De frente pro crime

Compartilhe nas redes sociais

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no telegram
Telegram

Carlos Eduardo, homem em situação de rua, morreu dentro de uma padaria na zona sul do Rio de Janeiro. Era na sexta-feira, dia 27 de novembro de 2020. Como na canção de João Bosco, a sua morte não impediu que a vida cotidiana seguisse se curso. Até mesmo o estabelecimento comercial continuou com seu “funcionamento normal”. Indiferentes, os clientes puderam tomar o seu café da manhã sem serem incomodados.

Ao lado, jazia o corpo de Carlos Eduardo, provisoriamente revestido por um plástico escuro. Vã tentativa de fazer com que o falecido permanecesse invisível. A morte insuspeitada, porém, o fizera emergir da multidão anônima para as páginas dos jornais. Ali, oculto e esquecido como vivera, aguardava encaminhamento por parte das autoridades.

Por longas 2 horas o corre-corre da metrópole, frenético e endiabrado, seguiu seu ritmo. Até que a Polícia Civil se fez presente para as medidas previstas. A esta altura, mais do que multiplicar palavras sobre palavras, vale o silêncio reverente diante de uma vida humana ceifada de forma tão inusitada. E vale, ainda, trazer à tona a canção de João Bosco.

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto, uma foto de um gol
Em vez de reza, uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém.

O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa do bar
E fez discurso pra vereador.

Veio o camelô vender anel
Cordão, perfume barato
Baiana vai fazer pastel
E um bom churrasco de gato.

Quatro horas da manhã baixou
O santo na porta-bandeira
E a moçada resolveu parar,

E então…

Veio o camelô vender anel

Cordão, perfume barato

Baiana vai fazer…

 

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto, uma foto de um gol
Em vez de reza, uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém.

Sem pressa, foi cada um pro seu lado
Pensando numa mulher ou num time
Olhei o corpo no chão e fechei
Minha janela de frente pro crime.

E veio o camelô vender anel
Cordão, perfume barato
Baiana vai…

 

 

(Letra e música: Aldir Blanc e João Bosco)

 

Publicações recentes