“E agora?” – Mensagem final da presidente da CRB aos congressistas

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“Ardia o nosso coração,
Quando Ele nos falava no caminho!”
(Lc 24, 32)

E agora?

Queridas Irmãs,
Queridos Irmãos!

Como Maria e Cléofas de Emaús, precisamos e desejamos voltar para nosso lugar de origem: a comunidade de nossa Jerusalém! O caminho é o mesmo, ainda que nosso endereço possa ser diferente, por alguma transferência ou outro motivo qualquer. O caminho é o mesmo, porque voltamos para a comunidade e para a realidade da missçao, nossa Jerusalém! Lá, vamos encontrar as Irmãs e os Irmãos que Deus reuniu para constituit como “lugar teologal” desde onde testemunhamos ao mundo, o Carismo que Ele nos confiou.

O caminho é o mesmo, mas você, e eu, nós… voltamos diferentes. Temos tantas coisas para contar, para compartilhar, para gritar, para mudar em nosso cotidiano, e também no cotidiano de nossas comunidades. Será??? Será que, à luz do caminho de Emaús, nosso retorno será assim?

Meu primeiro convite a vocês, neste momento, é para mais uma contemplação do maravilhoso texto escrito por Lucas, sobre o caminho de Emaús. Sempre Lucas 24. Antes, quero repetir, mais uma vez, um conhecido comentário feito ao final dos Capítulos Gerais, Provinciais e Regionais de nossas Congregações – atenção: o desafio nunca está no Capítulo; o desafio está sempre nos versículos. Vamos então aos versículos:

1. O lema deste Congresso se encontra no verso 32, que registra o momento em que os dois discípulos, já com seu olhar limpo, reconheceram JESUS! O “antes” deste versículo, teve um momento crítico, de discernimento: dedicimo-nos por Jesus, aqui e agora, ou deixamos que continue seu caminho. Esta decisão é a chave! E ela está em nossas mãos. E depende de nós, a renovação diária do convite. Permanece, Jesus, permanece CONOSCO! Lucas usa este verbo vinte vezes, sempre em momentos muito significativos. Um estudo atento do uso deste verbo, nos chama atenção para algumas coisas:

Permanecer implica alguns compromissos. Por exemplo, hoje, a juventude usa o verbo ficar, para definir uma relação passageira, superficial. Não é nosso caso. O contexto em que Lucas usa o verbo permanecer implica em:
? fazer algo que favoreça o estar juntos;
? estabelecer morada,
? conviver, partilhar, colocar-se em comunhão.

Permanecer é a melhor expressão da vida em comunidade:
? Segundo João (15,1-17) só produz frutos quem permanece em Cristo.
? Segundo Marcos 3,14 Jesus constituiu um grupo para que permanecessem com ele e para enviá-los a pregar.
? Em Lucas 19,5 Jesus disse a Zaqueu que precisava permanecer na casa dele. Zaqueu o acolheu e mudou de vida (19,8).

Em Emaús, primeiro Jesus se ofereceu para caminhar com eles; em seguida, são os discípulos que oferecem seu lar, pedem a permanência de Jesus (24,31-35).

Permanecer, conviver com Jesus faz a diferença, mas é caminho de duas mãos. Ele quer permanecer-ficar, conviver conosco, mas também nós precisamos querer permanecer com ele. Este é um dom e um desafio. Assumindo o desafio construímos e experimentamos o dom.

O momento marcante do Encontro de Maria e Cléfas de Emaús com Jesus, nesta permanência de Jesus na casa, sublinha ainda outro detalhe: quando Jesus entra, não entra como hóspede. Entra como dono, proprietário. Ele assume a liderança da vida de suas discípulas e seus discípulos. Assume o comando de tudo o que acontece naquela mesa – toma o pão, abençoe, parte e reparte (o que é tarefa do pai da família)! Jovens, é prioritário entregar o protagonismo das decisões a Jesus.

2. A partir do verso 33, abordamos os pontos de luz para nosso momento de voltar:
O verso 33 diz: na mesma hora, voltaram a Jerusalém. Encontraram os 11 e os que estavam com eles. É o que vai acontecer conosco dentro de algumas horas. Por isso, vamos prestar atenção ao que se passa na chegada.

Verso 34. Para quem imagina que Maria e Cléofas irromperam porta adentro clamando o tamanho de sua alegria, como retratamos normalmente Maria Madalena, que anuncia impetuosamente “eu vi o Senhor”!, o relato de Lucas nos surpreende. Os discípulos de Emaús entram em sua comunidade silenciosamente. Lá no recinto, os outros estavam falando – “todos diziam: o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”. Nós poderíamos, neste momento, estar pensando que nossas Irmãs e nossos Irmãos, lá em casa, não viram Jesus, nem sua Mãe Aparecida. Nós vimos!!! E queremos ensinar como Ele (Jesus) e Ela (a Mãe Aparecida são)… Que bom – o texto nos ensina a chegar em silêncio, abraçar cada uma e cada um, e ouvir primeiro o que eles têm a nos dizer…

O verso 35 ensina que precisamos partilhar, sim, precisamos falar. “Eles, por sua vez, contaram o que lhes havia acontecido no caminho e como o tinham reconhecido no partir o pão.” Que legal – são duas partes da vivência: No caminho, o aquecimento do coração pela acolhida orante da Palavra de Deus. E no reconhecimento de Jesus, o mistério de nossa fé! Eles testemunham ambos, no momento certo, do jeito certo!

3. Eu também pensava que a história de Emaús terminava com este versículo, o de número 35. É comum, nós também fazemos isso – vamos ler a história de Emaús: Lucas 24, 13-35. Descobrir que a história não termina aí, mexe um bocado comigo…

Não há nenhum sinal de interrupção do relato entre os versos 35 e 36 e seguintes.

Verso 36 – “enquanto ainda falavam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse: a paz esteja com vocês.” Esse Jesus! Sempre Ele… Veio correndo atrás dos dois… Mas não é isso que me impressiona tanto! Ele é assim mesmo; não desiste nunca de nós!
Me impressiona, sim, o fato das minhas expectativas dizerem que Maria e Cléofas tinham gravado tão profundamente a experiência vivida, que jamais haveria qualquer dúvida.

Verso 37 – perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Como eu gostaria que Lucas tivesse escrito de que jeito Jesus estava vestido, ou como estava seu rosto. Não fez, como não vai fazer conosco, nem agora, depois do Congresso. Ele vai estar sempre nos surpreendendo… Vamos ter que reconhecê-nos nos sinais.

Tem mais. Vocês pensam que Jesus “jogou a toalha”? E disse: desisto?… Que nada!

Jesus denuncia mais uma vez a falta de fé! (verso 38): “como vocês tem dúvidas no coração!”Poderia acontecer de Ele estar dizendo isso para alguém aqui entre nós?

Versos 39 e 40 Jesus muda de estratégia. No itinerário da ida, entre Jerusalém e Emaús, Jesus primeiro falou, depois revelou-se na mesa da refeição – o ágape!
Agora, ele decise começar pelo concreto. “olhem para mim – minhas mãos, meus pés. Eu tenho osso, carne.”

O verso 41 esclarece que não adiantou nada. Eiz que “eles continuavam vacilantes e transportados de alegria” Eu imagino duas coisas: a) Jesus estava parecido demais com qualquer outro!!! b) Eles desconfiaram que, doravante, Jesus se pareceria poderia, sim, identificar-se com qualquer outro, e isso os transportou de alegria.
Gente – onde, como, parecido com quem, vamos encontrar Jesus. Mais importante: onde, como, as outras pessoas vão me identificar com Jesus???

Então Ele, Jesus pede comida… E ganha um pedaço de peixe. Dá para perceber com quem Jesus estava parecido? Ele pediu comida… E eles deram um pedaço (tinha sobrado um pedaço, ou alguém ainda não tinha comido). Sabemos agora com quem Jesus se parece em nosso cotidiano? E Jesus comeu!!!

No versos 44-47 – lemos que ele repetiu tudo o que ja tinha falado no caminho de ida para Emaús. “Depois lhes disse: Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos. Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as Escrituras, dizendo: Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.

4. Mas no verso 48 existe um acréscimo: “Jesus diz: vocês são testemunhas”!

Esta será também a Palavra final deste Congresso: você é testemunha!

Nós temos discutido muito, nos últimos tempos, sobre qual é a missão da Vida Religiosa. Testemunhar, testemunhar, testemuhar!!! Testemunhar JESUS, testemunhar os traços do rosto de Deus, que nosso Carisma Fundacional descreve! A Vida Religiosa é a memória viva do Evangelho, e por isso, somos uma reserva de esperança para o mundo, que pode ler, através de nossa vida, a boa notícia do Evangelho de Jesus.

O casal de Emaús, que voltaram de Emaús a Jerusalém com um novo olhar e com um coração aquecido, se revestem agora de um revigorado ardor missionário. A Vida Religiosa é um convite a romper fronterias. Somos pessoas da primeira hora, pessoas da madrugada!

É por isso, por exemplo, que amamos tanto nossa Mãe Aparecida: por sua atitude de quebrar costumes, de revestir-se da vida dos pobres, ter empreendido a luta em defesa dos escravizados aqui, neste vale do Paraíba, que representa hoje, as realidades para onde voltamos.

Testemunhe, jovem, sem medo, celebre sem qualquer constrangimento, sem máscaras e sem couraças, o ardor que queima seu coração neste momento. Vocês, jovens consagradas e consagrados, sigam na convicção de que Ele também segue vocês, na volta para casa, na mesma direção, sem se cansar de repetir palavras, gestos e sinais, para que o reconheçamos.

Querida, querido!

Esta é a verdade que nos une! Nós, que fizemos a mesma experiência, continuemos em comunhão.
É esta a verdade que eu recordo agora a vocês: a pessoa de Jesus. Ele sempre, sempre ele, definindo e redefinindo todas as regras sobre como superar os desafios da Vida Religiosa Consagrada. Como um divisor de águas, separando luz e trevas, vida e morte. Ele, cuja encarnação trouxe ao mundo uma crise radical, e ao mesmo tempo a mais transformadora de todas as utopias – O REINO DE SEU PAI. Este Jesus, que não só chama ou convida pessoas, mas formula sua proposta de forma tão absoluta, que obriga a uma tomada de posição sem meios-termos.
Esta é a única perspectiva que garante o presente e o futuro da Vida Religiosa Consagrada, que caminha, após um tempo de exílio, de volta para a terra santa que é sua casa.
Permanece conosco Senhor!

Aparecida, 12 de fevereiro de 2013
Irmã Márian Ambrosio
Presidente Nacional da CRB

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