Caso padre Henrique é considerado crime político

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Nesta terça-feira (27) depois de exatos 45 anos do assassinato do Padre Antônio Henrique Pereira Neto, a Comissão Estadual da Memória e Verdade de Pernambuco apresentou o relatório oficial sobre o caso e concluiu que houve crime político. “O assassinato do Padre Antônio Henrique foi, eminentemente, um crime político”, destacou o documento.

A conclusão da investigação contrariou versões oficiais defendidas na época do assassinato, que diziam que se tratava de um “crime comum, supostamente cometido por toxicômanos, sem motivação política”. “O crime foi perpetrado por agentes do Estado de Pernambuco, em conluio com civis integrantes da chamada extrema direita, com o desiderato de aterrorizar, amedrontar e coibir o inconteste foco de resistência ao regime militar então exercido por parte considerável da Igreja Católica no Estado de Pernambuco, sob a liderança do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara”, apresentou o relatório.

Os detalhes do relatório do Volume 2 do Caderno da Memória e Verdade da Comissão foram apresentados por Henrique Mariano, secretário-geral e relator do caso, e Fernando Coelho, coordenador-geral da comissão, durante cerimônia realizada na Capela São José dos Manguinhos, com a presença do Arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, parlamentares, entidades religiosas, representantes da sociedade civil entre outras autoridades.

Reinstalação da Comissão Justiça e Paz

Na cerimônia, dom Fernando Saburido anunciou a reinstalação da Comissão de Justiça e Paz, instituída por Dom Helder em 03 de março de 1968. Na época, o grupo foi defensor de presos políticos e perseguidos pela ditadura militar. Para presidir a Comissão, o arcebispo nomeou o bispo emérito de Palmares, dom Genival Saraiva de França.

Padre Henrique

Padre Henrique Natural da cidade do Recife (PE), o primogênito dos doze filhos do casal José Henrique Pereira da Silva Neto e Isaíras Pereira da Silva (falecidos em 1972 e 2003, respectivamente) nasceu na manhã do dia 28 de outubro de 1940, recebendo o nome de Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, em homenagem ao avô paterno. Foi matriculado pela primeira vez no Grupo Escolar Martins Júnior, no bairro da Torre. Posteriormente, foi para o Ginásio da Madalena onde cursou todo o primeiro grau.

Em 1955, com 15 anos, matriculou-se no Colégio Salesiano para o Curso Cientifico (atualmente Ensino Médio) onde estudava no período noturno. Pela manhã exercia atividade de office boy no Citibank. Aos 16 anos ingressou no Seminário Menor – Seminário da Imaculada Conceição –, no bairro da Várzea, no Recife. Em 1961 estudou nos Estados Unidos, no Mount Saint Bernard Seminary, em Dubuque, Iowa. Retornou para o Brasil em janeiro de 1962.

Após nove anos como seminarista, foi ordenado sacerdote, no dia 25 de dezembro de 1965, aos 25 anos de idade, pelo então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, na Igreja da Torre, no Recife. Logo após a ordenação foi convidado para ser assessor de Dom Helder Câmara e trabalhar na Pastoral da Juventude, sendo orientador espiritual de jovens universitários e secundaristas. Aberto aos tempos modernos, não usava batina, salvo em cerimônias de ritual católico.

Na vida religiosa se dedicava aos jovens. Tratava de assuntos que interessavam à juventude, como o conflito de gerações e as drogas, procurando despertar uma visão mais humana e consciente da sociedade. Como coordenador da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Olinda e do Recife participou de encontros juvenis em âmbito diocesano, regional, nacional e internacional.

No seu trabalho com jovens também mantinha contato com estudantes cassados e destacava-se por ser um grande opositor aos métodos de repressão utilizados pelo Regime Militar, o que lhe rendeu várias ameaças de morte.

Na noite de 26 de maio de 1969, depois de participar de uma reunião com grupo de jovens católicos, no bairro de Parnamirim, foi sequestrado numa rural verde escura. Seu corpo foi encontrado, na manhã do dia seguinte, num matagal na Cidade Universitária, com marcas de espancamento, queimaduras, cortes profundos por todo o corpo e ferimentos produzidos por arma de fogo.

O assassinato causou grande revolta e comoção. O enterro reuniu milhares de pessoas em um cortejo que saiu da Igreja do Espinheiro para o Cemitério da Várzea. A caminhada foi interrompida duas vezes pela polícia devido a faixas de protesto que os estudantes levavam. Uma delas, conduzidas por Umberto Câmara Neto, líder estudantil, dizia: “A Ditadura Militar matou o Padre Henrique”. Retiradas as faixas, a multidão fez todo o percurso cantando o hino “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo Irmão”.

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