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A profecia da Vida Religiosa retoma Concílio Vaticano II

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 Por Jaime C. Patias 
08 / Abr / 2015 09:11

“O Congresso Nacional da Vida Consagrada realiza-se na alegria e na esperança de novas respostas a partir do projeto teológico-pastoral do papa Francisco”, afirmou padre Paulo Suess, em conferência que abriu a programação do evento nesta terça-feira, 7. O evento reúne em Aparecida (SP), mais de 2 mil religiosos e religiosas de todo o Brasil para refletir sobre a identidade da Vida Religiosa Consagrada.

Padre Paulo Suess, que é assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) refletiu sobre as cartas “Alegrai-vos” e “Perscrutai”, enviadas aos religiosos e religiosas pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

“Como viver o carisma de cada comunidade, segundo a vontade de Deus e as necessidades do mundo, na unidade do Espírito Santo e em comunhão com a Igreja?” Essa é, segundo o teólogo, a pergunta essencial do Ano da Vida Consagrada. Isso porque, levanta questões sobre a identidade do carisma, a vontade de Deus, o sentido da vida para a humanidade sofrida e a unidade eclesial na diversidade do Espírito.

Suess explicou que, essa temática força a busca de vestígios da vontade de Deus, não nas nuvens, mas na memória histórica de “peregrinos vigilantes”, na visão de “místicos militantes”, que exigem coragem profética e esperança.

“Faz muitos anos que procuramos decifrar as crises da Vida Religiosa: a crise da identidade, a crise vocacional, o choque das mentalidades em nossas casas, a crise causada pelo envelhecimento, a crise das nossas obras, a crise econômica e psicológica. Mas quantas vezes já morremos no decorrer da história, fomos perseguidos por regimes políticos por causa das nossas virtudes e dos nossos pecados? Quantas vezes a Vida Consagrada já ficou um ano debaixo da terra, como a cigarra, e voltou de novo revigorada, cantando ao sol?”, perguntou o assessor. A falta de atratividade da Vida Religiosa tem duas causas opostas: “a primeira, porque é apenas uma cópia amarelada do mundo e não um sinal de contradição; a segunda, porque a nossa vida é realmente um sinal de contradição, um viver no mundo sem ser do mundo”, complementou Suess.

Fidelidade dinâmica

Em sua Carta por ocasião da inauguração do Ano da Vida Consagrada, em 30 de novembro de 2014, o papa Francisco afirmou: “Graças ao Concílio, de fato, a Vida Consagrada empreendeu um fecundo caminho de renovação, o qual, com as suas luzes e sombras, foi um tempo de graça, marcado pela presença do Espírito” e, segundo João Paulo II, pela “fidelidade dinâmica à própria missão”.

Padre Paulo Suess destacou ainda que, o “dom de si” acontece pela encarnação em realidades concretas. “O papel essencial da Vida Consagrada deve ser considerado à luz do mistério da encarnação no mundo. Cristo não é apenas aquele que chama na diversidade do Espírito Santo ao seguimento, mas é também e antes de tudo Aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10,36): “A proximidade e o encontro, são duas modalidades através das quais, Deus mesmo se revelou na história até a Encarnação”.

Segundo o assessor, a caracterização da Vida Consagrada como “sinal profético” é um fenômeno do tempo pós-conciliar. “Deve ser compreendido como consequência do testemunho de tantas religiosas e religiosos no continente latino-americano que, na esteira de Medellín, levantaram a sua voz pela causa do Reino. Profetas contextualizam a palavra de Deus nos ombros dos apóstolos”, disse o teólogo para recordar perseguidos por causa de seu caráter profético. “Figuras como, Rodolfo Lunkenbein e Irmã Genoveva, dom Pedro Casaldáliga e Irmã Dorothy, dom Luís Cappio, Irmã Alberta, dom Erwin Kräutler e todos os sobreviventes da grande aflição” (cf. Ap 7,14).

Na sequência, Paulo Suess trouxe mais um pensamento do papa Francisco. “Os religiosos são profetas. […] Na Igreja, os religiosos são chamados em particular a serem profetas que testemunham como Jesus viveu e que anunciam como o Reino de Deus será na sua perfeição. Um religioso nunca deve renunciar à profecia”.

Em suas colocações recheadas de documentos e citações, Paulo Sues mostrou que a profecia da Vida Religiosa retoma as reflexões do Vaticano II. Contudo, o mesmo Concílio questionou radicalmente a Vida Consagrada em sua coerência com a palavra de Deus e sua relevância para os que “estão cansados e sobrecarregados”. Segundo ele, o Vaticano II representou uma “virada popular” onde a Igreja e a Vida Consagrada dirigiram seus olhares aos pobres.

“Como inserir na dinâmica histórica da cultura contemporânea e nas culturas tradicionais o seguimento despojado, os conselhos evangélicos, o retorno às fontes fundacionais, o discernimento entre a conformação alienante e a adaptação superficial ao mundo, e do distanciamento deste mundo em nichos de bem-estar espiritual? Como inserir a essencialidade da missão e a saída às periferias?” questionou o teólogo.

Na opinião de Paulo Suess, diante dos desafios, o papa Francisco precisa da Vida Consagrada para dar continuidade a seu projeto de Igreja. Isso é demonstrado quando afirma: “Vocês da Vida Consagrada são os protagonistas convertidos da conversão da própria Igreja da qual também fazem parte, de uma Igreja muitas vezes sem saída, para uma “Igreja em saída” (EG 20ss).

Por fim, o conferencista recordou sete imperativos formulados pelo papa Francisco na Evanguelii Gaudium, aplicáveis à vida consagrada: “Não deixemos que roubem nosso entusiasmo missionário!” (EG 80).“Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!” (EG 83). “Não deixemos que nos roubem a esperança!” (EG 86). “Não deixemos que nos roubem a comunidade!” (EG 92). “Não deixemos que nos roubem o Evangelho!” (EG 97). “Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!” (EG 101). “Não deixemos que nos roubem a força missionária!” (EG 109).

A programação do primeiro dia encerrou com uma missa presidida pelo cardeal dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida. O Congresso se estende até sexta, dia 10.

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