Portal

Ex-ministro da Fazenda faz análise de conjuntura na Assembleia dos Bispos

Compartilhe nas redes sociais

Facebook
WhatsApp
X
Telegram

CNBB| 16.04.15| Oblato beneditino, ex-ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco (1992-1994), o jurista Rubens Ricupero, falou aos bispos no espaço da Assembleia Geral dedicado ao estudo da atual conjuntura social, política e econômica do Brasil. Ele agradeceu ao presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno, considerando uma honra se dirigir aos bispos daquela que ele assume como “sua igreja”. Ricupero lembrou que teve oportunidade, há 21 anos, de falar à Conferência, em Brasília, quando dom Luciano Mendes de Almeida era presidente.

 O jurista disse ter aceitado o convite sem pretensão de revelar algo novo para os bispos que vivem em contato com o povo e com o dia-a-dia, considerando até que esses bispos podem saber mais do que ele sobre a realidade: “quero apenas oferecer uma ajuda ´pensando alto´ a respeito da realidade a partir da sensibilidade de um cristão”.

Ele considera que é muito difícil prever o movimento dos acontecimentos pela velocidade das mudanças. Como ilustração, disse que poderia dizer outra coisa um mês atrás, após manifestações populares e antes de um apoio mais explícito do governo federal ao Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a delegação ao vice-presidente, Michel Temer, para realizar a articulação política entre o Palácio do Planalto e o Congresso.

“Precisamos do mínimo denominador comum que poderia nos unir a todos, todos os brasileiros de boa vontade, acima das visões divergentes: tudo fazer para que o Brasil não sofra nenhum retrocesso nas conquistas nos últimos 30 anos. Conquistas no plano político, institucional e, principalmente, no combate à pobreza”, disse. “Qualquer sociedade será julgada pela maneira como trata os mais pobres, os mais frágeis, os mais vulneráveis. Esse é o sentido principal da ação política”, acrescentou.

Realidade atual

Ricupero também pediu atenção especial para uma visão histórica dos últimos 30 anos. “Os militares deixaram o poder porque, na verdade, eles tinham fracassado, tinham destruído as instituições e se declaravam, no fundo, vencidos por duas crises econômicas que, apesar dos poderes que tinham, não conseguiram controlar: a hiperinflação e a dívida externa. O novo governo civil começou sobre piores auspícios. A morte do presidente eleito e o presidente Sarney teve de governar com dificuldade. Mas, esse período trouxe uma conquista muito importante: aprovar uma Constituição progressista, aberta”.

Na análise, Ricupero mostrou que é preciso atenção para algo fundamental da realidade atual: o país não somente não está crescendo, mas está recuando. O crescimento não é tudo, mas pode-se dizer que não sendo tudo, é quase tudo. Sem crescimento não há base para melhorar a vida social”. E lembrou que se o crescimento não for retomado em pouco tempo, as conquistas sociais estão ameaçadas. “As faixas da população que saíram da pobreza extrema fizeram isso graças ao crescimento. Se não voltarmos a crescer, essas conquistas já começam a mostrar corrosão. Desemprego cresce, perda do valor real dos salários. Quando fui ministro, em fins de março de 1994, a inflação estava em 55% ao mês. A inflação pesa, sobretudo, no bolso de quem depende de salários. Essas pessoas já começam a diminuir o consumo e a inflação pode trazer uma intensificação dos mecanismos distributivos que é o radicaliza a opinião público”, ponderou.

“Temos que rapidamente deter esse movimento. Precisamos de um ajuste que poupe os que são mais frágeis, que permita o equilíbrio da dívida pública e que atraia o investimento”, acrescentou. Segundo Ricupero o governo está consciente dessa realidade.  “Conheço os ministros da fazenda e do planejamento e creio que eles merecem apoio”, disse Ele acha que a popularidade do governo deve deixar de cair e que sejam criadas as condições para que o governo possa conduzir o processo. “É possível que o mandato atual seja turbulento, mas o valor da Constituição, da lei e da participação deve ser preservado”, reforçar.

Situação do Brasil

 “Nós criamos uma democracia de massa. Na primeira eleição para o Congresso, em 2 de dezembro de 1945, que elegeu o Marechal Eurico Gaspar Dutra, votaram 35% da população adulta. Metade da população estava fora do jogo. Em 1930, apenas 10% da população adulta teve direito de votar. Nós melhoramos muito. O Brasil teve avanços consideráveis. Teve avanço na luta contra a pobreza e desigualdade, embora os resultados sejam frágeis porque partimos de muito baixo”, disse.

Uma leitura, em preparação para a análise que faria aos bispos, Ricupero leu a Bula Misericordiae Vultus do papa Francisco sobre o Ano Santo da Misericórdia. Nesse documento, o papa cita uma frase de Paulo VI, pronunciada no encerramento do Concílio Vaticano II, em 7 de dezembro de 1965: “em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo atual não com presságios funestos mas com mensagens de esperança e palavras de confiança”. Para Ricupero, essa frase representa muito para os cristãos nesse momento social, político e econômico do Brasil. Ricupero concluiu com outra citação do papa Francisco em discurso feito no Brasil, em 2013: “Quando me pedem um conselho, minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. Ou se aposta no diálogo e na cultura do encontro ou todos perdemos”.

 

Publicações recentes