Nossos meios de comunicação repetem que há crise humanitária na Venezuela, e por isso seria um crime o governo não aceitar as ofertas que estão chegando pelas fronteiras da Colômbia e do Brasil. Há problemas sociopolíticos por lá, não há dúvida. Mas seria ingenuidade achar que governos que apoiam a derrubada do governo venezuelano seriam, de repente, solidários com o povo. Quando os Estados Unidos estiveram por trás de iniciativas como estas, a aparente solidariedade abriu caminhos para invasões militares, gerando guerras, violência e morte em nome da imposição de um tipo de democracia que sempre, sempre favorece os grandes grupos econômicos. No caso da Venezuela, os Estados Unidos estão apoiando uma oposição comandada por ricos e que usa a riqueza para retirar alimentos e remédios das prateleiras, e o faz para retomar o poder político e explorar o petróleo junto com as grandes petroleiras estadunidenses.
Há equívocos nas práticas do governo venezuelano? Certamente. Mas os observadores internacionais classificaram a última eleição como legal e legítima. Então, o que a oposição deve fazer é melhorar a relação com o povo e apresentar propostas de governo melhores do que as atuais. Não é legal nem legítimo o caminho do golpe, e menos ainda o da invasão militar estrangeira.
Sobre o alto número de migrantes que chegam ao Brasil e à Colômbia, vale perguntar: e quando houve milhões de migrantes colombianos, que foram para a Venezuela fugindo a violência dos grupos armados, porque não houve invasão estadunidense? Certamente porque o governo era aliado dos Estados Unidos e dos grupos econômicos. O da Venezuela foi transformado em inimigo para justificar o golpe, como aconteceu também em nosso país.
Enquanto isso, o Padre Júlio Lancelotti, que convive e luta pela vida com o povo de rua em São Paulo nos adverte: no Brasil há, com certeza, uma crise humanitária, e ela se manifesta no aumento do povo de rua. Nas palavras dele: “o número de jovens e idosos é muito grande. Há uma negligência na questão da saúde e da moradia. Na questão do trabalho, há uma exploração. Em São Paulo são 20 a 25 mil, no Rio de Janeiro são 16 mil, no Brasil são mais de 100 mil”.
Levemos a sério a crise humanitária que afeta tantos irmãos e irmãs do Brasil, e que será agravada pelo tipo de reformas que estão sendo impostas ao povo.
Ivo Poletto, do Fórum MCJS