Uma leitura teológica-espiritual do símbolo do IV Seminário Nacional de Religiosos Irmãos

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Um símbolo suscita a curiosidade e a busca pelo significado que contém. Semelhante desejo brota quando nos deparamos com o símbolo do IV Seminário Nacional dos Religiosos Irmãos. O encontro assumiu como tema o título do documento da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica: “Identidade e missão do Religioso Irmão na Igreja” (IMRII). Seu lema foi։ “Eis o vosso tesouro։ a fraternidade”. Surgiu uma grande variedade de interpretações quando, durante o seminário, os Irmãos foram perguntados sobre o significado do símbolo. Aqui, a partir da teologia, vida e espiritualidade de um irmão, buscar-se-á apresentar uma das leituras possíveis.

A centralidade da vida cristã está em Jesus Cristo, nosso Irmão. Identifico a figura de braços abertos como sendo Jesus mesmo. A unidade perfeita entre ele e o Pai se torna o paradigma para nossas relações humanas: “eu lhes dei a glória que tu me deste para que sejam um, como nós somos um” (Jo 17, 22). Jesus, na verdade, é o único e verdadeiro tesouro (Cf. PC 2a). A cruz, acima do tesouro, indica que esse seguimento pressupõe assumir também os desafios que se colocam a cada dia na construção de uma verdadeira fraternidade (cf. Mt 16,24).

Por isso, tal seguimento faz recordar, através das três figuras humanas que constituem a parte central do símbolo, a passagem bíblica dos discípulos de Emaús. Após a morte de Jesus, dois de seus discípulos voltavam para Emaús. Estavam desanimados e tristes. Somente a partir da partilha do pão que seus olhos se abriram e reconheceram que Jesus ressuscitado estava entre eles (cf. Lc 24, 13-35). A mesa da Eucaristia deve ser, portanto, sinal de vínculo da união fraterna e de esperança num mundo tantas vezes marcado por divisões sociais, raciais, econômicas e religiosas. Os Irmãos deveriam ser alunos e professores dessa escola de comunhão que quer ser a Igreja (cf. IMRII, 7e).

A figura das três pessoas também pode recordar o ideal da vida comum contido na proposta de vida dos Religiosos. Esse mistério de comunhão está na própria Trindade. Como parte do Povo de Deus e de sua missão, os Irmãos são chamados a ser memória da aliança por meio da consagração a Deus numa fraternidade (cf. IMRII, 5). A vida fraterna, por sua vez, não é patrimônio exclusivo destes. Contudo, eles cuidam dessa matéria preciosa com um cuidado especial. Torna-se, assim, para a comunidade eclesial, uma memória profética de sua origem e estímulo para retornar a ela (cf. IMRII, 11).

É paradoxal, porém, observar que a junção de duas das figuras humanas que carregam o tesouro forma a imagem de um vaso. Aqui, é inevitável não recordar as palavras de São Paulo: “trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila” (II Cor 4, 7). A vida fraterna só pode ser construída na relação com o outro. Todavia, essas relações, mesmo com todo o esforço fraterno, são frágeis. Por isso que, devido as incoerências e debilidades humanas, nem sempre esse tesouro reluz todo seu esplendor na Igreja e no mundo (cf. Jo 12, 8).

Essa comunidade, que busca viver a fraternidade segundo o projeto de Cristo, está situada no mundo, representado pelo globo azul. Eis aqui a missão do Irmão de ser sal na terra e luz no mundo (cf. Mt 5, 13-16). Mesmo integrando um grupo numericamente reduzido, o Irmão, a partir de um carisma específico, “busca e sinaliza Deus nas realidades seculares da cultura, da ciência, da saúde humana, do mundo do trabalho, importando-se com os fracos desfavorecidos” (cf. IMRII, 10e). Impressiona os incontáveis exemplos de tantos Irmãos que ainda hoje são sinais de consagração a Deus em suas atividades cotidianas realizadas nos mais distintos contextos.

Todavia, não é suficiente estar no mundo. Aquela espécie de borda no círculo azul recorda as tantas periferias que existem em nossa cultura. Os próprios Irmãos, enquanto religiosos leigos, por sua natureza, também estão numa condição limiar, de fronteira entre a realidade religiosa e a realidade secular. Por isso, mais do que ninguém, são chamados a servirem como uma ponte entre elas. Seu papel nas periferias do mundo, portanto, será, de um lado, fazer-se verdadeiramente irmão dos que lá se encontram, mas, de outro, anunciar aquilo que transcende tal realidade.

Provavelmente, a artista que criou esse símbolo não pensou em tudo isso que foi apresentado acima. Entretanto, essa é umas belezas contidas numa obra de arte: a abertura para leituras que podem transpor a intenção do autor. Outra beleza é a capacidade que esse símbolo tem de, por um lado, mostrar um pouco da identidade do Irmão, mas, de outro, inquietar a aqueles que fazem tal opção. A vocação do Irmão, antes de tudo, carrega um valor inestimável daquilo que é o ideal da vivencia do cristão: que sejamos todos, de fato, irmãos (cf. Mt 23, 8). O desafio é buscar viver do modo mais responsável e empenhado possível esse dom que é a fraternidade cristã.

Frei Edimar Fernando Moreira, Carmelita

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