Por mais sombrias que sejam as nuvens,
por trás delas esconde-se um sol radiante.
Por mais escura que seja a noite,
mais vivo e forte será o brilho das estrelas.
Por mais estéril que seja o deserto,
na encruzilhada repousa um oásis acolhedor.
Por mais venenoso que seja o mutismo,
no útero do silêncio plasma-se uma palavra nova.
Por mais amargas que sejam as lágrimas,
cedo ou tarde um riso largo as substituirá.
Por mais despida e vazia que seja a solidão,
haverão de povoá-la um olhar e um rosto amigos.
Por mais que o frio corte qual navalha afiada,
à espera está o lume familiar de uma casa.
Por mais ameaçador que seja o mar bravio,
ao longe o farol indica a direção do porto.
Por mais nua e pobre que esteja a alma,
a luz do espírito a tornará rica e luminosa.
Por mais dolorosa que seja a separação,
o reencontro permanece como horizonte.
Por mais funda que seja a mágoa,
haverá sempre lugar para o perdão.
Por mais que a fome arreganhe seus dentes,
levanta-se do chão o clamor por justiça e paz.
Por mais curvado pelo peso da cruz,
nela mesmo reluz a chama da ressurreição.
Por mais inóspitos que sejam os caminhos da migração,
abre-se na terra a porta de uma refúgio, e no céu a pátria definitiva.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs – Lisboa, Portugal, 05 de Janeiro de 2017