Por Rosinha Martins|04.03.2016| Vida Fraterna em comunidade, Formação contínua e inicial, a experiência do poder e o uso do dinheiro e das propriedades.
Estes foram os temas aprofundados pelo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica do Vaticano, dom João Braz, Cardeal de Aviz, no encontro dos consagrados e consagradas que reuniu cerca de 600 religiosos vindos de todas as regiões do Brasil.
De acordo com dom João, a vida fraterna, a formação, a experiência do poder e uso do dinheiro são odres novos a serem cuidados na Vida Consagrada. “Cada pessoa consagrada e cada comunidade de consagrados são, hoje, chamados a fundamentar sua vida no mistério e na missão de Deus-Trindade, isto é, no Amor”, para renovar o primeiro odre, o da vida comunitária.
Dom João parafraseou o Papa Francisco dizendo que a presença de várias culturas nas comunidades é um dom de Deus para a vida consagrada e para a Igreja, mas nem sempre produziu comunhão intercultural, tanto na formação como na missão. “Quem está à frente da comunidade precisa saber motivar e provocar a convergência das diversidades em direção à sinodalidade, à sinergia, à corresponsabilidade”, disse.
Sobre o odre da formação, dom João acenou para os aspectos formativos na área da afetividade e sexualidade, as quais exigem métodos pedagógicos adequados. Para ele, os escândalos vistos na Igreja são decorrentes de falhas objetivas neste processo. “A formação precisa ser nutrida por um sábio discernimento vocacional e mostrar-se atenta à área afetiva e sexual, com um método formativo bem integrado com as dimensões espiritual e psicopedagógica”.
Ainda, segundo dom João, os formadores precisam ser bem preparados, com uma formação integral que conte com a ajuda das ciências. “Uma formação não somente técnica, através das ciências humanas, de acordo com uma antropologia cristã, mas também, espiritual”.
O formador, acrescentou, “precisa ser uma pessoa suficientemente madura, capaz de integrar em si as duas dimensões e colocar-se em posição de escuta em seu confronto constante com a cultura dos jovens”.
Sobre o terceiro odre ‘poder, dinheiro e propriedades’, o Cardeal recordou a instrução publicada no Ano da Vida Consagrada a pedido do Papa Francisco, intitulada, “A Gestão dos Bens Eclesiásticos dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de vida Apostólica a Serviço do “Humanum” e da Missão na Igreja”.
Sobre este tema, ressaltou que os Institutos precisam fazer um exame de consciência, o que poderá ajudar os consagrados a discernir a qual deus estão servindo, se o Deus de Jesus Cristo ou ao deus dinheiro.
“Uma mentalidade capitalista pode muito bem ter entrado em muitas de nossas comunidades a ponto de acharmos que sem o dinheiro ou os bens não podemos evangelizar. Nesse caso será necessário rever as instruções que Jesus mesmo dá aos seus discípulos para que possam partir para a missão”, alegou.
Sobre a autoridade e a obediência, dom João frisou a importância de se cuidar para não se formar castas dentro da Vida Consagrada, classificando dignidades. O batismo, ressalta, “nos faz todos iguais. Quem tem uma autoridade na Igreja não é maior do que os outros, não possui uma dignidade maior do que os outros. E a consequência dessa verdade é que para usar de autoridade e para obedecer, antes é necessário ser irmão, irmã de verdade”.
De acordo com o Cardeal, o autoritarismo na Vida Consagrada torna as pessoas imbecis.
O autoritarismo esmaga as pessoas e a obediência sem o esforço de comunicar a luz de Deus, que está também em quem obedece, imbeciliza as pessoas.
Segue em anexo, a íntegra da palestra de dom João