Simpósio de Missiologia: “não existe uma nova etapa evangelizadora sem a profecia e o testemunho”

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Por JC. Patias| 02.03.2016|  A cidade de Pando, a 100 quilômetros de Montevidéu no Uruguai, é sede do 2º Simpósio Internacional de Missiologia em preparação para o 5º Congresso Missionário Americano (CAM 5). O objetivo é propor pistas de ação para o Continente inspirado no tema “América em missão, o Evangelho é alegria”. O Simpósio teve início no domingo, 28, e se estende até esta quarta-feira, 02.

“O discípulo missionário: profeta e testemunho de Cristo”. Este foi o tema da terceira conferência proferida nesta terça-feira, 1º de março, pelo padre mexicano Andrés Torres, da diocese de Puebla. Doutor em teologia, padre Torres é pároco em San Martin Texmelucan e membro da Equipe de reflexão teológica do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM).

Nesta nova etapa de evangelização, o teólogo fez uma relação entre o Documento de Aparecida e a Exortação Apostólica do papa Francisco, Evangelii Gaudium. Apresentado em quatro partes o conferencista situou o tema no horizonte da evangelização; destacou os elementos centrais da evangelização; as características que favorecem a credibilidade da Igreja, isto é, a comunhão e a caridade. Por fim falou sobre o discípulo missionário desde as vocações específicas.

“Os bispos da América e o papa Francisco nos estão chamando a uma nova etapa evangelizadora para repensar e relançar a missão da Igreja”, lembrou padre Torres. Segundo ele, “a riqueza das reflexões a partir do Concílio Vaticano II nos levou a recuperar o profetismo e o testemunho na vida da Igreja. Estas são dimensões essenciais. Com isso, temos de reconhecer que não existe uma nova etapa evangelizadora sem a presença dos profetas e dos testemunhos. O profeta é aquele que anuncia aquilo que o Senhor lhe está pedindo. O profeta é enviado com a força do mesmo Espírito. O testemunho é aquele que fez a experiência de Deus e conformou sua vida ao Evangelho. Pelo estilo de vida mais do que por palavras, ele é capaz de interpelar aqueles com os quais convive”.

Na sequência, padre Torres destacou a importância do profetismo e do testemunho. “Se somos chamados a uma nova etapa evangelizadora para sermos uma Igreja em saída, temos que fazer isso não tanto com as palavras, mas com o testemunho de vida. Se somos chamados a sermos portadores de uma mensagem de alegria, isso vamos traduzir não com as palavras, mas coma vida. Se somos chamado a penetrar na cultura necessitamos a voz profética que anuncia o plano de Deus e denuncia o que está contra esse plano. Eis a importância do profetismo e do testemunho”.

Segundo o teólogo, “o profetismo e o testemunho têm hoje uma força e uma atualidade que deriva da mesma força do Evangelho e se revela não tanto pelas palavras, mas pela experiência de vida. Isso procede da centralidade de Jesus Cristo, de um renovado conceito e experiência de Igreja e da concepção do ser humano e de sua integridade”. Padre Torres concluiu dizendo que tudo isso supõe uma conversão da parte dos discípulos missionários seja qual for a sua vocação específica.

As prioridades da missão na América
Na segunda conferência da manhã, o diretor do Centro Cultural Missionário (CCM) de Brasília (DF), padre Estêvão Raschietti, SX, falou sobre os âmbitos, prioridades e tarefas da missão na América. Para isso, o missiólogo apresentou o conteúdo do Documento de Estudo 108 da CNBB sobre a Missão e a Cooperação Missionária. O texto foi elaborado pelo Conselho Missionário Nacional (Comina) e considerado uma grande contribuição para os debates do Simpósio.

Partindo do mandato missionário (Mt 28, 19-20), e retomando o Decreto Ad Gentes do Vaticano II, padre Estêvão recordou que “a Igreja peregrina é missionária por natureza” (AG 2). “Essa é sua vocação própria, sua identidade mais profunda”.

Segundo padre Estêvão, “a tarefa missionária, hoje, continua a mesma confiada por Jesus aos discípulos. Contudo, o anúncio do Evangelho parece muito mais complexo do que no passado, porque a humanidade está vivendo uma época de profundas transformações socioculturais que atingem de maneira estrutural a própria percepção da realidade”.

O missionário xaveriano recordou ainda, a necessidade de uma conversão pastoral e renovação missionária, propostas pelo Documento de Aparecida. Essa conversão consiste em “reencontrar uma saída destemida contra todo tipo de acomodação: ‘trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança, à missão de toda Igreja’, abandonando estruturas caducas, transformando as pessoas, assumindo relações de comunhão, adotando práticas pastorais missionárias, projetando-se além-fronteiras”.

A missão é de Deus junto a qual somos convidados a cooperar até os confins da terra e o fim do tempo. A partir disso, padre Raschietti distinguiu três âmbitos de missão:

A pastoral, entre os cristãos e as comunidades eclesiais constituídas. “O objetivo desta tarefa é formar a comunidade eclesial como sujeito da ação missionária, para que seja fermento no mundo, começando por evangelizar a si mesma”.

A nova evangelização, que tem como interlocutores os cristãos que estão afastados da vida da comunidade, como também os que não creem em Cristo no conjunto da sociedade secularizada onde cada Igreja local está inserida. “A tarefa é a ação evangelizadora da comunidade na sociedade como ‘sinal mais claro da maturidade da fé’ (RMi 49). Uma saída ao encontro com os pobres e nas periferias”.

A missão ad gentes, entre aqueles que não conhecem Jesus Cristo no meio de outros povos e sociedades, onde a presença da Igreja não está suficientemente. “A cooperação missionária diz respeito à missão ad gentes, a todos os povos. É a participação de cada Igreja local na missão universal, solidariedade com os outros povos e com as outras igrejas”.

Para cada uma dessas dimensões, padre Estêvão propôs uma imagem bíblica: o pastor, no redil da comunidade cristã numa missão pastoral (Jo 10, 11-18); o semeador, no campo da sociedade onde se semeia a Palavra: nova evangelização (Lc 8, 4-5); o pescador, no mar do mundo lançando as redes no meio dos “outros”: ad gentes (Lc 5, 1-11).

“O grande desafio é articular na Igreja local, a pastoral, com a Nova Evangelização com a missão ad gentes, considerando que a missão é uma só tanto na comunidade quanto na sociedade e no meio dos povos”, finalizou padre Estêvão.

Participam do Simpósio cerca de 80 representantes das Pontifícias Obras Missionárias (POM), organismos e conferências episcopais de 22 países do Continente americano e convidados da Europa.

Além das conferências a programação inclui grupos de trabalhos para aprofundar o conteúdo e seis fóruns temáticos: missão e ecologia; missão e família; missão e educação; missão e catequese; novas formas de cooperação missionária e tarefa das Pontifícias Obras Missionárias nas Igrejas locais.

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