Como Companhia de Santa Teresa de Jesus na América,
reunida em Medellín, de 20 a 25 de março de 2018, ao olhar para o nosso continente, nos sentimos
comovidas a escutar o grito dos pobres e o grito da terra:
Uma grande fonte de água que está sendo privatizada, violentando os direitos dos povos
originários e das pequenas populações camponesas que se veem privadas deste elemento
básico para a vida.
O desmatamento em áreas como a Amazônia causa dano numa grande reserva ecológica,
patrimônio não só do continente, mas do mundo.
O minério explorado, que atravessa todo o continente, contaminando os rios, oceanos e a
terra, gerando numerosas enfermidades nas pessoas e animais e provoca inumeráveis
deslocamentos de populações inteiras.
A destruição dos solos e a aparição de novos solos não naturais ameaça ao equilíbrio natural
do sistema e a contaminação da água e do ar.
A corrente migratória em todo o continente, como consequência da pobreza, da fome, da
corrupção, expropriação de terras e de governos totalitários que não buscam o bem do
povo.
O tráfico de crianças, adolescentes, jovens e mulheres, intensificado pela migração forçada,
afeta todos os países do continente.
A violência de gênero, incluindo o feminicídio, é um fenômeno endêmico que aumenta em
todo o continente até chegar a cifras escandalosas.
Esta realidade que nos dói e indigna é o convite do Papa Francisco na Laudato Si, nos urgem a uma
profunda conversão ecológica e nos leva a nos posicionar publicamente em defesa da Mãe Terra e
dos mais vulneráveis, devido a deterioração da casa comum e das políticas que ameaçam o bem dos
povos.
Por isso, em sintonia com o XVII Capítulo Geral da Companhia de Santa Teresa de Jesus, diante do
clamor da terra e dos pobres:
Sentimos a urgência de lutar por uma mudança cultural e construir com outros e outras uma
proposta ética universal que nos permita avançar no processo de humanização e
reconciliação em nossa sociedade 1 .
Assumimos, a partir do nosso carisma educativo teresiano, a ética do cuidado como
alternativa que gera um novo modo de relação com Deus e com todo o criado 2 .
Sentimo-nos comprometidas em implicar-nos na aprendizagem e na construção de uma
pedagogia geradora de transações ganhar-ganhar em todos os espaços de socialização onde
a vida acontece, que nos ajude a passar da inteligência competitiva e dominadora a uma
inteligência colaborativa e solidária. Só este tipo de transação torna possível o aumento da
riqueza e da equidade ao mesmo tempo.
Queremos realizar opções e ações que nos levem a identificar e modificar comportamentos e
hábitos cotidianos que têm incidência direta no cuidado do ambiente, para romper a lógica
da violência e do egoísmo, prevenir e reverter o dano ecológico 3 .
Desejamos formar-nos e formar para uma nova cidadania, aprendendo a criar organização e
pertencer ativamente a organizações porque é a organização que transforma as pessoas em
atores sociais capazes de defender seus direitos.
1 Documento Conclusivo do XVII Capítulo Geral da Companhia de Santa Teresa de Jesus, Roma 2017.
Estamos dispostas a implicar-nos na defesa de nossos recursos comuns que são para o benefício da
humanidade e desenvolver um grande conceito de hospitalidade, porque reconhecemos que só há
uma casa comum.
Com o Deus da vida e, em sintonia com outras organizações e pessoas, queremos tornar possível o
cuidado da dignidade de todas e todos, especialmente dos mais vulneráveis.
Cuidamos o que amamos e amamos o que cuidamos 4 .
No 50º aniversário da II Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellín.
Medellín, 24 de março de 2018
Festa de São Oscar Romero da América