A arte da felicidade

Compartilhe nas redes sociais

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no telegram
Telegram

O’ Sullivan diz que “as coisas que as pessoas acham significativas em sua vida são a prática religiosa, a conversa, a família e as reuniões da comunidade, teatro, música, dança, literatura, esportes, poesia, atividades artísticas e criativas, educação e apreciação da natureza”. No mesmo livro, escreve que “O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi se dedicou mais de vinte anos ao estudo das condições que tornam a vida das pessoas feliz e plena. Uma coisa ficou clara depois de seus abrangentes estudos: o dinheiro e o consumo não foram considerados o fundamento básico para uma vida feliz e plena.”[1] A razão iluminista, origem do modernismo, império da ciência e da tecnologia, iludiu-nos com a promessa do paraíso. No entanto, juntamente com o conforto físico e material, trouxe-nos alguns problemas: o vazio espiritual, o racionalismo, o individualismo, o consumismo, o crescente aumento da miséria, a explosão demográfica, resultando na depredação do planeta, que passa por uma séria crise, talvez irreversível, tudo para alimentar nossa ilusão de bem-estar. Salvoldi esclarece que “os números indicam que a crise do planeta é devida também à convicção de que a felicidade depende da posse de quantidades crescentes de bens materiais: casas, carros, aparelhos de TV, máquinas de lavar, jóias, petróleo, considerados índices indiscutíveis de autêntico progresso para os indivíduos, classes sociais e povos.”[2]

Estamos em clima de transformação. A Era Moderna não cumpriu a dádiva da felicidade. Queremos, por isso, buscá-la na Era Pós-Moderna. Há, porém, impressão de caos: se já não desejamos o modernismo, ainda não vemos o rosto do pós-modernismo. Temos consciência de que os valores modernos não nos fazem felizes, mas ainda são poderosos e nos dominam. Não conseguimos nos imaginar sem eles. Embora exista no ar uma sensação de novidade, continuamos predominantemente racionais, insensíveis, individualistas, consumistas, depredadores do meio ambiente. Permanecemos infelizes. Entretanto, a sede de felicidade que nos invadiu é indício de que vamos procurar e encontrar a fonte.

A felicidade individual entrelaça-se à felicidade social e planetária. Cuidar do outro e do Planeta é uma extensão do cuidado pessoal. Inútil mentalizar felicidade interior, adotando atitude autista em relação ao exterior. O espaço interior e espaço exterior se integram. Não dá para ser feliz de verdade, se o mundo está infeliz. O empenho em embelezar e dar sentido ao nosso ambiente (a natureza, o lar, a escola, a cidade, o país) nos traz alegria e certeza de que pertencemos a uma grande comunidade planetária.

Se permanecermos sós, preocupados somente com nossos problemas pessoais e ocupados apenas com nossa perfeita satisfação, acabamos perdendo o sentido da vida, porque somos seres de relações. A mitologia grega nos oferece o exemplo de Narciso que, ao avistar-se numa fonte cristalina, apaixonou-se pela própria imagem e ficou estático, adormecido, vidrado, com o olhar fixo em si, esquecido de todos, cada vez mais só, frustrado e infeliz, até definhar.

O altruísmo faz bem. A atitude de olhar para o outro e ajudar as pessoas e o Planeta a serem melhores, nos ajudam a solidificar a felicidade. Nossa profissão e nossos progressos intelectuais, além de trazerem benefícios pessoais e familiares, devem trazer benefícios sociais e planetários.

A felicidade está também na capacidade de socializar nossos sonhos e de alimentar esperança coletiva. Sonho e esperança se conectam: um não existe sem o outro. No processo de fazer o sonho acontecer, juntos vamos descobrindo a felicidade nos detalhes do itinerário e nas maravilhas da convivência.

A intimidade com o mistério e a beleza também nos abre para a felicidade. Quando entramos em nossa paisagem interior em busca de nós mesmos, descobrimo-nos imersos em um ambiente aberto, real, em companhia de pessoas e outros seres, num cenário de maravilhas, de mistério e de possibilidades. Com Einstein aprendemos que “a mais bela e profunda experiência é a sensação do mistério. Ela é semeadora de toda verdadeira ciência. O homem para quem essa emoção é estranha, que não mais pode se maravilhar e se sentir arrebatado de admiração, está praticamente morto”.

Afastamo-nos em excesso de Deus e da sua criação. Perdemos a capacidade do encanto. Experimentamos a solidão e a infelicidade. É hora de voltarmos para casa, como filhos pródigos. É tempo de nos recordarmos que somos natureza, criaturas amadas de Deus. A energia divina, chamada amor, nos aquece o coração e nos devolve a beleza original.

Podemos assim assumir com lucidez e felicidade a Era Pós-Moderna.

[1] O’SULLIVAN, Edmund. Aprendizagem Transformadora – uma visão educacional para o século XXI. Trad. Dinah A. de Azevedo. São Paulo: Cortez, 2004, pág. 342 e 344.

[2] SALVOLDI, Giancarlo e Valentino. A Beleza que Salva. São Paulo: Paulinas, 1998, pág. 22.

Publicações recentes