansidão, respeito e em paz; que, na sua passagem por esta vida, deixaram impressionantes obras de promoção humana e de amor, pondo-se muitas vezes ao lado dos povos indígenas ou acompanhando os próprios movimentos populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os seus filhos e filhas, fazem parte da identidade dos povos na América Latina. Identidade que alguns poderes, tanto aqui como noutros países, se empenham por apagar, talvez porque a nossa fé é revolucionária, porque a nossa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro”.

Defesa da Mãe terra
A covardia em defender a casa comum, que está sendo saqueada, devastada e vexada impunemente é um pecado grave, disse o Papa, que lamentou a falta de resultados nos sucessivos encontros internacionais sobre o tema. “Não se pode permitir que certos interesses – que são globais, mas não universais”, se imponham, submetendo Estados e organismos internacionais , e continuem a destruir a criação”.

Ao concluir, o papa Francisco afirmou que “O futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Estou convosco”.

Com informações Rádio Vaticano

 

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