Por Rosinha Martins| 22.01.2016 | Por ocasião do encontro pedagógico dos professores para iniciar o Ano Letivo, a Associação Nacional de Educação Católica ( ANEC), convidou o professor e teólogo Leonardo Boff para refletir sobre a encíclica do Papa Francisco, a “Laudato Sì”.
O teólogo explicou as razões pelas quais o tema deve ser incluído na educação. “Os tempos mudaram, há ameaças pesadas sobre o sistema vida, o sistema terra e nós nos devemos responsabilizar para garantir a vitalidade do planeta, da casa comum e o futuro da nossa civilização”, disse.
As pessoas não tem muita consciência ainda da importância do cuidado da Casa Comum, segundo Boff, mas os cristãos devem se conscientizar dessa verdade. “Seguindo a linha do Papa que escreveu uma encíclica para toda a humanidade a fim de ajudar a encontrar uma saída para essa crise para que terra ganhe a sua vitalidade e nós possamos continuar a nossa trajetória nesse mundo”.
Francisco e a Encíclica ‘Laudato Sì’
“O Papa é a pessoa aberta que se dá conta das crises graves que pesam sobre a vida. O fim da espécie humana não é impossível e ele sabe disso”, afirmou Leonardo e acrescentou que “os destinatários da encíclica não são os cristãos, é a humanidade, porque desta vez ou nos salvamos juntos,- porque não é uma arca de Noé que salva alguns e deixa perecer os outros, – ou perecemos todos”.
Segundo Boff, a preocupação primeira do Papa Francisco é “como os cristãos, com todo o cabedal que tem: a mística de Jesus, os evangelhos, podem colaborar para encontrar caminhos que sejam benéficos para a vida e que transformam o drama e a tragédia em uma crise que purifique a humanidade e permita-lhe um salto de qualidade rumo a civilização mais amiga da vida, mais simples, mais fraterna e uma terra melhor cuidada”.
Leonardo revelou sua alegria pelo fato de o Vaticano ter acolhido as sugestões enviadas para a construção da encíclica e agradeceu a Deus por isso. “As encíclicas vaticanas costumam chegar sempre atrasadas. Essa, com o tema da ecologia se antecipou para nos ajudar a pensar como nos relacionamos com a mãe terra. Sugerimos que ao invés de terra, se usasse a expressão casa comum, pois a terra é uma coisa física e a casa é algo essencial em nossa vida. E estou muito feliz porque as sugestões que enviamos entraram todas na encíclica, graças a Deus”, enfatizou. Os educadores que se somavam cerca de mil, deram uma salva de palmas para o assessor.
O agronegócio
O teólogo chamou a atenção para a falta de cuidado com a casa comum, fruto do capitalismo selvagem que tem necessidade da superprodução, envenenando a natureza com agrotóxicos em vista de uma ‘colheita melhor’. “Esses agrotóxicos atingem os lençóis de água, a terra, as árvores, os alimentos, os animais. A vaca come a grama, tomamos o leite, passamos para a criança, tudo contaminado”.
A Campanha da Fraternidade 2016: Casa Comum, nossa responsabilidade
A Campanha da Fraternidade 2016 versará sobre ‘a questão ambiental com o tema ‘Casa Comum, nossa responsabilidade’. O professor Leonardo Boff acredita que a escolha foi acertada e explica as razões. “A questão ambiental é uma preocupação mundial e não é sem razão que na CP21, 192 países se reuniram para discutir qual é a atitude da humanidade face ao aquecimento global que não para de crescer e pode ser tão danoso para a vida chegando a dizimar milhões de pessoas além de grande parte da biodiversidade”. Para o professor, a Campanha é um esforço de conscientizar as pessoas dessa ameaça e, mais que tudo, motivá-las para tomarem iniciativas boas que possam impedir o crescimento do aquecimento e possam ter uma relação com a natureza que seja harmoniosa e defensora da vida.
A tragédia de Mariana
Questionado sobre qual deve ser a atitude das Igrejas frente ao desastre de Mariana- MG, Boff lembrou que houve uma indignação geral de toda a nação e as Igrejas também se manifestaram. ” É um dos desastres maiores da nossa história. Eu acho que as Igrejas regionais que são banhadas pelo Rio Doce, devem se articular para, junto com outras iniciativas do Estado, do grande fotógrafo Sebastião Salgado, o mais rapidamente possível, resgatar a vitalidade do Rio”. O desastre, acrescentou, “dizimou todos os peixes, afetou a mata ciliar e pode ser que as consequências demorem anos e anos”.
A sugestão de Leonardo é que “as Igrejas apelem para a consciência dos cristãos a fim de colaborarem, criarem grupos de ajuda, tomarem parte do rio para saná-lo. É um rio inteiro de quase 700 km. Talvez a Igreja não se despertou totalmente, mas creio que ela despertará dada a gravidade das consequências”.
O Dia ANEC reuniu cerca de mil educadores na manhã desta sexta, 22, no Colégio Madre Carmem Sallés, na L2 Norte, em Brasília – DF.