Dom Casaldáliga: os 3 “Ps” do Pedro

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Dom Casaldáliga: os 3 “Ps” do Pedro

 

P A S T O R

 

Vindo do outro lado do mar, trouxe no corpo e na alma a marca da liberdade;

manteve redobrada solicitude socio-pastoral diante dos pobres e dos excluídos,

usando a palavra e o bastão não para golpear as ovelhas perdidas e indefesas,

mas para afugentar os lobos fortes, ferozes e famintos por trabalho humano;

dedo em riste e língua afiada contra o latifúndio e as cercas, a tirania e a ditadura,

na proteção  dos povos indígenas, dos camponeses e das comunidades quilombolas.

Homem de Deus, do tempo e dos oprimidos; do Xingu, das águas e da Amazônia,

defensor da vida em todas as suas formas e da preservação do meio ambiente,

sentinela sempre alerta à vida onde ela encontrava mais frágil e ameaçada.

 

P R O F E T A

 

Chegou com o sonho do Reino de Deus, da Pátria Grande, do novo céu e nova terra;

e logo fez-se porta-voz da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais e Base,

  das Pastorais Sociais, da defesa dos Direitos Humanos e das organizações populares.

Combatente intrépido do “bom combate” e companheiro de todos os caminhantes,

percorreu rios e igarapés, veredas e estradas, visitando vilas, povoados e comunidades.

“Discípulo missionário” do profeta itinerante de Nazaré, incansável na vinha do Mestre;

nas terras devastada pela violência dos senhores, com seus capatazes, grileiros e jagunços,

pôs-se decididamente ao lado de posseiros, migrantes e pequenos produtores,

e como na palma da mão, possuía o mapa das comunidades ribeirinhas,

sem medo das ameaças, armadilhas, artimanhas e armas dos fortes e poderosos.

 

P O E T A

 

Da Catalunha trouxe também a sensibilidade artística, com acentuada veia poética,

olhar estético para as águas e os peixes, as estrelas, as flores e os frutos da Amazônia,

mas também para as dores e sofrimentos dos povos que ali viviam e trabalhavam,

nutrindo sonhos, lutas e esperanças na construção de uma “terra sem males”.

Poeta da biodiversidade, de todos os povos e raças, das múltiplas e variadas culturas,

 interprete misterioso do divino e do humano, da terra e do céu, da selva e da cidade,

formado que era na escola do silêncio e da escuta, do cotidiano e da Palavra,

 impregnado na sabedoria e no segredo de uma espiritualidade multicultural,

aberta e transparente aos caminhos e valores de cada pessoa e suas descobertas.

 

Pedro: pastor, profeta e poeta

 

Trocando o velho continente pelas terras novas e viçosas das Américas,

supera a “globalização da indiferença”, como alerta o Papa Francisco,

pela cultura da acolhida, do encontro, do diálogo e da solidariedade,

deixando para traz qualquer tipo de preconceito, xenofobia ou discriminação;

mestre e aluno, aluno e mestre – pronto sempre ao intercâmbio de saberes,

aprendizado livre e recíproco que a todos e todas enriquece.

Através do outro, pavimenta o caminho para o Totalmente Outro,

através do diferente, descortina o horizonte para o Transcendente.

 

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, vice-presidente do SPM – Rio de Janeiro, 8 de agosto de 2020

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