Vera Ivanise Bombonatto
Estamos vivendo um momento trágico da história da humanidade, marcado pela ameaça de um inimigo invisível que nos atormenta e angustia.A vida está ameaçada. Nossa vida está ameaçada. A vida de uns pede sacrifício de outros. Mas, o que significa sacrificar-se, arriscando a própria vida, para defender a vida ameaçada do nosso irmão, da nossa irmã? O que a vida e a morte de Jesus, suas atitudes e seus gestos,nos ensinam?
A campanha da fraternidade deste ano que tem com tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, nos ensina que o bom samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, ver, sentir compaixão e cuidar. Ele nos envia: “Vai e faze tu o mesmo”. Jesus é o bom samaritano. Ele se aproxima da pessoa que sofre, tem compaixão e cuida dela. Como seguidores de Jesus, somos chamados também nós a sermos bons samaritanos.
O memorial da Páscoa do Senhor é um convite a entrar no mistério da cruz de Jesus para participar da alegria de sua Ressurreição.O mistério pascal de Jesus, sua passagem da morte para a vida, é um mistério de comunhão com o Pai, na força do Espírito, com a humanidade e com todo o universo.
O gesto supremo da compaixão de Jesus é sua morte na cruz e sua ressurreição, comunicação total que se perpetua na Eucaristia, sacramento perene da comunhão com ele. Servo sofredor, Jesus oferece sua vida pelo resgate de muitos. Por amor, ele assume a tragédia da dor e da morte, conseqüência do pecado e da falta de comunicação e do desamor, transformando-o em sinal supremo de amor e em caminho eficaz de salvação.
O martírio de Jesus na cruz é a mais contundente comunicação do sentido e da dignidade da vida. Nada pode justificar que a vida seja desprezada ou aviltada. Essa lição é tão importante e sagrada que, para ensiná-la Jesus, paradoxalmente, entregou o seu maior bem: sua própria vida, na mais eloquente denúncia de todos os males que ameaçam a existência.
A cruz de Jesus revela que o caminho para entender o mistério de Deus crucificado não é a razão comunicativa, mas a comunicação amorosa de Deus, acolhida na lógica da fé em Jesus, Messias, que é para nós Palavra viva e eficaz, “imagem de Deus invisível”.
Em Jesus, Deus se faz solidário com os sofrimentos humanos de todos os tempos e lugares. Nele morrem, outra vez, todos os profetas e justos que o precederam. Ele continua seu caminho de dor em cada ser humano que sofre e morre.Onde há sofrimento humano assumido por amor, e morte como a de Jesus para defender a vida, aí acontece a ressurreição.
Nosso seguimento de Jesus é marcado pela dialética da morte para a vida, dando sentido ao sofrimento e às nossas cruzes diárias. É importante, então, perguntar-nos como estamos aceitando e vivendo este caminho de vida que passa pela morte: à luz do caminho de Jesus ou na revolta e rejeição.
A solidariedade de Deus para conosco pede uma resposta de solidariedade. Não basta carregar a própria cruz. A novidade cristã está em carregá-la com Jesus e como Jesus numa atitude de quem leva até extremo o próprio compromisso.
Na vitória de Jesus sobre o sofrimento e a morte, a dor humana se transforma em esperança, a tristeza em alegria, e a promessa em certeza. Não estamos sozinhos e entregues ao poder da morte. Jesus caminha ao nosso lado, parte conosco o Pão e “nos revela as Escrituras”.
À medida que assumimos o projeto de Jesus, a ressurreição vai acontecendo em nossa vida, mas uma ressurreição que não está separada do sofrimento e da cruz. À medida que assumimos o projeto de Jesus, sentimos necessidade de tirar da cruz os necessitados para que a plenitude da vida se manifeste no mundo.
Viver como ressuscitados é acreditar na presença de Jesus em nós e em nosso meio e vencer as estruturas de morte que estão dentro de nós e ao redor de nós. É ser como a semente que, passando pelo silêncio e pela escuridão da terra, explode em folhas, flores e frutos.
Ao voltar para o Pai, Jesus nos envia a proclamar a todos os povos e nações, a boa notícia da Ressurreição, e vai prepararmos um lugar na Casa do Pai.