Ingredientes do nacionalismo populista

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Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs

Não é difícil traçar o perfil de um representante do chamado nacionalismo populista, o qual tem levado ao poder “homens fortes” em vários e diferentes países, como Estados Unidos, Áustria, Hungria, Brasil, Itália, entre outros. O jornalista e escritor italiano, Federico Rampini, elenca alguns de seus ingredientes “universais” (Rampini Federico, Quando inizia la mostra storia, Ed. Mondadori, Milano, 2018, pag. 383). Em primeiro lugar, é preciso desenvolver uma mensagem apocalíptica, no sentido de despertar medos e preconceitos na população. Por um lado, trata-se de manipular e instrumentalizar ameaças e fantasmas, em vista de interesses eleitoreiros e corporativistas. Por outro, entra em jogo a habilidade de desenhar os contornos de caricaturas falsas, exagerando, por exemplo, os riscos de abrir as portas aos estrangeiros ou da concorrência comercial. Daí a tendência ao isolamento e ao fechamento das fronteiras, evitando o “problema” dos migrantes, prófugos e refugiados.

Um segundo ingrediente vem de um contexto em que predomina uma crise econômica forte e prolongada. Crise que avança sempre acompanhada de declínio e debilidade do “establishment”. Evidentemente, o medo e a ameaça, citados anteriormente, ganham raízes profundas no terreno movediço da falta de emprego, da perda de poder aquisitivo e de condições precárias de vida. Ao mesmo tempo que um solo cada vez mais escorregadio parece abrir-se debaixo dos pés, as estrelas como que se apagam nos céus. Perdem-se as referências que nos guiavam: as verdades convertem-se em dúvidas, as certezas em incertezas e as perguntas superam a capacidade de encontrar respostas. Navega-se sem bússola na “modernidade líquida” de Bauman. Em lugar de assumir a consequências das próprias decisões, melhor depositar a liberdade pessoal aos pés de alguém mais poderoso. Alguém que passa a ditar as leis e as regras, carregando sobre os ombros o “fardo” da responsabilidade. A força aparente, entretanto, esconde uma dificuldade de diálogo e de raciocínio lógico. Os instintos se sobrepõem à racionalidade.

Um terceiro fator pode ser a coincidência de um novo meio de comunicação, ou de uma forma inédita e mais veloz de comunicar-se. Neste sentido, não é exagero afirmar que a invenção da imprensa, por Johannes Gutenberg (1398-1468), permitiu a Martin Lutero (1483-1546) e demais seguidores acelerar suas ideias a uma velocidade sem precedentes. Permitiu igualmente a difusão também sem precedentes da Bíblia, bem como a livre interpretação de seus escritos. Deus origem a uma onda de tensões e guerras religiosa que só seriam controladas pelo tratado ou paz de Vestfália, em janeiro de 1648. Nos dias atuais, a maioria dos estadistas eleitos nos últimos anos nos países assinalados acima, chegou ao poder com o auxílio da Internet e das redes sociais do mundo virtual. Veículo ambíguo e volátil, em que as “Fake News” e os fatos reais têm limites nebulosos e flexíveis.

O quarto e último elemento tem a ver com o narcisismo do político, o qual costuma apresentar-se, simultaneamente, como profeta e pregador. Uma ilimitada e às vezes doentia autoestima desvia-o de qualquer confronto direto e aberto com os demais projetos concorrentes, enquanto candidato, ao mesmo tempo que o leva a fugir de uma séria e oportuna autocrítica, quando sentado no trono. Prepotente a arrogante, basta-se a si mesmo. Manobrando a vontade popular, por uma série de mecanismos já entrevistos, faz dela seu trampolim para subir os degraus do poder, como também seu ponto de apoio para desdenhar e liquidar os opositores. O apelo frequente ao número de votos recebidos torna-se sua arma principal, como se a democracia dependesse mais da quantidade que da qualidade. Tende a dirigir-se diretamente à massa, em lugar de contar com a intermediação, mais atenta e menos incauta, de grupos, movimentos, instituições ou organizações de base. Teme e dispensa os debates, agarrando-se prevalentemente a determinados bordões, slogans ou chavões, os quais costumam dizer tudo sem nada explicar de maneira concreta e detalhada. Em vez de um passo adiante no duro processo democrático, instalam-se uma espécie de ditaduras disfarçadas.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs – Rio de janeiro, 1º de fevereiro de 2019

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