Nota de repúdio à violência contra o povo Yanomami

Na tarde do dia 11 de abril, indígenas fizeram ato contra o garimpo em frente ao Ministério de Minas e Energia, em Brasília. Foto: Marina Oliveira/Cimi

 

No dia 18 de abril de 2022, a  Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano
(CEPETH), emitiu a seguinte

 

Nota de Repúdio à violência  contra o povo Yanomami

“Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles
vai testemunhar contra vós e devorar vossas carnes, como fogo!” (Tg 5,3)

A Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, vem a público expressar, veementemente, sua indignação e repúdio diante da violência sofrida pelo povo Yanomami, especialmente a invasão do garimpo ao seu território, a violência sexual contra mulheres e crianças e o completo descaso do governo.

O relatório “Yanomami Sob Ataque: Garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”*, divulgado em 11 de abril, construído pela Hutukara Associação Yanomami, denuncia a dramática realidade em que vivem as comunidades Yanomamis do Amazonas, de Roraima e, também, revela que a exploração do garimpo cresceu 46% nas reservas indígenas em 2021.

Os números de ataques criminosos contra as comunidades Yanomamis são alarmantes e desesperadores.

O documento traz ainda relatos de violência sexual e estupros sofridos por adolescentes e mulheres yanomamis, praticados por garimpeiros invasores que desenvolvem atividades criminosas de extração de ouro.

A presença do garimpo ilegal nos territórios indígenas tem provocado a contaminação por mercúrio, afetando a saúde dos rios e florestas e das populações que ali vivem.

O povo Yanomami encontra-se ameaçado, violentado e em grande vulnerabilidade sob precárias condições de vida, fome, desnutrição e sujeitos a adquirirem doenças endêmicas, infectocontagiosas como a malária, dentre outras.

Vale enfatizar que a Covid-19 também gerou graves perdas e consequências aos povos indígenas.

Tudo isto é fruto da inoperância do Estado brasileiro, em particular do governo federal, que de forma explícita vem desenvolvendo ações para expulsar os povos e comunidades de suas terras tradicionais; concedendo sobretudo títulos de propriedade aos que se apossam de terras públicas, em especial onde se encontram os povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e áreas ambientais.

A CEPEETH, une-se à reivindicação das lideranças indígenas na voz de Dário Kopenawa:

“O governo precisa avaliar suas ações, pois muitas operações de combate ao garimpo não surtiram efeito. Esse documento, ‘Yanomami Sob Ataque: Garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo’ mostra a realidade que estamos vivendo e suas consequências, de muita violência e vulnerabilidade. O meu povo está sofrendo.Pedimos o apoio da população para se unir ao nosso grito de socorro para a retirada imediatados garimpeiros do nosso território”.

Fiel ao seu compromisso místico-profético com os clamores dos pobres e da terra, a Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) expressa solidariedade e compromisso com a defesa da vida das comunidades Yanomamis e das florestas, sobretudo, as áreas de reservas indígenas; repudia e denuncia com indignação,toda forma de exploração e violência em especial, a violência sexual contra Mulheres, adolescentes e crianças.

+ Evaristo Pascoal Spengler
Bispo de Marajó (PA)
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o
Enfrentamento ao Tráfico Humano

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 Foto: Bruno Kelly/HAYcimi.org.br

*Denúncia: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami

A Hutukara Associação Yanomami lançou, na manhã da segunda-feira (11 de abril 2022), o relatório “Yanomami Sob Ataque: Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”. No documento, a associação apresentou as consequências do avanço das atividades garimpeiras na maior terra indígena do país.

Segundo o relatório, o número de comunidades afetadas diretamente pelo garimpo ilegal soma 273, abrangendo mais de 16 mil pessoas, ou seja, 56% da população total. O documento apresenta ainda denúncias de inúmeros ataques de criminosos contra comunidades indígenas e uma cronologia do assédio ao Palimiu em 2021 – região onde há a forte presença do grupo Primeiro Comando da Capital (PCC).

Em 2021, o garimpo ilegal avançou 46% em comparação com 2020, segundo o relatório. No ano passado, já havia sido registrado um aumento de 30% em relação ao período anterior. O estudo feito pela Hutukara denuncia também que, de 2016 a 2020, o garimpo na Terra Indígena (TI) Yanomami cresceu 3.350%. 

Registros aéreos captados em janeiro de 2022 pela própria Hutukara mostram que o garimpo está cada vez mais perto das comunidades indígenas, além dos rastros de destruição deixados nas florestas e rios. Por meio das imagens, a associação flagrou também aeronaves, helicópteros e equipamentos utilizados nas atividades ilegais de garimpo. 

O texto do documento faz uma série de recomendações ao Poder Público e frisa que o garimpo “não é um problema sem solução”. Mas lembra que é preciso vontade política para garantir uma atuação eficiente e coordenada do Estado brasileiro e seus órgãos e agentes responsáveis. 

Fonte: cimi.org.br

 

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