Seminário Pan-Amazônico encerra, em Manaus

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Por Nadia Caetano e Rosinha Martins|


“Além de nossas cuias, levamos paneiros e redes, tecidas de sonhos e de desejos, ocupando brechas que abrem novos rios de vida abundante para todos e todas”.

Terminou na tarde deste domingo, 09, o Seminário Pan-Amazônico, organizado pela Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas, em parceria com a CRB Nacional – Conferência dos Religiosos do Brasil.

O Evento contou com a participação e assessoria de Antropólogos, teólogos, biblistas, religiosos missionários que atuam região Pan-Amazônica, que inclui os países da Bolívia, Venezuela, Equador, Peru, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Brasil.

Em sua fala o doutor em Filosofia, Antropologia e Lingüística, atuante na missão junto aos indígenas bolivianos, o sacerdote jesuíta Padre Xavier Albó, entre outras colocações deu ênfase à arte do bem viver como uma das expectativas a serem alcançadas no exercício da missão na Amazônia.

“O que é o bem viver? Alguns  nos dirão que bem-viver é tomar muita cerveja ou andar por aí, a “La dolce vita” como dizem os italianos. Porém os povos indígenas quando dizem da arte do bem-viver, tem um outro conceito. Sendo interrogados Aymaras da Bolívia,  por estudioso  alemão sobre o conceito de desenvolvimento, responderam que em seus dicionários não existia essa palavra, e que a eles não interessava o desenvolvimento e sim “soma camaña”, aymara, o que quer dizer “bem-viver”.

E viver bem significa que todos vivam bem. O contrário de viver bem não é viver melhor, porque viver melhor significa viver melhor que outros, ter mais possibilidades  e outros vivem marginalizados.

E o missionário continua: “Logo, viver bem, para mim, então é como algo que é conectivo, que serve para todos e que portanto se opõe a todos programas os programas de desenvolvimento que fazem com que uns vivam melhor que outros. O conceito de viver bem deve ser algo inclusivo, que não seja propriedade de poucos, afirmou.

A Teóloga Irmã Vera bombonato relatou sobre o papel da teologia no processo de reflexão sobre os desafios, importância e missão na Amazônia: “ Nesse processo do bem –viver  a teologia ocupa um lugar central por ser a inteligência da fé, pois ajuda a compreendê-la. Ela tem também a função de iluminar a nossa práxis; traz Deus mais para perto de nós. Essa é a sua função da teologia: iluminar os caminhos, trazer Deus mais para perto de nós, ajudar a compreender o momento histórico, o projeto de Deus  a a fim de que este possa ser realizado.

Segundo a Biblista, Irmã Zenilda, a Palavra de Deus ocupa um lugar fundamental na reflexão e na missão cotidiana na Amazônia.“É necessário evidenciar a importância Palavra de Deus neste contexto da Amazônia. Nós cremos que ela criou tudo e certamente quando Deus criou a Amazônia, percebeu que isso aqui era muito bom, ficou feliz com a criação deste novo paraíso.

Nós, Igreja, Vida Consagrada, Cristãos, Servidores do Reino, Evangelizadores, necessitamos de novas sensibilidades para bem fazer uma leitura bíblica, menos dogmática, menos doutrinária, que resgate o Deus da vida, o Deus da Criação, que faça perceber o quanto a Palavra de Deus já nos antecipa nesta realidade.

A nós cabe ter um olhar sagrado, sacramental para percebermos melhor essa Palavra já encarnada em nossa realidade amazônica. E como biblista gostaríamos de contribuir que se evidencie essa Palavra viva de Deus na realidade. Os nossos povos, as nossas comunidades são extremamente sensíveis para com ela. E uma leitura bíblica bem contextualizada, bem fundamentada, bem situada ajuda-nos profundamente a defender a vida na Amazônia.

Os desafios da missão na realidade dos países que compõem o bioma amazônico tem sido desafiantes pelas dificuldades sócio-políticas e econômicas: “Estamos trabalhando numa fronteira e fronteira supõe sempre relações com governos diferentes, cada um com sua realidade, com suas leis, sua maneira de ser, famílias dos dois lados da fronteira o que gera constantes conflitos; a maioria dos caminhos é via rio, o que gera dificuldades; a guerrilha na divisa com Colômbia e Equador.

Ser missionário é como diz nosso carisma, é levar a consolação que vem de Deus, por meio da Virgem Maria”, disse o Irmão Julio Caldeira que atua na tríplice fronteira: Colômbia, Equador e Peru.

O Seminário contou, ainda com a participação e colaboração do sacerdote Jesuíta, Padre Fernando, membro da Equipe Itinerante na Amazônia. Padre Fernando ressaltou em sua fala a importância da formação mística e profética para a missão Amazônia. Uma espiritualidade para a missão nas fronteiras requer uma atitude de profunda confiança no amor do Pai.

Lembrou ao grupo o pensamento iluminador de Dom Helder Câmara: “Aceita as surpresas que transtornam teus planos, derrubam teus sonhos, dão rumo totalmente diverso ao teu dia e, quem sabe, a tua vida. Não há acaso. Dá liberdade ao Pai, para que Ele mesmo conduza a trama de teus dias”.

Além dos momentos de reflexão, o grupo pode fazer experiências de convivência e oração permeadas pela cultura e a espiritualidade própria da Amazônia.

Esteve presente em todos os momentos do Seminário, o presidente da Comissão para a Amazônia, da Conferência dos Bispos do Brasil(CNBB), o Cardeal Dom Claudio Hummes, que manifestou a sua satisfação em estar um  grupo que manifesta amor pela missão na Igreja e pela Amazônia.

“Cheguei aqui feliz e volto mais feliz ainda por encontrar pessoas tão entusiasmadas e comprometidas com os povos desta terra e com a defesa da vida”, disse.

O segundo Seminário Pan-Amazônico acontecerá em 2013. O evento teve seu termino com a elaboração de uma mensagem final para a Igreja, a Vida Religiosa e a sociedade em geral, definição de linhas de ação, estratégias e atividades que garantam a inter-institucionalidade e intercongregacionalidade para uma Evangelização nos países afins, em vista da defesa da vida.

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