CEBs, romeiras do Reino no campo e na cidade

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Entrevista com Sérgio Ricardo Coutinho, assessor nacional das CEBs

A cidade de Juazeiro do Norte, a 548 km de Fortaleza (CE), receberá nos dias 7 a 11 de janeiro de 2014, o 13º Intereclesial de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Com o tema Justiça e Profecia a serviço da vida, e lema CEBs, romeiras do Reino no campo e na cidade, o encontro reunirá cerca de 3.500 pessoas representando mais de 80 mil comunidades espalhadas por todo o Brasil e convidados do exterior.

A programação prevê visitas às comunidades, celebrações, testemunhos, oficinas e plenárias que contarão com a participação de diversos assessores. No processo de preparação, uma equipe local apoiada pela Ampliada Nacional vem cuidando dos detalhes. Para saber mais sobre a preparação desse encontro e fazer uma avaliação sobre a caminhada das comunidades, entrevistamos o assessor nacional das CEBs, Sérgio Ricardo Coutinho dos Santos, professor de Ciências da Religião na Universidade Católica de Brasília, presidente do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina (Cehila) e assessor da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB.

Prof. Coutinho, como as CEBs estão se preparando para o seu 13º Intereclesial?

A preparação começou já em 2010 com reuniões da Ampliada Nacional em Juazeiro do Norte. A diocese de Crato acolheu a proposta e se organizou em etapas de formação tendo como motivação forte o Centenário da criação daquela diocese. Então uniram os dois acontecimentos, o Intereclesial e o Centenário. Ao longo das reuniões a Coordenação da Ampliada foi amadurecendo a temática e a dinâmica do evento como também a sua organização em sintonia com os Regionais. A preparação está sendo uma experiência muito rica. Mais do que a diocese do Crato, todo o Regional Nordeste 1 da CNNB assumiu o Intereclesial e suas dioceses estão mobilizadas com equipes para acolher os delegados. Os Regionais no Brasil já escolheram seus delegados nas dioceses. Nas comemorações dos 50 anos do Concílio vaticano II esse evento será um marco importante de uma Igreja que vê o leigo como sujeito eclesial, que tem opção pelos pobres e como ponto de partida a vida comunitária.

A Região do Cariri, com as figuras dos padres Ibiapina e Cícero é rico em religiosidade. Esse ambiente ajuda na realização do Intereclesial?

Ajuda porque resgata a ideia de Romaria, de pensar uma Igreja que caminha em busca da Terra Prometida. As figuras de Ibiapina e padre Cícero, sem esquecer os beatos, recordam uma Igreja simples, pobre, humilde, servidora, a caminho. Essa espiritualidade traz força para pensar uma Igreja dos pobres para os pobres, como o papa Francisco colocou. Há uma sintonia entre o que o papa Francisco recorda e o Intereclesial acontecendo nesse sertão nordestino de muita história, luta e presença de um catolicismo laical e, principalmente, lugar de devoção popular e espaço ideal para que as CEBs se encontrem.

Parece-me interessante também destacar, no momento da vinda do papa Francisco, um latino-americano da periferia do mundo, que tem muito a ver com a história das CEBs. Valeria a pena rever o vídeo de 2007, quando em Aparecida (SP), o então cardeal Bergoglio celebra ao lado de dom José Luiz Bertanha e mostra afinidade com as CEBs.

Justiça e profecia são duas palavras chaves no tema do 13º Intereclesial. Qual o motivo para essa escolha?

O último intereclesial (2009, Porto Velho – RO) teve como foco o meio ambiente, missão e ecologia. Ainda falta muita justiça no nosso país e as CEBs devem continuar sendo essa voz profética, que denuncia as injustiças que matam e exploram a vida. Nesse contexto entram as questões da justiça ecológica, as ligadas às minorias, a questão fundiária, essas grandes temáticas. É fundamental que as CEBs falem de justiça e profecia em defesa da vida. A justiça e a profecia estão voltadas para a vida, para que todos tenham vida e vida em abundância. As CEBs não querem perder esse foco de serem comunidades missionárias, mas também proféticas e que lutam pela justiça.

Na sua 51ª Assembleia Geral a CNBB retomou o tema de Aparecida sobre a conversão pastoral e renovação missionária. Agora, todos devem contribuir na reflexão sobre Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. Em que as CEBs podem ajudar?

Pensar uma paróquia que seja Rede de comunidades é também o desafio das CEBs. Nós temos muitas experiências de paróquias Rede de Comunidades de Base. Isso mostra que é possível. O documento vem em boa hora, em momento de conversão pastoral e isso supõe também a conversão das estruturas e uma delas é a paróquia. A ideia é que a paróquia não fique num modelo centrado na matriz exclusivamente voltada para os sacramentos, mas que se renove a partir de dentro. Nisso as CEBs podem contribuir por que mostram como organizar a Igreja a partir de comunidade de base. Para isso é preciso compreender as CEBs como um nível, não uma comunidade qualquer ou diferente. Ela é um nível de organização como um ponto de partida para se organizar a diocese. A paróquia, no seu nível, faria a mediação com a diocese. Esse documento coloca que as CEBs são uma forma de vida em comunidade. A nossa expectativa é que a CEBs se apropriem desse documento de estudo e façam suas contribuições.

Comunidade Eclesial é um conceito mais conhecido, mas o que significa de fato a expressão “de Base”?

O termo tem origem na Conferência de Medellín que entende “Base” como ponto mínimo de organização. No contexto político das décadas de 1970 e 80, o termo passou a ser entendido como a base da sociedade, das camadas populares, numa linguagem teológica e pastoral, os pobres que nas comunidades deixam de ser apenas objetos de assistência pastoral e caritativa para serem sujeito eclesial, leigo pobre que pode construir essa Igreja. Daí o nome “eclesiogênese”, a origem da Igreja que nasce da base. Base ganha também o sentido de oposição à cúpula.

Essa interpretação gerou muitas incompreensões e as CEBs, nesse contexto político, ficaram estigmatizadas e muitos preferem abandonar o termo e o modelo. Mas o Documento sobre a Paróquia chama a atenção para a necessidade das CEBs como um ponto de partida das comunidades. A própria CNBB, em 2010 escreveu uma carta onde chama a atenção para o seu valor o que validou o seu jeito de ser Igreja. Alguns preferem substituir “Base” por Pequena Comunidade Eclesial, entendendo que base remete a esse conflito. O momento atual é o de refazer esse mal entendido. É preciso abandonar os preconceitos e apostar nas CEBs como base de estruturação, uma forma de organizar a Igreja.

Temos no Brasil grandes questões como a fundiária, ecológica, indígena, dos quilombolas, violências, direitos humanos, entre outras. Como Igreja, as CEBs estão envolvidas no enfrentamento dessas causas?

Quando se coloca como tema central “Justiça e Profecia a serviço da vida” e lema “CEBs, romeiras do Reino no campo e na cidade” é justamente para mostrar que elas estão atentas a esses grandes temas. As CEBs não perdem de vista essa inserção na sociedade e querem enfrentar com discussões proféticas essas grandes questões que não saíram da pauta. Existem também outros interlocutores com os quais é preciso dialogar. Um dos temas, por exemplo, que as CEBs contribuíram muito foi com o Movimento Ficha Limpa, na coleta de assinaturas. Isso mostra que elas estão muito atentas a esses temas. Nos regionais muitas lideranças continuam dando testemunho com o martírio, isso mostra que as CEBs seguem firmes.

* Jaime Carlos Patias, da Equipe de Comunicação do 13º Intereclesial das CEBs.

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