Faleceu hoje o teólogo dominicano, Frei Carlos Josaphat

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Frei Carlos Josaphat, que celebrou os seus 99 anos de idade na última 4ª feira e estava hospitalizado há um mês, viveu sua Páscoa hoje às 20:20 horas, em Goiânia, onde morava há dois anos para cuidados especiais com a sua saúde, juntamente com seus irmãos dominicanos no Convento São Judas Tadeu, carinhosamente chamado de “Comunidade Samaritana”.

Nascido na cidade de Abaeté, Minas Gerais, no dia 4 de novembro de 1921, Frei Carlos tinha 10 anos de idade, quando seu pai faleceu e, dois anos depois, foi estudar no Seminário de Diamantina. Seus primeiros estudos de Filosofia e Teologia foram feitos em Petrópolis, RJ. Ordenou-se presbítero no dia 8 de dezembro de 1945 e, logo em seguida, iniciou sua dedicação ao ensino da Teologia, começando pelo Seminário onde estudou, seguindo depois com a mesma missão em Fortaleza e Recife, onde teve o primeiro contato com o educador Paulo Freire.

Com 32 anos de idade e com 7 anos de ordenação presbiteral, tornou-se frade dominicano, fazendo sua profissão religiosa em 11 de junho de 1953; ele pertenceu inicialmente à Congregação da Missão de São Vicente de Paulo, também conhecidos como lazaristas. Sobre esta Congregação, Frei Carlos assim se expressou: “deles recebi e a eles agradeço minha formação no nível secundário e superior”.

O jovem dominicano, em julho de 1953, parte para a França em vista de aprimorar seus estudos, onde permaneceu por 4 anos; oportunidade em que teve o primeiro contato com alguns dos teólogos que muito contribuíram para a renovação da Igreja Católica e com outras pessoas, cujos pensamentos muito ajudaram na defesa dos Direitos Humanos: Karl Rahner, Congar, Chenu, Jacques e Raisa Maritain, Etienne Gilson e Emmanuel Mounier.

De volta ao Brasil, sempre muito inquieto, antenado e corresponsável com o mundo, com a humanidade e com a Teologia, em fins da década de 50 e início dos anos 60, com o impulso especialmente do Ensino Social do Papa João 23, o frade dominicano engajou-se política e socialmente e, com o apoio da Juventude Universitária Católica – JUC – e da Ação Popular – AP –, lançou o jornal Brasil Urgente, cujo lema era “A verdade, custe o que custar; a justiça, doa a quem doer”. Este periódico foi fechado pela polícia política da Ditadura, em 1º de abril de 1964. O teólogo já dizia: “é preciso dialogar por cima dos muros”, referindo-se aos dois blocos: capitalista e comunista. Apesar do grande apoio que sempre teve de seus irmãos dominicanos, seus pensamentos e suas atitudes custaram-lhe muitos aborrecimentos, tais como: “Fora padre comunista”, dizia uma pichação anônima na porta da Igreja São Domingos, no bairro das Perdizes, em São Paulo, onde celebrava missas muito frequentadas, em razão de suas homilias.

Nesta época, Paulo Freire e Carlos Josaphat sentiram uma grande convergência aos projetos e ideais de despertar a consciência e a militância em todo o povo brasileiro. O encontro se dava, sobretudo no diálogo entre a ética e a pedagogia libertadora.

Frei Carlos, juntamente com dezenas de lideranças sociais e educadores, entre os quais Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Frei Mateus Rocha – também frade dominicano –, participou da elaboração de um projeto de educação popular da nova capital federal, a nascente cidade de Brasília. Josaphat afirmava: “a revolução cultural, que era a nossa bandeira, nada tinha que ver com derramamento de sangue. O nosso ideal era difundir a paz e ajudar o povo a crescer na formação, em verdadeira liberdade de pensar, superando a manipulação dos grandes jornais e dos grandes capitais concentrados”.

O frade dominicano, “convidado antes da hora, a experimentar outros climas”, viveu na França e na Suíça por 30 anos, oportunidade inclusive em que se reencontrou com o mestre da educação popular, ambos exilados, devido à ferrenha oposição à Ditadura no Brasil. Doutorou-se em Paris com a tese “Ética da Comunicação Social e do Jornalismo”, estagiando inclusive no Jornal Le Monde. Na Suíça, além de professor de Teologia por 27 anos; pesquisador e escritor também em língua francesa, ele atuou na defesa dos Direitos Humanos de trabalhadores estrangeiros, especialmente brasileiros. Em 1977, recebeu a notícia do falecimento de sua mãe, através de um telegrama.

Frei Josaphat voltou ao Brasil em 1994, lecionando Teologia e publicando uma série de livros, sendo uma de suas grandes paixões as causas de Frei Bartolomeu de Las Casas. Sua militância intelectual pode ser sintetizada em pesquisador, escritor, professor e conferencista, cuja centralidade fica por conta de questões teológicas, sociais e éticas, com o recorte de desafios, especialmente da pós modernidade. Ele é autor de 63 livros e de incontáveis artigos.

Na conjuntura de hoje – com as nossas alegrias e os nossos sofrimentos – por fidelidade aos ensinamentos-heranças desta semente mineira, cuidemos de nossa espiritualidade, a exemplo do que ele afirma em seu livro Evangelho e Revolução Social (1962): “a dimensão social é essencial à consciência cristã, sem ela a atitude cristã estará deformada e radicalmente inautêntica; o cristianismo é, ao mesmo tempo, um movimento religioso de procura a Deus e uma sede de Justiça”.

Consumada a história deste frade dominicano, “na docilidade do Espírito”, convido a cada pessoa que tiver contato com este texto a participar do mutirão orante em ação de graças a Deus pela profunda presença humana e teológica de Frei Carlos Josaphat entre nós. Ao plantarmos, em Abaeté, o corpo deste nosso irmão muito querido, teólogo, escritor, conferencista, professor emérito da Universidade de Friburgo, professor de nossa Escola Dominicana de Teologia – EDT, do Instituto de Teologia de São Paulo – ITESP – e doutor honoris causa pela PUC de São Paulo, peçamos a Deus que esta semente brote, cresça e produza muitos e inspiradores frutos, para que a humanidade possa verdadeiramente “Crer no Amor Universal” (2001), que é o título de outro de seus livros de Teologia.

Expresso aqui – em nome de uma multidão de gente – a nossa gratidão e nosso carinho à toda a família de Frei Carlos, seus dois irmãos, suas quatro sobrinhas e seus oito sobrinhos-netos. Ele tem uma irmã religiosa e dois irmãos falecidos! Nosso sentimento de gratidão também vai a cada pessoa que teve a graça de conviver com ele, quer em seu serviço de escritor, de professor e de conferencista, bem como àquelas que dispensaram, com tanto carinho, os cuidados à saúde dele.

Celebraremos uma “missa de corpo presente” na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, em Goiânia, amanhã, dia 10 às 8 horas, após o que o corpo retornará para Abaeté, seu berço natal, onde será celebrada outra Eucaristia, na 4ª feira, dia 11, às 9 horas, seguida do sepultamento, no cemitério local.

Frei José Fernandes Alves, OP.
Na fraternura do Reino

– Prior Provincial –

Fonte: INFORMATIVO DA PROVÍNCIA FREI BARTOLOMEU DE LAS CASAS – DOMINICANOS NO BRASIL

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