A Santidade – Um estilo de vida – Dom Valdir José de Castro, ssp

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Dia 1º de novembro celebra-se a Solenidade de Todos os Santos. Como cai em dia de semana, neste ano celebraremos no primeiro domingo deste mês, dia 6. 

Mas, o que é ser santo, quem são os santos? Podemos ser santos? 

Dom Valdir José de Castro, ssp, fala da Santidade como um estil0 de vida. Este texto que segue , cabe lembrar, foi escrito em 2016, antes da Exortação Apostólica do Papa Francisco,  Gaudete et Exsultate.

A SANTIDADE – Um estilo de vida

Dom Valdir José de Castro, ssp, bispo de Campo Limpo (SP)

Anunciar o Evangelho, em todo tempo e em todo lugar, é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confiou a seus discípulos de ontem e de sempre (Mc 16,15). Frente aos desafios atuais da nossa sociedade, marcada pela perda dos valores humanos e cristãos, urge, com espírito renovado, assumir com amor e esperança o nosso empenho de «evangelizar na alegria como apóstolos comunicadores e como consagrados»1.

Com audácia queremos levar à frente a nossa missão de viver e anunciar Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, o “Evangelho eterno”2, na cultura da comunicação.
Essa aspiração nos leva a aprofundar a nossa identidade, que significa colocar em exame todas as dimensões da nossa vida, sintetizadas pelo nosso Fundador, o bem-aventurado Tiago Alberione, na imagem das “quatro rodas” do carro paulino, devem proceder unidas e em conjunto: «O homem todo em Jesus Cristo, para o amor total a Deus: inteligência, vontade, coração, forças físicas. Tudo: natureza, graça, vocação, para o apostolado. Carro que corre apoiado nas quatro rodas: santidade, estudo, apostolado e pobreza».3

Não uma ou duas rodas, portanto, mas quatro! Este é o desafio para nós  Paulinos e para toda a Família Paulina, de acordo com o carisma particular de qualquer instituição. Depois de haver celebrado os cem anos de fundação da nossa Congregação e início da Família Paulina, no decorrer do meu serviço de animação, confiado a mim, pelo último Capítulo geral, proponho refletir juntos, a cada ano, sobre uma dessas dimensões da nossa vida paulina. Neste ano, eu vos convido a dar especial atenção à primeira roda, a santidade. É tema apropriado e coerente, que bem se associa ao Jubileu extraordinário da Misericórdia. Deus, que é Santo e nos convida à santidade, é Misericordioso na sua essência.

Esta Carta não tem a pretensão de ser um tratado teológico; tenciona simplesmente oferecer alguns acenos que ajudem a refletir sobre a santidade, não como ideal abstrato, mas como estilo concreto de vida.

1. Santidade: configuração a Cristo

Geralmente, hoje em dia, falamos pouco da santidade. Talvez porque pensamos nela como um conjunto de gestos extraordinários ou modos de agir insólitos, distantes da vida das pessoas comuns. Ou também porque vemos a santidade como objeto de luxo, patrimônio de poucos, inatingível tanto para nós em nossa vida consagrada, como para os cristãos no seu estado de vida.
Falando da santidade, o padre Alberione assim se exprime: «A santidade não está em fazer milagres, em coisas extraordinárias ou excepcionais; consiste somente, não em outra coisa, e sim na conformidade com o querer divino. Viver a vontade de Deus».4

Em sintonia com esta explicação, o papa Bento XVI afirma que «a santidade, a
plenitude da vida cristã, não consiste em cumprir empreendimentos mas em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios, em fazer nossas as suas atitudes, seus pensamentos, seus comportamentos».5

De fato, à luz do Concílio ecumênico Vaticano II, ser santo não significa cumprir coisas excepcionais, mas viver unidos a Cristo. Na Lumen Gentium, o tema da santidade se apresenta nesta ótica: a santidade como medida da nossa união com Jesus,6 o qual nos ensina a viver em conformidade com o querer do Pai.

Todos os cristãos, de qualquer estado e categoria, são chamados a seguir o exemplo e a se tornar conformes à imagem de Cristo, revestindo-se de sentimentos de misericórdia, bondade, humildade, doçura e paciência (Cl 3,12) e de tantos outros sentimentos que levam à união com Ele e a uma vida mais conformada e integrada ao seu Evangelho. De fato, todos os batizados são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade, e a promover na sociedade um teor de vida mais humano.7

Lembramos que nas primeiras comunidades cristãs, e naquelas fundadas e animadas pelo apóstolo Paulo, santo era sinônimo de cristão (2Cor 1,1), isto é, de pessoas em carne e osso que procuravam, com fé e esperança, testemunhar o Evangelho com a própria vida, não obstante as fraquezas humanas e as fadigas de cada dia. Os santos canonizados são o exemplo de homens e mulheres que, no curso de sua existência, deixaram Cristo assumir plenamente a vida deles e a plasmá-la no amor. Relembramos as palavras de são Paulo aos Filipenses: «Considero tudo como perda, em razão da sublimidade do conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele deixei que se perdessem todas essas coisas e as considero como lixo, a fim de ganhar Cristo e nele ser encontrado…» (Fl 3,8-9).

De fato, a santidade cristã não é nada mais que unir-se a Cristo, entrando na dinâmica do amor, que cria comunhão e leva ao serviço dos irmãos: «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele» (1Jo 4,16). Ora, Deus derramou largamente o seu amor em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5),8 amor que dá sentido à vida e impulsiona para a missão.

Jesus é o amor de Deus em pessoa, e ele o expressou em gestos concretos de acolhida, misericórdia, compaixão e ternura para com todos, especialmente para com os mais necessitados. Ele estabeleceu o amor como a primeira característica que deve distinguir os seus discípulos: «Através disso todos saberão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros» (Jo 13,35). Não existe caminho de santidade sem amor!

2. A Comunicação: ambiente da nossa Santidade

O encontro com Jesus, portanto, nos coloca na perspectiva do amor, nos dá novo horizonte e nos insere no itinerário da santidade. Somente graças ao encontro – ou reencontro – com o amor de Deus em Cristo Jesus, que se transforma em amizade feliz, somos resgatados do nosso individualismo e conseguimos romper a autorreferencialidade. Em outras palavras, para quem acolhe esse amor, que restitui o sentido da vida, é impossível impedir o desejo de comunicá-­‐‑lo aos outros;9 sente a necessidade de sair, de partilhar tudo o que tem recebido. Nós Paulinos somos chamados a viver e anunciar o Evangelho (a sair!), doando aos outros, na comunicação e com a comunicação, aquilo que recebemos do Senhor.

A cultura da comunicação é o contexto vivo do nosso carisma específico, é o nosso ambiente privilegiado para o anúncio do Evangelho, é o lugar do nosso testemunho como apóstolos comunicadores. Ser “santo” nessa realidade “moderna” – palavra que etimologicamente significa “pertencente ao nosso tempo” – exige estar ciente de alguns aspectos, que agora quero sublinhar.

O primeiro aspecto é a própria cultura. Como já afirmou o papa João Paulo II em 1990, não basta usar os meios de comunicação para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é preciso integrar a mensagem mesma na cultura criada pela comunicação moderna. Por isso, é imprescindível ter presente que essa cultura, antes ainda que dos conteúdos, nasce do fato de que existem novos modos de comunicar com novas linguagens, novas técnicas e novas atitudes psicológicas.10
Ser santo “moderno” exige aprender, compreender e falar as linguagens de hoje, a fim de alcançar com o Evangelho aos homens e mulheres de hoje.

Além dos aspectos do conteúdo e das linguagens, deve­se ressaltar com força o elemento do testemunho. Ou seja, existe uma atitude cristã de presença no ambiente gerado pela comunicação, o qual supõe que a maneira de comunicar, as escolhas, as preferências, os julgamentos sejam profundamente coerentes com o Evangelho (nasçam do Evangelho), também quando deste não se fale de forma explícita. Como já observara Bento XVI, existe um estilo cristão de presença também no mundo digital, estilo que se concretiza em forma de comunicação honesta e aberta, responsável e respeitosa para com os outros.11

Ser santo na cultura da comunicação exige que se assuma um estilo de vida empenhado na qualidade da comunicação.

Um terceiro aspecto a sublinhar se refere à responsabilidade de construir a “cultura do encontro”. O papa Francisco, fazendo referência sobretudo à Internet, constata que «não basta passar ao longo das “estradas” digitais, ou seja, estar simplesmente conectado; é preciso que a conexão seja acompanhada do verdadeiro encontro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos. Precisamos amar e ser amados…

A rede digital pode ser lugar rico de humanidade, não rede de fios, mas de pessoas humanas».12

O santo, no mundo da comunicação, valoriza a pessoa, seja com os meios técnicos, seja com a própria presença. Procura construir pontes, e não muros. Empenha-­se na comunhão e combate a divisão.

Nesse sentido, o “santo”, porque inspirado no Evangelho, é aquele que escuta. Realmente, «comunicar significa partilhar, e a partilha requer a escuta, a acolhida.

Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir se refere ao âmbito da informação; ao invés, escutar remete à comunicação e requer a proximidade. A escuta nos consente assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, de utilitários, de “Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro”.

A escuta nos consente assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, de utilitários, de consumidores… Escutar nunca é fácil… Saber escutar é graça imensa, é dom que necessita ser invocado, para depois ser exercitado na prática».13 O santo é aquele que escuta Deus, os outros, a realidade, os sofredores etc.

3. A “cor paulina” da nossa Santidade

Hoje em dia, há muitos cristãos que trabalham com reta intenção e procuram viver a santidade no ambiente da comunicação. Não somos somente nós que o fazemos, nem somos os únicos a utilizar, na obra de evangelização, os meios de comunicação e a rede digital. Todas as instituições religiosas da Igreja, em certa maneira, empregam hoje este ou aquele meio de comunicação, e não poderia ser diferente. O campo da comunicação não é exclusivamente nosso. Além disso, devemos reconhecer com humildade (lembremos: a humildade e a confiança formam a santidade!14) que algumas instituições fazem mais e às vezes melhor do que nós. Então, o que é que nos distingue dessas pessoas que fazem o que nós fazemos?

O nosso estar na cultura da comunicação é que nos caracteriza como “Paulinos”. Carregamos em nós “um carisma” particular. Aqui estamos com estilo de vida cristão “paulino”, um modo de ser e fazer. Podemos dizer, em tudo quanto se refere à nossa presença, que existe um estilo “cristão-paulino” de estar no ambiente comunicacional, que nasce do viver o Evangelho à luz do nosso carisma.

Como “apóstolos comunicadores e consagrados”, no âmbito do nosso estado de vida e carisma específico, somos chamados a viver unidos a Cristo e a testemunhar o seu amor; a sermos “santos” na comunicação e com a comunicação, carregando conosco a riqueza carismática recebida em herança do nosso Fundador. Por isso, refletir sobre a santidade significa ter presente também a nossa identidade e os fundamentos sobre os quais a construímos.

No ambiente gerado pela comunicação, marcado fortemente pelas tecnologias – mecânicas, eletrônicas e digitais – queremos permanecer com verdadeiro estilo de vida cristão “paulino”, fazendo a nossa parte na construção da cultura do encontro.
Este desafio exige de nós retornar sempre à origem do anúncio que, como já recordei, é o próprio Jesus. No encontro com Ele, que para nós é o “Mestre, Caminho, Verdade e Vida”, o comunicador perfeito, é que encontramos o conteúdo da nossa mensagem e o sentido da vida. N’Ele encontramos “a mística”, que é o verdadeiro motor da nossa ação apostólica.

O nosso Fundador o compreendeu muito bem, a ponto de definir o processo de santificação como processo de cristificação: «Até que Cristo seja formado em nós» (Gl 4,19).15 Por isso, a nossa devoção central não pode ser outra senão a Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida. Não se trata de “uma devoçãozinha”, mas a Jesus Mestre;16 e tal “devoção” não é algo separado da vida vivida, e sim uma ação que envolve a pessoa toda.17 De fato, «a devoção ao divino Mestre não é uma devoção acessória: reveste a nossa vida espiritual inteira, todos os nossos estudos, todo o nosso apostolado, toda a atividade externa: tudo».18

4. A forma da nossa Santidade

No itinerário de santidade, quanto à “cor paulina” vivida na cultura da comunicação, temos duas referências importantes: Maria, Rainha dos Apóstolos, e o Apóstolo Paulo. O padre Alberione insiste: «Piedade não incolor, mas piedade de cor paulina, isto é, piedade que se dirige ao Mestre Divino, à Rainha dos Apóstolos, a são Paulo. A nossa piedade!»19.

Recordemos que, quando falamos de “piedade”, esta não se reduz a um conjunto de orações que se nutrem de devoções fechadas em si mesmas, mas é expressão do que somos e deve integrar-­‐‑se em tudo o que fazemos. Como lemos em “Anotações de Teologia Pastoral”: «Quando se diz “piedade”, entende-­‐‑se uma vida. Ela não é, como erroneamente a entendem almas superficiais, um simples formalismo exterior, nem, como caluniam os seus inimigos, uma ilusão de espíritos apegados ao misticismo; não. Ela é toda uma atividade interior que se manifesta exteriormente com a fecundidade das obras».20

Maria é aquela que acolhe o Deus invisível e o torna visível ao mundo, comunicando-­o na carne humana.21 Ela nos indica a missão, o “espírito pastoral”,22 que pressupõe o ter em si a mensagem (o “Evangelho”) para poder oferecê-lo. Em relação ao nosso apostolado com a comunicação, o Fundador costumava fazer referência a Maria como “editora” de Deus, esclarecendo que, segundo a etimologia, “editar” significa exatamente “dar à luz”.23

Nós temos a mesma missão de Maria, que é dar Jesus ao mundo, materializando (editando) a Palavra por meio da imprensa, do rádio, da televisão, e hoje em dia também com os meios digitais, com todas as linguagens da comunicação.

O apóstolo Paulo é a outra referência em nosso caminho de santidade, mas não é uma referência qualquer. Ele é o pai, o mestre, o modelo, o protetor, o verdadeiro fundador da nossa Instituição.24

O padre Alberione relembra que rezou muito, antes de colocar a Congregação sob a proteção de são Paulo: «O que se queria era um Santo que sobressaísse em santidade e ao mesmo tempo fosse exemplo de apostolado. São Paulo reúne em si a santidade e o apostolado».25 O nosso desafio é viver e dar inteiramente Jesus Cristo, como o apóstolo são Paulo o interpretou, o viveu e o deu ao mundo.26  Enquanto Jesus é “o original”, para nós o Apóstolo é “a forma”.27

O Fundador exorta: «Nós devemos formar-nos nele. Ou seja, viver, pensar, agir, zelar, como ele pensou, como ele agiu, como ele zelou pela salvação das almas, como ele rezou. Ser verdadeiramente Paulinos. 28

Não obstante as nossas limitações, somos chamados, como o apóstolo Paulo, a dilatar o nosso coração, para que se torne sempre generoso e aberto na maneira de ver,29 a olhar o mundo, como fez ele, com os olhos de Jesus. Nele encontraremos o bom comunicador e a audácia, a visão, o profetismo, a metodologia do nosso apostolado.

Maria e Paulo, duas pessoas que sabem escutar a Palavra e praticá-la, tornando-a estilo de vida. Portanto, a devoção a Maria Rainha dos Apóstolos deve levar-nos a aprender o que dar no apostolado; e aprender de são Paulo o espírito sempre mais reto, sempre mais ativo do nosso apostolado, para não sermos apenas chamados e sim a sermos Paulinos.30

5. As fontes e o alimento da nossa Santidade

No caminho da santidade precisamos nutrir-nos a cada dia, a fim de termos as forças necessárias para transferir a santidade às nossas tarefas. A Palavra de Deus e a Eucaristia são as duas fontes da nossa vida espiritual, que se completam tão intimamente que não é possível compreender uma sem a outra.31 O nosso Fundador compreendeu isso tão bem que afirmou, referindo-se particularmente ao apostolado das edições impressas: «Eucaristia e Bíblia formam o apóstolo da imprensa. Que estas duas coisas sejam inseparáveis e nunca separadas em vossos corações».32

A Palavra de Deus escutada e celebrada, sobretudo na Eucaristia, nos alimenta e reforça interiormente, e nos torna capazes de autêntico testemunho evangélico na vida do dia a dia.33

Se não damos tempo à escuta da Palavra, o que iremos dizer, o que iremos comunicar?
Na Bíblia somos chamados a nutrir-nos especialmente de cada frase do Evangelho, segundo o espírito de são Paulo,34 e nutrir-nos também de suas cartas, que nos fazem entrar «no verdadeiro caminho de santidade e no verdadeiro espírito de apostolado».35

Encontramos na “visita” um espaço imprescindível de meditação e oração no caminho da santidade, espaço a ser vivido, não como algo formal e convencional, mas como tempo precioso em que o discípulo vai à escola do divino Mestre. «A visita verdadeira é uma alma que invade todas as horas, ocupações, pensamentos, relações etc.».36

A Eucaristia e os momentos de oração (individuais ou comunitários) não têm sentido se não entram em nosso estilo de vida e se não assumem as diversas situações concretas da vida. Precisamos desconfiar de uma comunidade onde se respeitam rigorosamente os horários das “práticas de piedade”, mas falta amor, misericórdia, acolhida, ternura, educação, empenho apostólico e comunitário… como também esperança e alegria! O mesmo se diga das comunidades onde se descuidam e se deixam de lado os momentos de oração e onde se nota empenho apostólico pobre de criatividade, por causa da dificuldade em viver juntos. Repito o que foi afirmado em nosso último Capítulo geral: «A dúplice mesa da Palavra de Deus e da Eucaristia, que edifica a comunidade, seja para cada Paulino a fonte onde beber, a fim de reavivar o dom recebido, para aumentar a força apostólica e superar tudo o que cria divisão».37

Devemos prestar atenção ao nosso ritmo de vida, principalmente quando assume cadência eminentemente operativa, a ponto de não deixar tempo para a oração. Vale a pena relembrar a advertência do padre Alberione sobre o risco de transformar o nosso apostolado em simples indústria e puro comércio: «Não havia necessidade de um instituto religioso para fazer indústria. Não era necessário haver pessoas consagradas a Deus para fazer comércio!».38

É necessário, isto sim, especialmente no apostolado, ter presente e levar a sério tudo quanto o Fundador diz sobre a organização, e ficar atentos quanto às leis de mercado. No entanto, essas estratégias não podem ser fim em si mesmas. Estamos na Igreja como apóstolos, e não como “empresários”. É preciso vigiar sempre, para «permanecer na altura humano-­‐‑divina do apostolado, a exercitar-se com os meios mais céleres e fecundos, em espírito pastoral».39

O nosso Fundador, Pe. Alberione, nunca separou a vida de piedade da “vida vivida”, que engloba todos os aspectos da realidade, desde a pessoal, comunitária, apostólica, eclesial, até a social e cultural. Relembramos a sua adoração eucarística, ainda um jovem de dezesseis anos, na inesquecível noite da passagem do século XIX ao XX. Enquanto rezava, levava no coração e nos pensamentos todas as diversas situações do seu tempo. Ele mesmo é que conta: «A oração durou quatro horas após a Missa solene: …que o século nascesse em Cristo Eucaristia; …que novos apóstolos recuperassem as leis, a escola, a literatura, a imprensa, os costumes; …que a Igreja vivesse novo impulso missionário; …que se utilizassem bem os novos meios de apostolado; que a sociedade acolhesse os grandes ensinamentos das encíclicas de Leão XIII, especialmente as que se referem às questões sociais e à liberdade da Igreja…

Sentiu-se obrigado a servir à Igreja, aos homens do novo século e agir com os outros, em organização».40 Da Eucaristia, celebrada e adorada com consciência social,41 a luz que ilumina tudo!

A Eucaristia e os momentos de oração favorecem o encontro com Jesus Mestre, e isso permite reconhecê-lo e encontrá-lo também nas situações da nossa vida de cada dia. Cada um de nós tem a possibilidade de encontrar o Filho de Deus, experimentando todo o seu amor e a sua infinita misericórdia em tantos lugares. Nós o podemos encontrar realmente presente nos Sacramentos, em especial na Eucaristia,mas também podemos reconhecê-lo no rosto de nossos irmãos, em particular nos pobres, nos doentes, nos encarcerados, nos refugiados que são a carne viva do Cristo sofredor e a imagem visível do Deus invisível.42 Como Ele mesmo afirmou: «Tudo o que fizestes a estes meus irmãos menores, foi a mim que o fizestes» (Mt 25,40).

Podemos também perceber a presença de Deus na criação. Muitas passagens da Bíblia e, em particular, a encíclica Laudato si’ do papa Francisco nos mantêm despertos frente a essa realidade que não pode deixar-nos indiferentes.

6. Conclusão: a Santidade, dom a pedir

A santidade não é ideal do passado, e sim desafio para hoje. Podemos refletir sobre esse tema sob múltiplos ângulos. Mas, como procurei expor, não podemos esquecer o aspecto prático do testemunho da santidade como estilo de vida, especialmente no mundo da comunicação. Isso nos leva a romper as dicotomias que normalmente construímos, isto é, a ruptura entre a vida concreta (com suas esperanças e alegrias, com suas dificuldades e sofrimentos) e a oração. O caminho de santidade supõe a procura constante de vida integrada, apesar dos limites humanos, reconhecendo a nossa «insuficiência em tudo: no espírito, na ciência, no apostolado, na pobreza».

A consciência de nossas fragilidades sempre requer profunda revisão de vida, que nos leva a superar o peso e o cansaço, a vencer a mediocridade, o mundanismo espiritual e o estilo de vida individualista. O tema do nosso último Capítulo geral foi verdadeiro apelo a rever e viver o nosso “ser” e o nosso “fazer” nas pegadas da santidade: «Tudo faço pelo Evangelho» (1Cor 9,23). Paulinos, evangelizadores-comunicadores. Em Cristo, novos apóstolos para a humanidade.

Nessa linha e a partir do que escrevi, é oportuno fazer algumas perguntas a nós mesmos:
Como vivemos o Evangelho entre nós? A santidade é um estilo de vida ou uma realidade distante da nossa vida concreta? Em nossa vida existe integração da vida pessoal e comunitária com a espiritualidade e o apostolado, ou vivemos de maneira esquizofrênica? Damos tempo à oração? A Eucaristia gera fraternidade e misericórdia e nos lança na missão, ou é apenas um rito de rotina? As nossas devoções envolvem toda a nossa pessoa? Levamos à frente com entusiasmo o carisma paulino, dando testemunho dele na cultura da comunicação?

Mesmo que o nosso exame de consciência se tornasse negativo e nos reconhecêssemos como o filho maior ou o filho menor da parábola do “Pai misericordioso”, narrada no Evangelho de Lucas, lembremos que o Pai está disposto a perdoar, quando nos voltamos para Ele de coração arrependido.

O apóstolo Paulo descobriu esse amor em Jesus, amor que lhe transformou a vida, a ponto de fazê-lo dizer: «Se alguém está em Cristo, é criatura nova; as coisas antigas passaram; agora, surgiram as novas» (2Cor 5,17). Podemos também nós fazer essa experiência!

O Senhor nos ajude a progredir em nosso empenho de fazer tudo pelo Evangelho, na criativa fidelidade ao nosso carisma, vivido no mundo de hoje, para servir ao homem de hoje.

A este propósito, eis uma passagem da bela intervenção do papa Francisco: «Vós sabeis que um carisma não é uma peça de museu que permanece intacta na vitrine para ser contemplada, e nada mais. A fidelidade, o manter puro o carisma, não significa de modo algum fechá-lo em garrafa sigilada, como se fosse água destilada, a fim de não se contaminar com o exterior. Não, o carisma não se conserva,mantendo-o à parte; é preciso abri-lo e deixá-lo sair, a fim de que entre em contato com a realidade, com as pessoas, com suas inquietações e seus problemas. E assim, nesse encontro fecundo com a realidade, o carisma cresce, renova-se, e também a realidade se transforma, se transfigura através da força espiritual que tal carisma leva consigo».43

Com as beatificações do nosso Fundador padre Tiago Alberione e do padre Timóteo Giacardo, a Igreja reconheceu que é possível santificar-se em nosso carisma, a partir do “estilo cristão – paulino de viver”. Outros na Família Paulina, homens e mulheres, são exemplos de uma vida de amor e doação: os Veneráveis Majorino Vigolungo, Frei André Borello, o cônego Francisco Chiesa, a Irmã Tecla Merlo, a Irmã Escolástica Rivata. Tantíssimos outros membros viveram no silêncio a santidade.

Agradecemos ao Senhor a vida de todos. Agora é o momento! Cabe a cada um de nós viver a santidade como verdadeiro estilo de vida.

Com Maria, Rainha dos Apóstolos, e são Paulo, vamos colocar-nos no seguimento de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, procurando unir-nos sempre mais a Ele e entre nós, a fim de nos lançarmos para frente com amor, em comunhão e com audácia.

Roma, 27 de março de 2016.
Domingo da Páscoa – Ressurreição do Senhor
____________________________
Pe. Valdir José De Castro, SSP
Superior geral

 

1
Atos do X Capítulo Geral, Declaração capitular, pp. 60-­‐‑63.
2
Papa Francisco, Evangelii Gaudium, Exortação apostólica (24 de novembro de 2013), nº 11.
3
Tiago Alberione, Abundantes divitiæ gratiæ suæ (AD), Roma, 1998, 100.
4
Idem, Fedeltà allo Spirito Paolino, Roma, Edizioni Paoline, 1965, p. 49.
5
Bento XVI, Audiência Geral, 13 de abril de 2011.
6
Stefano De Fiores-­‐‑Tullo Goffi (a cura di), “Santo” in Nuovo Dizionario di Spiritualità, Cinisello Balsamo
(Milano), Edizioni Paoline, 1985, p. 1370.
7
Lumen Gentium, nº 40.
8
Bento XVI, Audiência Geral, 13 de abril de 2011.
9
Evangelii Gaudium, nº 8.
10
Papa João Paulo II, Redemptoris Missio, Carta encíclica (7 de dezembro de 1990), nº 37.
11
Papa Bento XVI, 45ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais (5 de junho de 2011), “Verdade,
anúncio e autenticidade de vida na era digital”, 24 de janeiro de 2011.
12
Papa Francisco, 48a Jornada Mundial das Comunicações Sociais (1º de junho de 2014)
13
Idem, 50a Jornada Mundial das Comunicações Sociais (8 de mai0o de 2016), “Comunicação e
misericórdia: um encontro fecundo”, 24 de janeiro de 2016.
14
Tiago Alberione, Alle Pie Discepole del Divin Maestro, 1947, 436; cfr. Vademecum, Edizioni Paoline,
Cinisello Balsamo (Milano), 1992, 679.
15
Cf.
Carissimi in San Paolo (CISP), Edizioni Paoline, Roma, 1971, pp. 11-­‐‑12.
16
Tiago Alberione, Alle Figlie di San Paolo, 1956, p. 271; cfr. Vademecum, cit., 562.
17
Idem, Alle Figlie di San Paolo, 1959, p. 138; cfr. Vademecum, cit., 590.
18
Idem, Prediche del Primo Maestro, 6 (1958), p. 5; cfr. Vademecum, cit., 587.
19
Idem, Per un rinnovamento spirituale (RSP), Edizioni San Paolo, Cinisello Balsamo (Milano), 2005, p. 556.
20
Tiago Alberione, Appunti di Teologia Pastorale (ATP), Edizioni San Paolo, Cinisello Balsamo (Milano), 2002, 7.
21
San Paolo (SP), novembre-­‐‑dicembre 1954; cfr. CISP, p. 599.
22
Tiago Alberione, Ut perfectus sit homo Dei (UPS), Edizioni San Paolo, Cinisello Balsamo (Milano), I,376.
23
RSP, cit., p. 547.
24
SP, luglio-­‐‑agosto 1954; cfr. CISP, cit., p. 147.
25
Tiago Alberione, Pensieri, Edizioni Paoline, Roma, 1972, p. 55; cfr. FSP-­‐‑Spiegazione delle Costituzioni, 1961, 463.
26
SP, aprile 1957; cfr. CISP, cit., p. 159.
27
Tiago Alberione, Anima e corpo per il Vangelo (ACV), Edizioni San Paolo, Cinisello Balsamo (Milano), 2005, pp. 61-­‐‑63.
28
Cfr. Vademecum, cit., 653 (in occasione del quarantesimo anno di fondazione delle Figlie di San Paolo, 1955).
29
Tiago Alberione. È necessario pregare sempre, 2, (1940), p. 362; cfr. Vademecum, cit., 637.
30
Idem, Haec meditare, IV, 1947-­‐‑1948.
31
Papa Bento XVI, Verbum Domini, Exortação apostólica pós-­‐‑sinodal (30 de setembro de 2010), nº 55.
32
Tiago Alberione, Alle Figlie di San Paolo, 1941, p. 137; cfr. Vademecum, cit., 1058.
33
Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 174.
34
AD, cit., 95.
35
Prediche del Primo Maestro: San Paolo, pp. 260-­‐‑261; cfr. Vademecum, cit., 631.
36
UPS, cit., II, 110.
37
Atos do X Capítulo Geral, Prioridades 2.2., p. 67.
38
Tiago Alberione, Alle Figlie di San Paolo, 1948, p. 574; cfr. Vademecum, cit., 1066.
39
SP, febbraio 1951; cfr. CISP, cit., p. 809.
40
AD, cit., 19-­‐‑20.
41
ACV, cit., pp. 161-­‐‑162; cfr. Vademecum, cit., 1093.
42
Papa Francisco, Ângelus, 11 de janeiro de 2015.
43 Papa Francisco, Discurso aos participantes do V Capítulo Geral dos Sacerdotes de Schönstatt, 3 de setembro de 2015.

 

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