Palavra da presidente da CRB na 55ª Assembleia dos bispos do Brasil

Caríssimos Irmãos, Pastores da nossa Igreja do Brasil.

Com muita alegria e comunhão, acolho esta oportunidade de dirigir aos senhores, breves palavras, em nome de todos os religiosos e religiosas do Brasil, que garantem a unidade, na grande e desafiante missão de evangelizar!

Somos mais que conscientes do momento desafiante em que vivemos e a Conferência dos Religiosos do Brasil continua conclamando a vida consagrada a ser fiel à sua identidade e missão na Igreja. A 24ª Assembleia Geral da CRB, em julho de 2016, nos convidou a implorar do Senhor olhos novos para enxergar o que está brotando…Escolhemos enxergar de novo! Escolhemos como primeira prioridade “integrar mística e profecia”! E enxergar é coisa de místico e também de profeta que indica caminhos, particularmente em tempos de crise. Quando os poucos caminhos se fecham o profeta levanta a esperança do povo com setas que abrem novas trilhas em nosso carisma de Consagrados e Consagradas.

Há pouco tempo a CIVCSVA nos anunciou a revisão do Documento “Mutuae Relationes” o que acolhemos com muita esperança e já enviamos as nossas sugestões. Tem sido objeto de nossas breves ou longas intervenções junto aos Institutos de Vida consagrada e nos contínuos encontros e Assembleias da CNBB.

Os dons hierárquicos e os dons carismáticos são co-essenciais para a eclesiologia de comunhão e não é possível valorizar demais um e sobrepor o outro. A eclesiologia de comunhão cresce e se espalha quando há unidade na diversidade, onde há valorização e inclusão e não, disseminação e dispersão.

Acima de tudo no seu ambiente (contexto eclesial) a vida consagrada, nas suas várias formas é valorizada pela sua IDENTIDADE COMO TESTEMUNHO de uma forma particular de “Sequela Christi”. Esperamos que nosso Pastores não nos valorizem apenas pela funcionalidade.

Citando o Papa Francisco: “É necessário que a mulher não seja somente mais ouvida, mas que a sua voz tenha um peso real, uma autoridade reconhecida, tanto na sociedade como na Igreja” (“Procurar harmonia entre homem e mulher” – Audiência Geral na Praça São Pedro – 15/04/15)

Ainda permanece a idéia de que primeiramente por ser mulher, e depois por ser religiosa, ela ainda, na sua maioria, é excluída.

O papa Francisco nos diz que a vida consagrada é “um dos tesouros mais preciosos da Igreja”(Audiência à Plenária da Congregação para os Institutos de Vida consagrada – 28/01/17). Ele nos convida a ir com paixão, para onde for necessário, para todas as periferias, anunciar Jesus Cristo aos mais afastados, aos pequenos, aos mais pobres e deixar-nos evangelizar por eles

É uma graça ter uma comunidade religiosa no bairro, na paróquia ou diocese, mesmo com os grandes desafios de hoje, com a falta de membros e o envelhecimento.

Convido os senhores, com todo carinho, a priorizar:

· A valorização dos diferentes carismas na Igreja, principalmente por parte da maioria dos presbíteros;

· A abertura para a vivência dos carismas no espaço eclesial ao mesmo tempo a contribuição das religiosas no espaço de evangelização, seja na dinamização ou na formação nas diferentes pastorais;

· Os estudos, reflexões, cultivo da espiritualidade e lazer feitos em conjunto presbíteros, religiosas e religiosos;

· A contribuição das religiosas e dos religiosos através da presença e atuação, com os demais membros da comunidade eclesial: leigos, diáconos, sacerdotes e bispos, favorecendo o crescimento da unidade eclesial e o sentido de pertença a Igreja como único Corpo de Cristo, povo de Deus que caminha na esperança.

O documento de Aparecida (Dap), número 156, nos recorda que a experiência humana de comunhão, torna-se nos dias atuais, mediação para a compreensão de Deus que é COMUNHÃO TRINITÁRIA E DA SOLIDARIEDADE JUNTO AOS CRUCIFICADOS DA TERRA. Reconhecemos nossos comuns limites e confiamos que nossos pastores continuarão atentos:

· À pouca valorização da vida consagrada na Igreja, tanto por parte de presbíteros como de bispos. O exercício do poder de forma errônea por parte de muitos, os distancia dos consagrados, consagradas e leigos;

· À falta de uma formação mais orgânica que prepare os presbíteros para valorizar os diferentes carismas presentes em sua paróquia, dentre eles a vida consagrada, promovendo um trabalho em conjunto e dando oportunidades para conhecer e viver o carisma da vida consagrada na Igreja e junto aos leigos;

· Há rigidez nas regras, nas vestes, no poder, tanto por parte da vida consagrada, como também na Igreja, isso cria tensão e dificuldades de permanecer no essencial, que é o anúncio do Evangelho. A preocupação com coisas secundárias e não com o essencial da evangelização distancia hierarquia e vida consagrada;

· Às situações rígidas, fechadas, criam também pessoas tristes, amargas com dificuldade de relações sadias e verdadeiras;

· Questões não resolvidas na área afetivo-sexual acabam criando situações desagradáveis na ação da Igreja, sendo um contratestemunho;

· Pouca valorização e inclusão dos diferentes carismas na Igreja local no que diz respeito ao todo da dinamização da Ação Evangelizadora;

· Os consagrados são considerados mais executores do que pessoas que contribuem para pensar a própria caminhada eclesial; presencia-se ainda grande desigualdade no suprimento das necessidades das religiosas, com contribuições que chegam a ser injustas no que se refere ao trabalho que exercem;

· Pouca presença dos presbíteros nos espaços onde a vida consagrada atua (educação, saúde e assistência social). Restringem-se à administração dos sacramentos e a parte burocrática da paróquia e alegam falta de tempo para marcar presença junto às crianças, aos jovens especialmente, às famílias, aos mais pobres e vulneráveis. Isso acaba criando um distanciamento e perde força de uma Igreja de comunhão, de unidade. O hierárquico parece ganhar força em detrimento ao carismático.

· Muitas vezes o pouco acesso à formação profissional, à investigação científica, ao emprego remunerado, aos lugares de decisão, não lhes dá uma boa qualificação por parte dos consagrados mantendo-os em espaços inferiores às reflexões eclesiais e consequente participação nas decisões.

· Muitas vezes, a exclusão ou a não valorização da mulher consagrada na Igreja parte dela mesma. Exemplo quando se trata da preparação e produção acadêmica. Diante de tantas coisas para dar conta numa dupla jornada de trabalho, às vezes, o espaço para se preparar fica em segundo plano. Diante deste fator reforça-se o patriarcalismo assumido pelas várias instâncias tanto eclesiais, quanto sociais e culturais.

Na Terra da Padroeira do Brasil, nos 300 Anos do encontro da pequenina Imagem, imploramos bênçãos a todos os nossos pastores, consagrados e consagradas do nosso querido País.

Ir.Maria Inês Vieira Ribeiro, mad

Presidente da CRB Nacional

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