Assim no Brasil como nos Estados Unidos

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Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs

“… Assim no Brasil como nos Estados Unidos”, reza o Pai Nosso do novo governo. Ainda está quente o sangue dos adolescentes brutalmente assassinados na escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na grande São Paulo. Sangram igualmente as feridas abertas em outros alunos e alunas que tiveram de correr para o hospital mais próximo. Sangram, ainda, as feridas invisíveis, mas indeléveis, de outros alunos, professores e familiares dos estudantes. E sangram, por fim, os corações de todas as famílias que têm filhos nas escolas.

Tudo isso, entretanto, segundo os representantes do Palácio do Planalto, não impedirá às autoridades governamentais levar adiante o projeto que facilita a posse e o uso de armas no Brasil. Nada disso: nenhum passo atrás! “Se um dos professores estivesse armado, talvez pudesse defender a classe e evitar o pior”, chegou a admitir uma voz altamente qualificada. Pode-se imaginar o que poderia ocorrer caso professores e alunos pudessem entrar armados em sala de aula?!… Certamente não faltariam tragédias a partir de uma simples discórdia, de uma nota negativa, de um conflito ou de um mal-entendido.

Mas é assim nos Estados Unidos da América!… Os cidadãos têm o direito de se armar para se defenderem!… Que o digam os filmes de “bang-bang” desde os tempos da conquista do oeste! Ou a tragédia levada ao cinema sobre os “Tiros em Columbine”. Se o acesso às armas é livre no país de Mr. Donald Trump, por que não pode ser também em território brasileiro? É verdade que por lá, vez por outra, algum adolescente ou jovem doente ou desvairado, arma em punho, entra em determinada escola e pratica o tiro ao alvo, deixando um rastro macabro de sangue, alguns cadáveres e outros tantos feridos. Será esse o preço a pagar para que um punhado de pessoas tenham o direito de defesa? Ou não será, antes, a consequência fatal de colocar mais armas em poder da população?

Há, porém, algumas perguntas mais sérias e profundas, e que não podem e não devem ficar silenciadas. Quem perde e quem ganha com a produção em massa de armas? Onde estão localizadas as maiores fábricas da indústria bélica? Quais os países que mais produzem, mais vendem e mais incentivam o uso de armas no mundo? Aprovado o direito de comprar e portar arma, onde vão parar as armas que o cidadão comum adquire? Uma casa ou uma família torna-se mais segura com a posse de uma arma? Diante de uma invasão da propriedade privada ou de um assalto, a arma serve mesmo de defesa? Uma escola elementar estará mais protegida com professores armados? A arma, no fundo, representa possibilidade de proteção ou risco de morte? E o ditado popular de que “violência chama violência”?

Mais grave, ainda, é reduzir uma política de segurança pública à possibilidade de cada cidadão comprar e possuir uma arma. Transfere-se para a população um dos deveres do Estado, o de oferecer a devida segurança. Seja como for, parece que, em política, a moda agora é seguir de perto os passos do presidente dos Estados Unidos!… O que vale para a defesa acalorada de leis anti-migratórias, para o uso das redes sociais como palanque na campanha eleitoral e no governo, para o voluntarismo personalista que se coloca acima das instituições, para um tipo de nacionalismo populista de extrema direita, e assim por diante. É o que vêm fazendo algumas figuras do cenário internacional.

O massacre em Suzano foi perpetrado por Luiz Henrique de Castro, 25 anos, e Guilherme Taucci Monteiro, de apenas 17 anos. Respectivamente, um jovem e um adolescente. O direito de ambos em poder manipular armas corresponde à morte trágica de ao menos 8 alunos e alunas. Uma vez mais, a tragédia imita uma prática bastante repetida nos Estados Unidos!… Lá e aqui, os protagonistas, além de jovens e portadores de qualquer tipo de patologia, costumam ter fácil acesso a armas poderosas e letais.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs – Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2019

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