Quem não lê…

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Quem não lê… atrofia-se… vulgariza-se… exclui-se… Quem não lê, sofre do olhar: vê fragmentos, não capta o todo. Vê parcialmente o universo… o sistema solar… o planeta… o país… a cidade… o bairro… a rua… o lar… o outro… Quase não vê o visível, menos ainda o invisível. Nem vê bem a si mesmo, porto de partida para a milagrosa aventura do saber.

A sociedade exige que o cidadão, para sobreviver e viver, saiba ler: textos informativos e práticos, como jornais, revistas, dicionários, mapas, tabelas, quadros, formulários, contas de luz, água e telefone, cheques, bulas de remédio, receitas, manuais e tantos outros; textos científicos, como livros e artigos de todas as ciências; textos literários, em prosa e verso – uma leitura mais profunda e mais complexa, que mexe por dentro, que instiga, que alimenta o imaginário, que trabalha com a linguagem.

Lê-se muito pouco. É uma das causas da debilidade intelectual. A atual geração opta pela imagem. A imagem passa com rapidez: dispensa a reflexão, elimina o pensar. Ver as coisas é mais fácil do que internalizá-las por meio de textos escritos, que exigem envolvimento intelectual. A imagem polui o cotidiano: noticiários com muita filmagem e pouco conteúdo, outdoors, cartazes, faixas, pôsteres, jornais e revistas com excesso de ilustrações. Imagens que visam ao consumo. O sistema coisifica: coisas atraindo coisas, coisas consumindo coisas, coisas falando coisas.

Na mitologia grega, a Esfinge propôs a Édipo um enigma. Se não o desvendasse, perderia a vida. Édipo o desvendou, viveu e tornou-se rei. O texto age como a Esfinge. Diante do leitor, ele diz: decifra-me ou devoro-te. O bom leitor não se deixa vencer pelo texto. Ao contrário, procura desvendá-lo e o devora como um delicioso manjar.

Devorar o texto é aprender: a sensação de agregar conhecimento, de perceber que ele faz sentido, de descobrir que está conectado à vida é uma alegria incalculável. Freud, o pai da psicanálise, compara o prazer de aprender ao prazer de Eros, deus do Amor, energia vital.

A delícia da leitura não se encontra na facilidade, mas na esperança e no desejo veemente de encontrar preciosidades. E quem se vê cego diante de um texto deve pesquisar: ler assuntos conexos, abrir dicionários, navegar na Internet, buscar a mediação de professores,dialogar com outros leitores. É essa atitude envolvente de explorar que faz da aprendizagem uma viagem significativa.

Qual o papel da família e da escola na formação do leitor? Primeiro, os pais e os professores devem dar o exemplo: ler muito, com prazer e entusiasmo. Nessa condição, assumir o papel da mediação: apresentar ao estudante todos os tipos de textos e capacitá-lo para que seja capaz de selecionar a boa leitura; dar espaço, em casa e na escola, para que fale sobre suas experiências como leitor; promover o encontro do estudante com escritores; incentivá-lo a visitar bibliotecas, livrarias, feiras, editoras; orientá-lo a organizar uma biblioteca pessoal. O bom mediador encontra inúmeros meios de educar leitores e promover a leitura.

Quem não lê fica de costas para a luz, contenta-se com sombras. Perde a oportunidade de conhecer o patrimônio cultural da humanidade. Depara-se com um futuro limitado, escasso de horizontes.

Quem não lê sente-se incapaz de produzir conhecimento. Que não lê não tem nem a chance de saber que não sabe. Saber que não se sabe é o princípio da sabedoria.

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