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Testemunho: Irmã Patrizia Licandro fala sobre o Tráfico de Pessoas na Amazônia

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Por Patrizia Licandro| Depois de viver por 10 anos em Goiás, há quase 8 anos moro em Tabatinga, diocese do Alto Solimões no Amazonas, na tríplice fronteira entre Brasil-Colômbia-Peru. Ao chegar neste pedaço de paraíso, logo me deparei com um povo que ainda hoje carrega as consequências da exclusão e do descaso dos poderosos.

Nos corpos maltratados e rostos sofridos, cansados pelas cargas pesadas de décadas de subserviência, enxergo os sonhos acorrentados de um destino diferente.

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São homens e mulheres que, cotidianamente, convivem com a violência e a impunidade, o descaso dos governantes e as falsas promessas dos políticos. Desde a minha chegada a Tabatinga estou a serviço da Pastoral da Mobilidade Humana, ajudando os migrantes, especialmente nos últimos anos os haitianos. O trabalho consiste em acolher e orientar os solicitantes de refúgio. Atuando nos abrigos e no presídio, encontro com pessoas vulneráveis, potencialmente vítimas do tráfico.

Por ter a fronteira em nossa realidade, o narcotráfico, a prostituição infanto-juvenil, o trabalho escravo e o turismo sexual estão muito presentes. Aqui o problema não é “invisível”! Vemos diariamente muitas jovens ribeirinhas e indígenas serem levadas às famílias da cidade pela promessa de estudarem, mas acabam só trabalhando ou são trancafiadas nas casas. Ouvimos vários pedidos e relatos como estes: “Acabamos de descobrir um esquema de aliciamento de menores para a prostituição. Podem acolher uma menina em sua comunidade até encontrarmos a família?” Com relação à S., 13 anos, corpo de criança, olhar de adulta desiludida.

“Estava indo para a Espanha. Ele me pagou a passagem. Nos pegaram porque tínhamos droga”. Relatou C., 22 anos, percebendo a sorte que teve ao ser presa.

“Irmã, desculpe, sei que recorremos sempre a vocês da Igreja, mas não temos alternativas!”

Quando penso em realidades como essas, sinto toda a minha pequenez e impotência, mas ao mesmo tempo, percebo o quanto, em rede, podemos buscar caminhos de encontro e partilha, de denúncia e de construção de alternativas. Não somos uma multidão, mas estamos nos organizando e articulando as forças de quem não se entrega, muito menos quer entregar a juventude a um futuro sem esperança. Somos religiosas, leigos e leigas, jovens, adultos e idosos, todos unidos para que a vida seja defendida e promovida, sempre!

Agradeço infinitamente a Deus por me conceder a graça de viver com sensibilidade e profundidade esta experiência, que me transforma gradativamente e que me firma no meu ser mulher consagrada. Aos meus irmãos e irmãs amazônidas, – brasileiros, colombianos, peruanos – e aos irmãos e irmãs haitianos, que me ajudam a ser, sempre mais, sinal do amor de Deus para com os pequenos e os fracos, a minha gratidão sem limites e o compromisso desta minha vida sempre mais doada.

* Irmã Patrizia Licandro, das Irmãs Ursulinas de São Carlos. É missionária italiana na diocese do Alto Solimões onde coordena a Pastoral da Mobilidade Humana e a Pastoral Carcerária. (Publicado no livrinho da Novena Missionária 2014, p. 43).

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