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Francisco: “Papa João XXIII e João Paulo II não tiveram vergonha da carne de Cristo”

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RV| 27.04.14| O Papa Francisco presidiu neste Domingo da Misericórdia na Oitava de Páscoa, 27 de abril, a missa de canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II na Praça São Pedro. A praça, a Via da Conciliação e demais ruas adjacentes ao Vaticano estavam lotadas de peregrinos que vieram de várias partes do mundo para participar desse evento histórico para a Igreja Católica.

Muitos fiéis dormiram em sacos de dormir espalhados pelas ruas e quando a Praça São Pedro foi aberta às 5h30 locais eles entraram para dentro da praça e esperaram o horário da celebração.

Vários fiéis participaram de vigílias de orações realizadas nas igrejas de Roma. Muitos passaram a noite em claro, cantando, rezando, fazendo adoração eucarística e se confessando. Muitos peregrinos acompanharam a missa de canonização de João XXIII e João Paulo II através de telões espalhados em vários pontos do centro da capital italiana. Mais de 500 cinemas de 20 países do mundo transmitiram ao vivo a cerimônia na Praça São Pedro.

O Papa emérito Bento XVI concelebrou com o Papa Francisco a missa de canonização de João XXIII e João Paulo II. Ao entrar no adro da Basílica de São Pedro, pouco antes da cerimônia, Bento XVI foi aplaudido pelos fiéis. Os peregrinos aplaudiram também o Papa Francisco quando foi ao encontro do Papa emérito para saudá-lo com um abraço.

“No centro deste domingo, que encerra a Oitava de Páscoa e que João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina, encontramos as chagas gloriosas de Jesus ressuscitado. Já as mostrara quando apareceu pela primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da Ressurreição. Mas, naquela noite, Tomé não estava; e quando os outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria”, disse o Papa Francisco no início de sua homilia.

“Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé; dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!». Se as chagas de Jesus podem ser de escândalo para a fé, são também a verificação da fé. Por isso, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis para crer em Deus: não para crer que Deus existe, mas sim que Deus é amor, misericórdia, fidelidade. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos: «pelas suas chagas, fostes curados»”, disse ainda o Santo Padre.

“João XXIII e João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado traspassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão, porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, de sua misericórdia, à Igreja e ao mundo. Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria”, frisou ainda o Papa Francisco.

Segundo o pontífice, “nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança viva», juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante». A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até a náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão”.

“Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade de fiéis, em Jerusalém, da qual nos falam os Atos dos Apóstolos. É uma comunidade onde se vive o essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.”

“E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante de si. João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhes deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja. Na convocação do Concílio, João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado. Este foi o seu grande serviço à Igreja; foi o Papa da docilidade ao Espírito”, sublinhou o pontífice.

“Neste serviço ao Povo de Deus, João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos vivendo um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu.”

“Que estes dois novos santos Pastores do Povo de Deus intercedam pela Igreja para que, durante estes dois anos de caminho sinodal, seja dócil ao Espírito Santo no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos das chagas de Cristo, a penetrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama”, concluiu o Papa Francisco.

Fonte: Rádio Vaticano

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