“Sou otimista em relação à Vida Consagrada”, diz Secretário Nacional da CRB

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Por Rosinha Martins | 14.07.2013 | O Secretário Nacional da CRB – Conferência dos Religiosos do Brasil, biblista, membro da Equipe Bíblica da entidade, frei Moacir Casagrande, OFMcap, falou sobre a Assembleia Geral Eletiva que começa nesta segunda, 15, em Brasília. O frei ressaltou a importância do tema e do lema escolhidos pela Vida Religiosa, e falou sobre seu trabalho como secretário na diretoria cessante e suas perspectivas em relação à Vida Consagrada.

Porque trabalhar esse tema “Vida Religiosa hoje, identidade e esperanças” na Assembleia Geral da Vida Religiosa?

Frei Moacir – Nós escolhemos este tema depois de uma longa discussão entre todas as equipes de reflexão da CRB e também com as Diretorias Regionais e chegamos à conclusão que há um desafio que sempre volta. Não é a primeira vez que a identidade entra no tema de uma Assembleia Geral Eletiva. A identidade da Vida Religiosa é um processo que precisa ser trabalhado constantemente; a cada mudança de tempo é necessário que se reveja o que significa o fundamento da VR para não se deixar levar pelos acontecimentos transitórios, que são interessantes, mas não são determinantes, e a esperança, porque a Vida Religiosa tem como carisma a esperança. Diz-se que o carisma da Vida Consagrada é viver hoje o amanhã. Ora, trazer o futuro para o presente é um desafio muito grande e é um desafio que nós nos propomos a partir da nossa identidade carismática, então o tema está aí. Queremos olhar um pouco isso: dentro do mundo presente como que a gente se situa sendo pessoas do hoje, mas não sendo engolidas pelo hoje e apresentando o amanhã. Mas não o amanhã de amanhã; mas um amanhã do futuro que permanece. Por isso tratamos desse tema.

O que teria a ver o tema com a dimensão eletiva da Assembleia?

Frei Moacir – O tema sempre tem algo a ver com dimensão eletiva da Vida Religiosa, porque nós queremos encontrar pessoas que tenham a consciência da missão que significa acompanhar ou coordenar a Vida Religiosa do Brasil. Nós precisamos caminhar, avançar na dimensão que é própria do evangelho, que é própria aos desafios que o mundo constantemente nos apresenta, especialmente hoje, que há certo pessimismo em relação ao futuro, há uma ideia de que tudo acaba amanhã ou hoje mesmo, e não é assim. O Evangelho nos aponta para outra direção. Então, as temáticas que nós vamos trabalhar, especialmente no dia 17, são várias, mas dentro da dimensão do capítulo 24 do Evangelho de Lucas e elas têm muito a ver com o que nós queremos, o rumo que queremos que a Vida Religiosa do Brasil tome. Por isso a nossa abordagem.

Os religiosos discutirão durante a Assembleia sobre “sinais que a Vida Religiosa não reconheceu ao longo do caminho”, baseando-se no lema. Porque e que sinais são esses?

Frei Moacir – Vamos trabalhar sobre isso para que tomemos consciência de que os sinais de Deus sempre estiveram presentes, mas a gente não soube ler porque estávamos focados em outras dimensões que não são fundamentais. Outra coisa que se insiste muito é na humanização porque o mundo caminha para uma maquinização e nós queremos uma humanização que, não somente nós queremos, mas que todos querem; estamos sendo substituídos pelas máquinas e nos tornando absolutamente dependentes das máquinas e não sabemos, com isso, ser humanos. Partimos para o relativismo, para o mecanicismo e esquecemos que há uma dimensão que é anterior e será posterior a essa e que essa dimensão passa.

Então existe uma tendência da Vida Religiosa a entrar nesse mundo mecanicista e desumanizar-se?

Frei Moacir – Existe. Isso está mais do que provado. Inclusive se olharmos para as nossas casas e congregações, vemos que esse instrumento está sendo mal usado, idolatrado e esse é o grande problema.

A seu ver isso afeta a vivência dos valore evangélicos?

Frei Moacir – Afeta quando você usa uma coisa ao inverso daquilo que é a finalidade dela. Se eu absolutizo os meus valores também estou me afetando. Preciso entender que existe uma dinâmica e essa dinâmica- infelizmente está sendo deixada de lado – é dinâmica da comunhão, da solidariedade, do encontro e a gente está na dinâmica do individualismo, do absolutismo, do exibicionismo e outras coisas mais. E usamos dessas máquinas porque nos ajudam a ganhar tempo, espaço e pensamos que somos todo-poderosos e não é verdade. Acabamos nos escravizando por aquilo que estamos usando.

Porque esse lema dos discípulos de Emaús? O que essa passagem bíblica tem a ver com a Vida Religiosa?

Frei Moacir – O capítulo 24 de Lucas é um texto de uma profundidade inesgotável. Toda Palavra de Deus é, mas alguns textos são de uma riqueza imensa e é o que nós trabalhamos em duas Assembleiasinsistindo no avanço “de olhos fixos em Jesus” e nós percebemos que precisamos fazer as conquistas e mantê-las para poder alargar os seus horizontes. E permanecer com Jesus é fundamental; permanecer não é só estar com, permanecer é favorecer os processos que levam à comunhão com Jesus. Pedimos que Ele esteja conosco e nós também queremos estar com ele, não simplesmente para ficarmos um olhando para o outro na maior satisfação, mas, um olhando para o outropara o bem de toda a criação, porque Jesus não veio só para mim e nem eu só para Ele. Nós somos para a causa do Reino de Deus.

O senhor ajudou a escrever alguns livros como subsídios para formação dos Religiosos do Brasil, como biblista. Qual o senhor mais gostou?

Frei Moacir – Eu tenho trabalhado com a equipe bíblica há três Assembleias atrás e a frase motora delas tem sempre passado por nossas mãos. Eu tenho gostado muito do escrito “diga a esta geração que avance” que foi uma provocação muito grande, inclusive teve repercussão internacional, o texto saiu em oito línguas…Mas do trabalho da equipe bíblica tenho gostado muito daquele livro “a perspectiva do tesouro” do evangelho de Mateus, um livro que muitos ainda não conhecem e que tem uma riqueza profunda. Estamos trilhando o caminho do tesouro e um tesouro que nos torna tesouros. Depois, esse trabalho sobre o Apocalipse que é muito profundo, muito sério e pouco trabalhado pela Vida Religiosa. Tenho pregado vários retiros com o tema do Apocalipse e esse tema tem encantado várias pessoas porque é um mundo a ser descoberto e é um mundo da revelação profunda de Deus para nós.

O que significou para o senhor esse período como membro da Diretoria Nacional da CRB?

Frei Moacir – Trabalhar na diretoria da Vida Religiosa do Brasil, pela terceira vez, tem me enriquecido muito porque posso ver todas as facetas que a Vida Religiosa está vivendo e todos os desafios dos mais diferentes ângulos que estão se processando, além de ter uma oportunidade grande para olhar a Vida Religiosa do mundo no seu conjunto a partir da conferência dos Religiosos do Brasil.

Que avaliação o senhor faz da Vida Religiosa Consagrada com essa visão panorâmica que o trabalho na Diretoria possibilitou? O que o senhor viu de belo e bom na vida dos consagrados e das consagradas?

Frei Moacir – Um primeiro elemento é a inquietude. Existe muita gente inquieta na Vida Religiosa em relação ao presente e ao futuro. Essa inquietude é muito boa porque faz com que as pessoas saiam da situação que estão e busquem uma resposta. Outro aspecto é o questionamento em relação aos processos formativos da Vida Consagrada,porque as pessoas, que entram para a Vida Religiosa, vêm buscar outras dimensões e nós, às vezes as oferecemos, outras vezes, não. Então o questionamento é a busca de uma resposta mais adequada a isso. Vejo, por outro lado, certas acomodações que dificultam bastante o processo, porque há pessoas deixando de ser agentes e se tornando pacientes da caminhada, mas sou otimista em relação àVida Consagrada porque a profecia não é de todos, mas de alguns e, estas pessoas são altamente significativas, e nós confiamos que, por elas,o espírito de Deus possa falar muito alto nos dias de hoje.

 

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