O’ Sullivan diz que “as coisas que as pessoas acham significativas em sua vida são a prática religiosa, a conversa, a família e as reuniões da comunidade, teatro, música, dança, literatura, esportes, poesia, atividades artísticas e criativas, educação e apreciação da natureza”. No mesmo livro, escreve que “O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi se dedicou mais de vinte anos ao estudo das condições que tornam a vida das pessoas feliz e plena. Uma coisa ficou clara depois de seus abrangentes estudos: o dinheiro e o consumo não foram considerados o fundamento básico para uma vida feliz e plena.”[1] A razão iluminista, origem do modernismo, império da ciência e da tecnologia, iludiu-nos com a promessa do paraíso. No entanto, juntamente com o conforto físico e material, trouxe-nos alguns problemas: o vazio espiritual, o racionalismo, o individualismo, o consumismo, o crescente aumento da miséria, a explosão demográfica, resultando na depredação do planeta, que passa por uma séria crise, talvez irreversível, tudo para alimentar nossa ilusão de bem-estar. Salvoldi esclarece que “os números indicam que a crise do planeta é devida também à convicção de que a felicidade depende da posse de quantidades crescentes de bens materiais: casas, carros, aparelhos de TV, máquinas de lavar, jóias, petróleo, considerados índices indiscutíveis de autêntico progresso para os indivíduos, classes sociais e povos.”[2]
Estamos em clima de transformação. A Era Moderna não cumpriu a dádiva da felicidade. Queremos, por isso, buscá-la na Era Pós-Moderna. Há, porém, impressão de caos: se já não desejamos o modernismo, ainda não vemos o rosto do pós-modernismo. Temos consciência de que os valores modernos não nos fazem felizes, mas ainda são poderosos e nos dominam. Não conseguimos nos imaginar sem eles. Embora exista no ar uma sensação de novidade, continuamos predominantemente racionais, insensíveis, individualistas, consumistas, depredadores do meio ambiente. Permanecemos infelizes. Entretanto, a sede de felicidade que nos invadiu é indício de que vamos procurar e encontrar a fonte.
A felicidade individual entrelaça-se à felicidade social e planetária. Cuidar do outro e do Planeta é uma extensão do cuidado pessoal. Inútil mentalizar felicidade interior, adotando atitude autista em relação ao exterior. O espaço interior e espaço exterior se integram. Não dá para ser feliz de verdade, se o mundo está infeliz. O empenho em embelezar e dar sentido ao nosso ambiente (a natureza, o lar, a escola, a cidade, o país) nos traz alegria e certeza de que pertencemos a uma grande comunidade planetária.
Se permanecermos sós, preocupados somente com nossos problemas pessoais e ocupados apenas com nossa perfeita satisfação, acabamos perdendo o sentido da vida, porque somos seres de relações. A mitologia grega nos oferece o exemplo de Narciso que, ao avistar-se numa fonte cristalina, apaixonou-se pela própria imagem e ficou estático, adormecido, vidrado, com o olhar fixo em si, esquecido de todos, cada vez mais só, frustrado e infeliz, até definhar.
O altruísmo faz bem. A atitude de olhar para o outro e ajudar as pessoas e o Planeta a serem melhores, nos ajudam a solidificar a felicidade. Nossa profissão e nossos progressos intelectuais, além de trazerem benefícios pessoais e familiares, devem trazer benefícios sociais e planetários.
A felicidade está também na capacidade de socializar nossos sonhos e de alimentar esperança coletiva. Sonho e esperança se conectam: um não existe sem o outro. No processo de fazer o sonho acontecer, juntos vamos descobrindo a felicidade nos detalhes do itinerário e nas maravilhas da convivência.
A intimidade com o mistério e a beleza também nos abre para a felicidade. Quando entramos em nossa paisagem interior em busca de nós mesmos, descobrimo-nos imersos em um ambiente aberto, real, em companhia de pessoas e outros seres, num cenário de maravilhas, de mistério e de possibilidades. Com Einstein aprendemos que “a mais bela e profunda experiência é a sensação do mistério. Ela é semeadora de toda verdadeira ciência. O homem para quem essa emoção é estranha, que não mais pode se maravilhar e se sentir arrebatado de admiração, está praticamente morto”.
Afastamo-nos em excesso de Deus e da sua criação. Perdemos a capacidade do encanto. Experimentamos a solidão e a infelicidade. É hora de voltarmos para casa, como filhos pródigos. É tempo de nos recordarmos que somos natureza, criaturas amadas de Deus. A energia divina, chamada amor, nos aquece o coração e nos devolve a beleza original.
Podemos assim assumir com lucidez e felicidade a Era Pós-Moderna.
[1] O’SULLIVAN, Edmund. Aprendizagem Transformadora – uma visão educacional para o século XXI. Trad. Dinah A. de Azevedo. São Paulo: Cortez, 2004, pág. 342 e 344.
[2] SALVOLDI, Giancarlo e Valentino. A Beleza que Salva. São Paulo: Paulinas, 1998, pág. 22.