Fraternidade e superação da violência II

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Durante o tempo litúrgico da quaresma, a Igreja Católica está realizando a Campanha da Fraternidade 2018: “Fraternidade e superação da violência”. Este e os próximos artigos vão refletir sobre o tema, tendo como referência o texto base elaborado pelos coordenadores da campanha. A metodologia usada para tratar do tema é ver, julgar e agir. O presente texto é focado no ver a realidade da violência. Um fenômeno que está aumentando, não é isolado, é complexo nas origens e nas suas manifestações, traz sérias consequências para as vítimas, para os agressores e para toda sociedade. Além disso, os atuais métodos para diminuir a violência não estão sendo efetivos.

O tema da violência é uma das principais pautas do cotidiano e não faltam razões para tal. O Brasil tem menos de 3% da população mundial, mas concentra 13% dos assassinatos do planeta, somando-se em torno de 60.000 mortes por ano. Lançando um olhar sobre o perfil das vítimas, constata-se que alguns grupos são mais vítimas que outros. Também, saltam aos olhos as vítimas do trânsito.

A complexidade do tema faz perguntar sobre as fontes geradoras do problema, sobre as dimensões da violência. A análise deve começar em cada pessoa: Eu também sou violento!? Quais são as violências que pratico!? Como me sinto depois de um ato violento!? Como são elaborados e curados os sentimentos de raiva, ciúmes, indignação e os desejos de vingança? Como disse Jesus Cristo, a origem de todos os males está no coração humano.

Existimos e sobrevivemos graças aos outros. Tornamo-nos pessoas e nos humanizamos no relacionamento interpessoal. A presença do outro, ao mesmo tempo em que me ajuda, também me desafia gerando confrontos, tensões que podem resultar em agressões verbais e físicas. É famosa a frase de Sartre: “O inferno são os outros” (Claro, uma interpretação mais correta e completa exige colocar a afirmação dentro do texto original).

Muitas estruturas sociais também são fontes originadoras de violência: a pobreza, o endeusamento dos bens materiais, a marginalização, o desemprego, a corrupção, privilégios legais, mas imorais, a falta de acesso a uma educação de qualidade e de políticas públicas de saúde impedem o desenvolvimento digno da pessoa. Um fator agravante da violência, nas últimas décadas, está relacionado com o tráfico de drogas e seu consumo, sejam as legais e as ilegais. O acesso à justiça é seletivo gerando injustiças. Teoricamente todos são iguais perante a lei, mas na prática isto não é verdade.

Não pode ser esquecida a dimensão cultural da violência. A “violência cultural” remete a ideia de cultivo. Ela é resultado dos próprios mecanismos que a formam e a reproduzem no dia a dia. A sociedade cultiva condições que resultam em violência, mas não reconhece isto como agressão; por exemplo: “não se leva desaforo para casa”. Produções culturais como filmes, novelas, músicas, desenhos animados, literaturas etc… que atraem a atenção, estimulam adrenalina e cultual a agressividade.

São alguns elementos para olhar a complexa realidade da violência. Ver as causas, além das aparências, é necessário para encontrar saídas adequadas.

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
23 de fevereiro de 2018

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