Os textos da edição desta revista são parte das palestras proferidas no encontro sobre Ecoteologia realizado em Brasília (DF) nos dias 16 e 17 de setembro de 2017. A organização é de Moema Miranda.
Já avançados na segunda década do século XXI, o planeta Terra experimenta uma crise sistêmica de complexidade crescente. Pela primeira vez na história deste lindo planeta, “casa comum” da humanidade e de todas as formas de vida por ela conhecidas, são reais os riscos de extermínio, de “fim do mundo”. Não precisamos lembrar aqui as métricas, parâmetros e indicadores elaborados por cientistas, indígenas, camponeses e comunidades tradicionais de todos os continentes, para dar conta da crise ecológica.
Diante desta dor, o papa Francisco reconhece com tristeza, na Encíclica Laudato Si, que a “violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos.”(LS, parágrafo 2).
As mesmas dinâmicas de super-exploração que fazem a Terra clamar de dor, afetam a enorme maioria da humanidade. Os índices de desigualdade demonstram que poucos enriquecem, enquanto um número cada vez maior de pessoas vive em situação de pobreza e miséria. Crises combinadas ou, como diz o Papa: “uma complexa crise socioambiental,” (LS, parágrafo 139).
A Amazônia, um dos pulmões do planeta, se torna neste contexto, palco de uma luta renhida! Como afirmou o papa Francisco em Porto Maldonado, durante o encontro com os povos indígenas: “vocês nunca estiveram tão ameaçados”. Sim, na Amazônia povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, religiosas e religiosos, jovens moradores das cidades, ambientalistas, lutam e resistem. O martírio de tantas pessoas testemunha a força daresistência dos povos ao avanço de um modelo de morte e injustiça.
Nesta, como em todas as situações extremas pelas quais passou, o povo de Deus se pergunta: “Senhor, onde estás?” A resposta a esta pergunta se transforma em canto de resistência, em hino nas romarias, em poesia nas celebrações. É o fermento que aumenta a fé e dá força para a caminhada, ao ser compartilhado em comunhão. Se transforma, também, em teologia, em uma forma de falar sobre Deus, a partir da experiência de busca e de encontro.
Por isto, nestes tempos em que o grito da Terra e o grito dos pobres são um e o mesmo, para muitos e muitas de nós, fazer teologia é, fazer ecoteologia! Estamos convencidos, com o papa Francisco “que nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado,amoroso e humilde,” (LS, Parágrafo 89).
Assim, além de lutar, celebramos a maravilha da vida e do viver! Afinal, “o mundo é algo mais do que um problema a resolver; é um mistério gozoso que contemplamos na alegria e no louvor”, (LS, parágrafo 12).
A REPAM, Rede Eclesial da Pan-Amazônica, sensível a esta dinâmica da vida pastoral das comunidades amazônicas, acolhe, fortalece e favorece o diálogo sobre “as espiritualidades que dão força à caminhada”. Foi assim que nasceu o encontro, berço da presente publicação: com a humildade e o compromisso de ser momento de partilha, alimento para a jornada. Durante dois dias, no mês de agosto,com apoio da Comissão Episcopal para a Amazônia (CEA) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Grupo de Trabalho Igreja e Mineração da CNBB e da Rede Iglesias y Minería, homens e mulheres, leigos e religiosos, de vários estados da Amazônia e de fora dela, conversaram, compartilharam, refletiram e celebraram o dom da vida e da luta por justiça e paz. Paz entre nós e paz com a Terra. Hoje, sabemos, é uma e a mesma paz: pois tudo está interligado!
A publicação dos textos apresentados por assessores e assessoras pretende contribuir para fortalecer nosso caminhar! São textos profundos e simples, falam de ecoteologia a partir do lugar das mulheres, dos que lutam pela terra, dos que atuam com os povos indígenas, dos que resistem ao avanço da mineração. Falam, também, a partir do lugar dos que estudam e ensinam. Falam, ainda, como teólogos e teólogas. A Encíclica Laudato Sí, este “documento extraordinário” oferecido ao mundo pelo Papa Francisco, nos inspirou e iluminou nos debates. Ao divulgar este material, desejamos contribuir para mais e muitos encontros, celebrações e luta em defesa da Amazônia: de suas terras, seus rios, suas matas e seus povos. Tudo está interligado!