Mensagem de dom Carballo aos Consagrados Jovens

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Cidade do Vaticano (RV) – Milhares de jovens acolheram o convite a participar da vigília de oração na Praça S. Pedro, na noite de terça-feira (15/09), que abriu o Encontro Mundial dos Jovens Consagrados.A vigília foi presidida pelo Secretário da Congregação, Dom José Rodríguez Carballo. Em sua homilia, ele propôs aos jovens consagrados três palavras como reflexão: Ânimo, sejam fortes! Perseverança, sejam fiéis! Frutificar, despertem o mundo!

Eis a íntegra do pronunciamento:

“PERMANECEIS NO MEU AMOR

Caríssimos jovens consagrados, queridos irmãos e irmãs consagrados, caríssimos todos: “Que o Senhor vos dê a paz!”

Bem-vindos a esta maravilhosa Praça São Pedro, pensada e realizada como ícone da Igreja mãe de Roma que acolhe todos os homens e as mulheres de boa vontade que se aproximam do túmulo de Pedro, em particular aqueles – como vocês, queridos jovens – vem a Roma para reavivar a sua fé e o dom de sua própria vocação, que Deus depositou no coração de cada um de nós, de modo que, vivendo em constante atitude de gratidão, vivendo uma vida marcada pela paixão por Cristo e pela humanidade, abertos sempre à esperança, possamos comunicar e testemunhar este dom diante dos homens e das mulheres de nosso tempo, particularmente diante dos jovens, com convicção e em autenticidade de vida.

Graças por terem escutado o nosso convite para participar desta vigília de oração com a qual iniciamos o Primeiro Encontro Mundial dos Jovens Consagrados, no contexto do Ano da Vida Consagrada.

Que estes dias que transcorreremos juntos para refletir sobre os elementos essenciais da vida consagrada – consagração, vida fraterna em comunidade e missão – e para celebrar o dom da nossa comum vocação em seguir Cristo “mais de perto” através dos conselhos evangélicos de obediência, sem nada de próprio e em castidade, iluminados também pela palavra e pelo exemplo de nosso amado Papa Francisco, nos sirvam para reavivar, como nos pede o Apóstolo Paulo o dom da vocação à qual fomos chamados.

Neste contexto, à luz da Palavra que proclamamos e seguindo o exemplo do Papa Francisco, desejo deixar-vos três palavras que podem vos ajudar, queridos jovens, e ajudar a todos no caminho de fidelidade criativa à qual todos os consagrados foram chamados. Estas três palavras são: Ânimo, sejam fortes! Perseverem, sejam fieis!, e produzam frutos, despertem o mundo!

Ânimo, sejam fortes! O Senhor foi generoso convosco, guardando-vos com amor, chamando-vos a partilhar a sua vida e a sua missão. Sejam vocês generosos com Ele. Não sejam vítimas da preguiça que vos leva a escolher o caminho mais cômodo e fácil. É verdade que aquilo que o Senhor nos pede, segui-lo “mais de perto”, e aquilo que exige a vida consagrada vivida em plenitude supera as nossas forças e capacidade. Mas não ouvimos talvez que na nossa fraqueza se manifeste a força de Deus? Não afirma a Escritura que, para Deus, “nada é impossível” e que tudo podemos naquele que nos fortalece?

Não vos alinheis, meus queridos jovens, ao número daqueles que, como diz Santo Agostinho, ouvindo a “trombeta do Espírito” que os chama a seguir o Senhor na vida consagrada não podem responder a ela, por causa do barulho e da dispersão em que vivem, ou simplesmente porque são muito apegados aos próprios planos e projetos para dar vida ao projeto de Deus.

Não sejam daqueles que diante do chamado do Senhor dizem “amanhã, para amanhã responder o mesmo” (Lope de Vega). Não sejam daqueles – os perpetuamente chamados – que vivem num processo de discernimento vocacional sem fim, sem nunca decidir, alegando todo tipo de pretexto para não manter o compromisso com o Senhor ou para adiar a resposta ao convite do Senhor. Não façam parte de uma certa “aristocracia do Espírito”, que sentindo-se chamada pelo Senhor nunca se compromete em segui-lo. Não façam da questão vocacional uma história sem fim, uma simples busca, sem desejar encontrar o Senhor ou de segui-lo com coragem, por temor de perder a própria liberdade ou a autonomia. Diz a Escritura: “Se ouvirdes hoje a sua voz! Não endureçais o vosso coração” (Salmo 95,7-8). Sim, se ouvirem a voz do Senhor, vivam um sério e sereno discernimento vocacional, fazendo-vos acompanhar por um autêntico mestre de espírito, e rezem incessantemente para que o Senhor vos faça conhecer a sua santa vontade. E, conhecida a vontade do Senhor, com fé viva, esperança certa e caridade perfeita, não adiais a resposta por muito tempo, não passem a vida na incerteza de quem não assume com coragem o risco de uma resposta generosa. Sabendo que Deus é chamado a ser o teu tudo – a tua riqueza, a tua segurança, a tua verdadeira liberdade, a tua superabundante riqueza, o teu bem, o sumo bem, todo bem (São Francisco) – entrega-te a ele com todo o teu coração, com toda a tua mente, com toda a tua alma e com todas as tuas forças, renovando constantemente esta oferta, para que o amor de Deus continue a fazer arder o teu coração e se mantenha viva a paixão pelo primeiro e único amor.

Queridos jovens, sejam generosos com o Senhor, o grande Esmoleiro, como o chamava Francisco de Assis, um, entre muitos, que na sua juventude deixa tudo para abraçar-se àquele que é Tudo. Não sejam preguiçosos nem avaros com o Senhor, sabendo que ele não se deixa vencer em generosidade. Tens fome e sede de significado? Deus é o teu pão e a tua água. Caminhas nas trevas: Deus é a tua “luz elevada”, o teu Monte Hermón. Caminhas no pecado: Deus é abraço de misericórdia e perdão.

Queridos jovens, sejam corajosos e fortes no espírito, tenham a diligência justamente no amor que não conhece limites no doar-se, mesmo se tudo isto comporta o caminhar contra a corrente. Neste contexto vos recordo as palavras do Papa Francisco aos jovens que encontrou em Turim: Vivam, não sobrevivam. Não vivam uma vida que vida não é.

Maria, a virgem do fiat, corajosa e confiante, vos acompanhe, nos acompanhe no nosso sim, corajoso e confiante.

Permaneçam, sejam fieis!

No texto do Evangelho que ouvimos, em sete versículos se repete dez vezes o verbo ficar (permanecer). Provavelmente o autor do quarto Evangelho constatava que já na Igreja à qual se dirigiam não poucos, diante da dificuldade de viver as exigências da sua vida cristã, eram tentados a deixar as exigências da sua vida cristã, eram tentados a deixar e voltar atrás. Foi a tentação à qual cedeu o jovem rico. É a tentação à qual cedem tantos jovens e nem tão jovens, no momento presente. Diante das exigências que comporta a vida consagrada decidem abandonar, esquecendo a palavra que um dia deram ao Senhor na sua profissão religiosa ou de vida consagrada.

Talvez tudo tenha começado com pequenas infidelidades que foram apagando a paixão que ardia em seus corações; pequenas infidelidades que levaram, pouco a pouco, a grandes e graves infidelidades. Talvez tudo tenha começado com uma vida sem paixão, dominada pela mediocridade, pela resignação ou pela falta de esperança, ou talvez por uma vida que, não mais alimentada por uma profunda comunhão com Cristo,  tornou insípido, sem sentido o sal da própria vocação. Muitas e complexas podem ser as causas. Certo é que a fidelidade, como já dizia o Beato Paulo VI, não é a virtude de nosso tempo. E isto que acontece na nossa sociedade sucede na Igreja e na vida consagrada.

Neste contexto é necessário reacender constantemente o fogo do amor a Cristo mediante uma profunda comunhão com ele, como os rebentos da videira, para reavivar a nossa doação incondicionada ao Senhor. É necessário reconhecer que sem ele nada podemos fazer, e que “o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Por tudo isto temos necessidade de alimentar a nossa fidelidade com uma vida forjada segundo os sentimentos de Cristo, através um projeto de vida “ecológico” no qual temos tempo para nós mesmos, tempo para os outros, a partir dos irmãos e irmãs da nossa comunidade/fraternidade, e tempo para Deus. Sem este projeto ecológico de vida, a tentação de deixar se fará sentir mais antes que depois, muito provavelmente cedemos e vamos embora.

Na nossa vida, como na de Paulo, seguramente, com maior força e frequência do que o previsto, sentimos os espinhos presos à nossa carne, que em momentos particulares de noite escura ou de crise existencial, como aquela vivida por Elias, nos fazem experimentar o cansaço de seguir em frente no seguimento de Jesus que decidimos, e que, como ele, sentimos a necessidade de gritar: “Agora basta!”. É então que o Senhor nos tranquiliza: “Basta-te a minha graça”. E se renova a nossa confiança nele, mesmo nós experimentando, como São Paulo, que a sua graça em nós não será vã.

Permaneçam. Não tenham medo. Não diminua a vossa fé, nem se enfraqueça a vossa esperança. O Senhor, como um dia em Jeremias, hoje assegura a cada um de nós: “Eu estou contigo para proteger-te”.

Maria, a virgem, é o nosso modelo de fidelidade em todas as circunstâncias da nossa vida.

Produzais frutos, despertem o mundo!

A árvore se reconhece pelos seus frutos. Jesus nos diz: “Esta é a vontade do meu Pai: que produzais frutos!”. Não somos consagrados por nós mesmos. Nem mesmo podemos fechar-nos nas nossas querelas de casa ou nos nossos problemas, como nos recorda o Papa Francisco na carta apostólica a todos os consagrados. Somos consagrados para viver segundo a lógica do dom, doando-nos, em liberdade evangélica (obediência), sem nada de próprio assumindo a Kenosis ou minoridade como forma de vida (pobreza) e com coração indiviso (castidade), a Cristo e aos outros. O consagrado é tudo para o Senhor, e, porque é tudo para o Senhor, é tudo para os outros. E tudo isto motivado pelo amor incondicional, a única razão válida para escolher a vida consagrada. Aquele que consagrou toda a sua vida ao Senhor, deve viver segundo o amor e com o amor, deixando que seja o amor a dar frutos abundantes: na sua comunidade, na Igreja e no mundo.

Queridos jovens, sejam pais e mães, não solteironas (Papa Francisco). Fujam da tentação de idolatrar a própria imagem, da tentação de Narciso, que vos levará, como o personagem mitológico, a morrer nas vossas próprias redes. Recordem sempre que “existe mais alegria no dar do que no receber” (Atos 20,35). E que é dando que se recebe. (São Francisco). Não vivam, queridos jovens, fechados em vós mesmos, em vossos interesses, planos e projetos.

Que o vosso amor e a vossa castidade sejam fecundos e, por isto, que o vosso amor aprofunde as suas raízes no húmus, no terreno fértil do Senhor. Perguntai-vos, como o Papa Francisco pergunta a todos os consagrados, se Jesus é ainda o centro, o vosso primeiro e único amor. Somente se ele ocupa o vosso coração podereis amar na verdade e na misericórdia cada pessoa que encontrareis no vosso caminho, pois aprendeste dele o que é o amor e como amar. Somente então sabereis amar em verdade, amar com a maiúsculo, porque tereis o mesmo coração, como afirma o Santo Padre na Carta aos consagrados.

Sim, tenham o coração repleto de Deus e nele entrarão todos os homens e mulheres que encontrareis no caminho. Tenham o coração repleto de Deus e o vosso será casto e fecundo ao mesmo tempo. Tenham o coração cheio de Deus e sereis Evangelho Vivo, e dareis fruto, e frutos abundantes.

Maria, mãe dos consagrados, volvei a todos os consagrados teus olhos misericordiosos e obtenhas de teu filho e Senhor nosso, o dom da fidelidade.

Maria, virgem feita Igreja, que nunca nos falte o vinho de um amor apaixonado por ti e por aqueles que encontraremos no nosso caminho.

Maria, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa do Espírito Santo, caminha conosco pelos caminhos da vida e obtenha-nos do altíssimo, onipotente e bom Senhor, o dom de fazer em cada momento qualquer coisa que ele diga.

Virgem dolorosa, cuja festa celebramos hoje, reza Mãe, por nós.

Fiat, fiat, amém, amém”

 

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