Tempo de Deus

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Engana-se quem considera a sensibilidade o lado oposto da racionalidade. Também comete engano quem vê fraqueza na realidade sensível. Há diferença, mas não dicotomia, entre razão e emoção, entre cérebro e coração. O império da razão fez-nos crer na debilidade da natureza sensível. Quem sente é fraco. Quem pensa é forte. Porém, o equilíbrio do ser humano está na integração do pensar e do sentir. A força encontra-se na energia que flui desse equilíbrio. Para o ser humano que sabe se servir dessa força, quão belas são as relações consigo mesmo, com o outro, com a natureza e com Deus!

A sensibilidade se torna bela na razão. Senão, seria apenas água. A razão se torna bela na sensibilidade. Senão, seria apenas pedra. A estética do espaço urbano vem da perfeita integração do ambiente cultural – criação humana – e do ambiente natural – criação divina. Nada mais belo que viver em cidade limpa e arborizada, com praças, jardins, bosques, sem violência, sem misérias, sem neuroses. Da mesma forma, nada melhor que morar e estudar em ambientes agradáveis, com espaços verdes para brincar, passear, pensar, sentir, conviver…

Da harmonia entre criatura e Criador, nasce a beleza. A estética atinge o auge: o Reino de Deus – o amor – se torna arte. Não há arte sem razão e emoção. O amor não é apenas sentimento; é também razão que dá consistência à criação humana. Se Deus tivesse permanecido na emoção, não haveria criação. A emoção energiza a razão; a razão dá forma à emoção. O amor se concretiza. A existência e a vida tornam-se reais.

Pois bem, o que se fez com a sensibilidade? Certo dia, o ser humano resolveu “achar” que a razão bastaria. A ciência seria o novo “Deus” e daria todas as respostas ao ser humano. A ciência tornou-se a promessa da felicidade. O progresso realizaria o paraíso terrestre. Adeus, problemas!

Porém, a natureza tornou-se matéria-prima explorada e o ser humano mão-de-obra oprimida. Agora, o Planeta está imerso em crise socioambiental, e já não se sabe o que fazer com a sensibilidade nem com a racionalidade. Com o sensível, não se tem intimidade; do racional, tem-se desconfiança, por não ter realizado a promessa da felicidade. Há insegurança, há medo, há questionamentos.

Os sinais da crise já não batem à porta: estão dentro de casa, em quantidade, em freqüência e em abrangência. Não se pode ignorar sua nocividade, seu perigo iminente e fulminante: poluição da água, do solo e do ar, extinção de animais, desmatamento, aquecimento global; miséria, fome, analfabetismo, discriminações, radicalismos, violência contra as mulheres, as crianças e os idosos, corrupção, injustiças, entre tantas outras brutalidades contra o ser humano e contra as demais formas de vida. Onde está o paraíso prometido pela ciência?

Naturalmente, a ciência trouxe muitas maravilhas na área da comunicação, do transporte, da saúde física e mental, da educação, do esporte, do lazer e nas demais áreas. O ser humano deve continuar a expansão científica. Ai do povo que não se dedicar à ciência! Não há ruptura entre ciência e sensibilidade, ciência e cuidado, ciência e espiritualidade, ciência e política, ciência e economia, ciência e ética. Entretanto, o progresso científico e tecnológico deve ser empregado no bem de todos os seres humanos, não apenas de uma camada privilegiada. O progresso científico e tecnológico deve ser aplicado na preservação da natureza, no cuidado com a existência e com a vida, no embelezamento do Planeta Terra. Caso contrário, inútil seria continuar a evolução.

Contudo, apesar da crise, vive-se em era privilegiada. É na aflição que se conhece o verdadeiro caráter e a capacidade de criar. O ser humano atual tem a oportunidade de entrar para a história como a geração que fez o salto paradigmático. É o momento exato de reavivar a espiritualidade e a ética e de praticar a solidariedade. É o tempo favorável de dar novo semblante ao progresso: a paisagem da beleza e da estética, da paz e da harmonia, do cuidado e do bom convívio. É tempo de Deus.

Ir. Lauro Daros

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