PUC-Rio ou como ser jovem aos oitenta anos de idade

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Maria Clara Lucchetti Bingemer

Há oitenta anos, exatamente no dia 30 de outubro de 1940, eram fundadas no Rio de Janeiro as Faculdades Católicas. Por decreto do então presidente da República, Getúlio Vargas, e seu ministro da Educação, Gustavo Capanema, recebiam autorização para estabelecer-se sob sua égide os cursos de Direito e a Faculdade de Filosofia, com os cursos de Pedagogia, Filosofia, Geografia e História, Ciências Sociais, Letras Clássicas, Neolatinas e Anglo-Germânicas. 

Confessional, essa que seria uma Universidade Católica para o Brasil no dizer do cardeal Dom Sebastião Leme, do Rio de Janeiro, teve sua administração confiada à Companhia de Jesus.  Os superiores jesuítas deram como missão ao padre Leonel Franca SJ a condução do processo de fundação e estabelecimento da que seria a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 

Em seu “pedigree” fundacional estavam, além do pe. Franca, sacerdote, filósofo e educador, conhecidos intelectuais da época, tais como Alceu Amoroso Lima, Heráclito Sobral Pinto, Américo Jacobina Lacombe, entre outros.  Com notável capacidade de organização e liderança, padre Leonel Franca era um pensador.  Fundador e seu primeiro reitor, a nova universidade foi por ele pensada com grande visão e muito entusiasmo.

Após a morte prematura do jesuíta, em 1948, Alceu de Amoroso Lima escreveu que pe. Franca “foi o centro de gravidade de nossa geração, a encruzilhada de nossos caminhos nesses últimos vinte anos”.

Sobretudo o que o pe. Leonel Franca carregava em sua identidade e forma de ser e de atuar era uma visão profundamente global e integrada do saber em todos os seus aspectos. Por isso, tinha plena clareza sobre a missão de qualquer universidade, inclusive a católica. 

No discurso inaugural do ano acadêmico de 1941, ele declarou: “A Universidade Católica não é centro de estudos em que se cortam as legítimas liberdades de investigação e se substituem pela aceitação dos dogmas  e os processos da ciência…  Se a cultura é a realização integral da verdade na vida, uma Universidade Católica por sua própria natureza acha-se singularmente aparelhada para concretizar este ideal.” 

Oitenta anos se passaram e as proféticas palavras do fundador vão se fazendo verdade a cada dia, atravessando contextos conflitivos, tempos nebulosos e atribulados.  Mas também, e mais ainda, aceitando grandes desafios e acreditando em sonhos que vão se fazendo realidade com muito trabalho, esforço e criatividade. 

A PUC-Rio hoje abriga mais de 15 mil alunos, sendo mais de 12 mil em seus 42 cursos de graduação, mais de 3 mil em sua reconhecida e prestigiada internacionalmente pós-graduação, com mestrado e doutorado distribuídos em 29 cursos. Em sua tradição de 80 anos, registra a passagem de alunos ilustres que fizeram e fazem a história do Brasil como Paulo Sérgio Pinheiro, Marcelo Gleiser, Marielle Franco e tantos outros. 

O charmoso e verde campus da Gávea é uma festa colorida nos tempos de aula, cheio de jovens que circulam, leem nos bancos em meio às árvores, cantam e fazem música, dançam e encenam peças teatrais, enquanto nas salas de aula os professores ensinam em diálogo aberto e rigor acadêmico. Mas também já foi palco de protestos e manifestações memoráveis nos anos de chumbo, quando a universidade marcou presença valente e livre lutando pela volta da democracia. 

Hoje, essa beleza e liberdade continuam presentes mesmo quando o campus está vazio de presenças humanas, mas grávido de pensamento e conhecimento que circula agora pelas plataformas virtuais.  Quando foi decretada a quarentena devido à pandemia, em março de 2020, em uma semana a universidade passou do modo presencial ao virtual.  Professores e alunos adaptaram-se, os cursos continuaram a acontecer e os semestres fluíram e chegaram a termo: o primeiro já terminado e o segundo chegando agora a sua etapa final. 

Aos 80 anos de idade, a PUC-Rio é uma senhora elegante e refinada. Seu perfil é compatível com o que há de qualitativamente melhor em termos de saber e pensar no país e no mundo.  Mas é igualmente uma jovem capaz de sonhar e resistir, reinventar-se a cada passo, pensar coisas novas e abrir novos caminhos. 

Trata-se de minha alma mater.  Ali estudei Comunicação Social e Teologia.  Ali me formei.  Ali igualmente trabalho há 38 anos, em um ambiente cheio de seriedade e banhado de alegria e liberdade.  Nesse aniversário, não posso deixar de me emocionar ao desejar parabéns à PUC-Rio por ter sido ao mesmo tempo tão fiel ao sonho que a gerou e ao mesmo tempo tão criativa em seu estilo de manter e nutrir esse sonho ao longo de oito décadas, sempre na abertura a um futuro que transpira esperança e renovação. 

O lema da Universidade diz bem o que ela é: “Nada é pesado para quem tem asas”. Trata-se de um espaço onde a razão e a fé dialogam em alegre convivência, onde o saber e a prática conjugam iniciativas e organizam estratégias.  Ali se vive, ali se aprende, ali se ensina, ali se constrói uma humanidade que não recua nem se encolhe diante de dificuldades, mas busca incessantemente a verdade da justiça e do amor.   

 Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de “Santidade: chamado à humanidade (Editora Paulinas), entre outros livros.

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