No dia 28 de fevereiro de 2017 realizar-se-á a 40ª Romaria da Terra com o lema: “Terra de Deus, terra de irmãos”. O local escolhido é o Assentamento Nossa Senhora Aparecida, área 09 – Fazenda Annoni – RS 324, km 174, município de Pontão, RS. A romaria é preparada pela Comissão Pastoral da Terra e a Arquidiocese de Passo, em particular pela Paróquia Santo Antão de Pontão.
São quarenta anos de Romarias da Terra. Já é um longo caminho percorrido. É necessário olhar para trás com um olhar de gratidão para ver e colher os frutos. Mostrar esta caminhada é importante para toda sociedade. Quarenta anos de romarias também é uma provocação para olhar criticamente o caminho percorrido. Alegrar-se com os acertos, as causas defendidas e assumir a responsabilidade dos erros. Uma justa avaliação permite projetar com esperança o futuro.
A romaria como tal é expressão de uma realidade mais ampla, a questão agrária. A história da humanidade está marcada pela conquista de terras, pela ampliação de territórios, de projetos de ocupação dos territórios conquistados. Um rápido olhar sobre formação do território brasileiro comprova isso. A ocupação, a destinação e o uso das terras fazem parte dos projetos governamentais brasileiros, desde o modelo das sesmarias até a legislação atual. Nesta questão existem várias visões, algumas divergem a tal ponto de se contraporem. Geram conflitos, acalorados debates e, em algumas ocasiões, resultam em conflitos violentos com agressão física e mortes. A questão agrária está em pauta por ser polêmica e porque os encaminhamentos dados ainda não resolveram adequadamente o problema.
O local escolhido para a romaria foi a antiga Fazenda Annoni, hoje dividida em sete comunidades, com 423 famílias assentadas. Este local tem um valor simbólico. Pretende mostrar que os assentados, com muita luta e suor, adquiriram dignidade de vida. As conquistas de moradia, atendimento de saúde, educação e diversas formas de produção testemunham que “hoje, todo mundo tá vivendo bem”, emenda um assentado.
O lema da 40ª Romaria: “Terra de Deus, Terra de Irmãos” será o norte das reflexões, da Celebração Eucarística, das orações, dos cânticos. Afinal, a romaria nasce da fé e se inspira na história do Povo de Deus que foi escravizado e depois liberto. Em seu êxodo ruma a uma terra prometida onde corre lei e mel. A tradição bíblica nos ensina que a terra foi dada a todas as criaturas como dom de Deus. Um presente para o seu sustento, para a geração e a multiplicação da vida. Ninguém é capaz de criar do nada um palmo de terra, uma semente, um copo de água. O ser humano é capaz para cultivar, plantar e usar a terra. Pensando bem, só se consegue usar a terra porque existem todas as condições favoráveis para tal: o solo, o calor, a luz, a água, o ar, as sementes. Basta cultivar e corrigir o solo, plantar na época certa, escolher as melhores sementes, cuidar da plantação e fazer a colheita.
Com são Francisco de Assis cantamos o “Cântico das Criaturas”: “Louvado sejas meu Senhor, por nossa irmã e mãe terra que nos sustenta e governa e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas”.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
24 de fevereiro de 2017